22 novembro 2023

Milei é um Paulo Guedes histriônico, não um Bolsonaro

Seu objetivo são os grandes negócios com estatais argentinas e, especialmente, com a exploração das recém descobertas jazidas de óleo e gás.


Por Luís Nassif*

Vamos a algumas explicações sobre a Argentina e o fenômeno Milei, a partir das informações preciosas trazidas pelo cientista político Bruno Lima Rocha.

O primeiro ponto é que o Javier Milei maluco da campanha é um personagem criado. A pessoa física por trás dele graduou-se em Economia pela Universidade de Belgrano em 1993. Após a faculdade, trabalhou como pesquisador no Instituto Argentino de Mercado de Capitales (IAMC) e como professor universitário. Em 2005, obteve um doutorado em Economia pela Universidade de Belgrano.

Em 2009, Milei fundou a empresa de investimentos Milei Capital. A empresa foi bem-sucedida e Milei acumulou uma fortuna pessoal estimada em US$ 100 milhões.

Trabalhou durante anos, também, como executivo de um dos maiores grupos empresariais argentinos, que controla um dos três canais nacionais de televisão.

Ou seja, é um Paulo Guedes mais histriônico, e não um Jair Bolsonaro mais esperto. Como tal, seu objetivo são os grandes negócios com estatais argentinas e, especialmente, com a exploração das recém descobertas jazidas de óleo e gás.

O caminho que poderá trilhar para a dolarização passa por uma hiperinflação. Sua ideia é que a paridade peso x dólar seja de 10.000. Hoje, o dólar vale 355 pesos. Portanto, apenas uma hiperinflação faria o peso chegar à paridade pretendida.

Mas como garantir dólares suficientes para uma economia complexa como a Argentina? O único caminho seria a securitização dos ativos argentinos, incluindo as reservas de gás e petróleo. E ainda está pendente a dívida argentina com o FMI, de US$ 44 bilhões, contratada ainda no governo Macri.

O modelo significará a destruição final da indústria argentina – que, hoje em dia, representa 23,6% do PIB, bem mais do que a do Brasil, destruída por 20 anos de políticas fiscais e monetárias irresponsáveis.

Segundo o próprio Milei, serão 6 meses iniciais de inferno, antes de se atingir o céu. Nesse intervalo, estão sendo estimuladas brigadas de jovens do interior para investir contra os críticos e contra o sistema.

O que pode conter essa loucura é a falta de maioria no Congresso e nas províncias. Apesar da derrota ampla de Sérgio Massa, o peronismo ainda domina a maioria absoluta das províncias. No entanto, uma das propostas de Milei é acabar com um fundo de compensação, que permite direcionar recursos das províncias mais ricas para as mais pobres. Esse movimento poderá tornar governadores reféns do governo.

Enfim, há um roteiro de terror pela frente, com final ainda imprevisível.

*Jornalista - via Jornal GGN

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