14 outubro 2019

Repórter mostra como opera o “exército” de Bolsonaro no WhatsApp


EM CASO DE MARASMO, BASTA EVOCAR LULA E O PT, E ENTÃO OS DEDOS SE MOBILIZAM EM FRENÉTICA PRODUÇÃO DE IMPROPÉRIOS E MENTIRAS, COMO UMA CAPA INVENTADA DA THE ECONOMIST


Nesse universo paralelo, Bolsonaro é o estadista incorruptível, o filho de Lula está em todas as falcatruas e o STF virou saco de pancadas

“BOMBA. Olha aí o deputado Glauber Braga (PSOL-RJ) recebendo propina, ele mesmo que chamou o Ministro Sérgio Moro de ladrão. Divulguem sem dó pra esse bandido safado perder o mandato. Isso a Globo ainda não mostrou é em primeira mão. Divulguem (sic).” A mensagem, sempre esse primor no trato com a língua pátria, foi postada às 8 horas e 22 minutos da terça-feira 8 no grupo de WhatsApp MG MILITANTES B17, encaminhada de outro grupo ou conversa privada. Seguiu-se então a prova do crime: o vídeo que mostra um senhor de meia-idade, flagrado pela câmera escondida, a enfiar maços de notas em sua farta cueca. Nada a ver com o deputado federal do PSOL. “Não tem nem semelhança”, comentou o também deputado e colega de partido Marcelo Freixo ao ver a fake new. “Esses caras não têm vergonha.” A postagem foi feita por uma pessoa que se identifica como Irany, DDD 37, interior de Minas Gerais. Se verdadeiro o seu perfil, trata-se de uma senhora já em idade avançada e cujo status do aplicativo descreve como “De bem com a vida”. A frase vem acompanhada pelo emoji do rostinho com corações a saltar dos olhos.
Desde o dia 29 de setembro, este repórter encontra-se infiltrado em dois grandes grupos bolsonaristas no WhatsApp – o MG MILITANTES B17 e o BRASIL BOLSONARISTA RO, de Rondônia. O ingresso foi feito através de um “link de convite” disponibilizado na internet em lista onde constavam vários outros, separados por estados e capitais. Em 16 de setembro, pouco antes de surgirem tais acessos, o “filósofo” Olavo de Carvalho sugeriu organizar a militância. “A coisa mais urgente no Brasil é uma militância bolsonarista organizada”, disse o Napoleão do hospício em transmissão no Facebook. “Note bem, eu não disse militância conservadora, nem militância liberal, nem coisa nenhuma. Eu falei militância bolsonarista. A política não é uma luta de ideias, é uma luta entre pessoas e grupos.”
Na descrição do grupo BRASIL BOLSONARISTA RO, lê-se: “Estamos organizando um Exército Virtual de apoio ao nosso presidente Jair Bolsonaro. Para isso, estamos organizando grupos de compartilhamento de notícias Pró-Bolsonaro por estado e por cidade. Os grupos serão extremamente focados e com o único objetivo de espalhar pela internet as notícias que a extrema imprensa não mostra”. Seu idealizador apresenta-se como Pablo Carvalho, DDD 63. “Faço parte de um grupo de brasileiros, patriotas, direitistas e conservadores de Palmas, que conta com a ajuda e colaboração de vários outros em todo o Brasil”, escreveu em mensagem do dia 26 de setembro. “Informo que esta é apenas a primeira fase desta missão. Um tsunami em apoio ao Presidente Jair Bolsonaro vai tomar de vez o Brasil (…). Compartilhe com o máximo de contatos e grupos todas as matérias positivas que você receber pelos grupos Brasil Bolsonarista. Todas são checadas e provêm de fontes confiáveis.”
Na terça-feira 8, o WhatsApp admitiu pela primeira vez que candidatos utilizaram sistemas automatizados para promover disparos em massa de mensagens na última eleição, o que é proibido pelo TSE. “Na eleição brasileira do ano passado houve a atuação de empresas fornecedoras de envios maciços de mensagens, que violaram nossos termos de uso para atingir um grande número de pessoas”, disse Ben Supple, gerente de políticas públicas e eleições globais do WhatsApp, em palestra no Festival Gabo, na Colômbia. No mesmo evento, Supple condenou os grupos públicos do aplicativo acessados por links e que distribuem conteúdo político, como é o caso dos dois visitados por CartaCapital. “Vemos esses grupos como tabloides sensacionalistas, onde as pessoas querem espalhar uma mensagem para uma plateia e normalmente divulgam conteúdo mais polêmico e problemático. Nossa visão é: não entre nesses grupos grandes, com gente que você não conhece. Saia desses grupos e os denuncie.” (...)
*CLIQUE AQUI para seguir lendo esta - mais que reveladora - postagem investigativa do jornalista Fred Melo Paiva, da revista Carta Capital

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