O que ocorre hoje na Alemanha e em outros países, como o Brasil, é importante para diferenciar o que é antissemitismo do antissionismo, oposição à ideologia política sionista
Por André Lobão*
Por participar do Congresso sobre a Palestina, que estava programado para acontecer em Berlim, entre os dias 12 e 14 de abril, que foi suspenso pela polícia alemã sob alegação de ser um evento antissemita, depois de algumas horas após ser iniciado, e de ter publicado em seu blog o discurso que faria no evento, o economista grego Yanis Varoufakis teve emitida pelo Ministério do Interior da Alemanha uma proibição de visitar o país.
Para conferir o discurso na íntegra, clique aqui.
“O Ministério do Interior alemão emitiu uma ‘Betätigungsverbot’ contra mim, uma proibição de toda a atividade política”, escreveu. Não é só uma proibição de visitar a Alemanha, mas estende-se à participação por Zoom. – explicou Varoufakis que já foi ministro da Economia da Grécia. O economista está proibido de enviar mensagens e se comunicar com cidadãos alemães ou de entrar na Alemanha sob o risco de ser processado e preso por entrar no país.
Desde 10 de outubro do ano passado, o governo alemão de Olaf Scholz tem proibido mobilizações públicas que critiquem o estado de Israel, por considerá-las antissemita.
A manipulação do antissemitismo também aplicada por governadores bolsonaristas
O que ocorre hoje na Alemanha e em outros países, como o Brasil, é importante para diferenciar o que é antissemitismo, que é o ódio aos judeus e árabes, do antissionismo, oposição à ideologia política sionista. Há neste contexto, uma ação que visa instrumentalizar a propaganda do estado de Israel em várias partes do mundo como forma de dar legitimidade ao genocídio sofrido pelo povo da Palestina.
Esse é um grande debate que coloca em lados opostos, como não deveria deixar de ser, sionistas e antissionistas. De um lado existe uma definição promovida pelo lobby israelense ao redor do mundo, que tem como referência o indicativo do International Holocaust Remembrance Aliance (IHRA) que versa sobre 10 pontos que classificam práticas antissemitas, dentre esses pontos está especificado criticar o estado de Israel e comparar suas ações ao nazismo. – “Negar ao povo judeu o seu direito à autodeterminação, por exemplo afirmando que a existência do Estado de Israel é um empreendimento racista”; “Efetuar comparações entre a política israelita contemporânea e a dos nazis; e “Considerar os judeus coletivamente responsáveis pelas ações do Estado de Israel”.
Essa definição foi adotada a partir de 26 de maio de 2016, adotada por 31 países integrantes da Aliança Internacional, incluindo a Alemanha. Aqui no Brasil, em março, último, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), assinou a adesão da definição de antissemitismo da IHRA. Cidades como Rio de Janeiro e São Paulo também aderiram. No último dia 20/05, foi a vez do governo do estado de Roraima que aderiu a iniciativa, conforme anunciado em cerimônia promovida pelo governador Antônio Denarium (PP/RR), mais um ligado ao bolsonarismo a aderir.
Veja cada um dos pontos clicando aqui.
O fato é que essas diretrizes estão sendo utilizadas para o silenciamento de quem critica Israel. Há possibilidade de não se fazer essa relação quando se observa o que acontece hoje nos territórios palestinos ocupados, diante de tantas atrocidades cometidas pelo exército de Israel?
Por outro lado, há uma definição da The Jerusalem Declaration On Antisemitism (JDA) que é utilizada pelos antissionistas, assinada inicialmente por 210 acadêmicos, contando hoje com cerca de 350 signatários. A íntegra do documento pode ser acessada aqui.
O documento é um conjunto de 15 diretrizes que fornecem orientações detalhadas para aqueles que procuram reconhecer o antissemitismo, a fim de elaborar respostas. Foi desenvolvido por um grupo de estudiosos nas áreas da história do Holocausto, estudos judaicos e estudos do Médio Oriente para enfrentar o que se tornou um desafio crescente: fornecer orientações claras para identificar e combater o antissemitismo e, ao mesmo tempo, proteger a liberdade de expressão.
Coletivo Vozes Judaicas pela Libertação critica governo alemão
O cofundador do Coletivo Vozes Judaicas por Libertação, Shajar Goldwaser é bem crítico às ações do governo alemão para impedir manifestações de apoio à causa palestina e no silenciamento daqueles que denunciam as atrocidades do estado de Israel.
“Enquanto a Alemanha persegue esses supostos discursos de ódio contra Israel, se cala completamente diante das declarações genocidas do governo israelense. Portanto, há uma clara tomada de posição, mostrando uma parcialidade na hora de definir o que é crime de ódio e o que é antissemitismo”, afirma o ativista.
Shajar Golwaser acredita que o governo alemão revela uma contradição histórica no atual contexto, deixando de lado os compromissos assumidos no passado pela dignidade humana, após a Segunda Guerra Mundial cometeu crimes contra à humanidade.
“O país que se comprometeu com o ‘nunca mais”, hoje se vê em uma narrativa que promove o genocídio na Faixa de Gaza, e acusa aqueles que a criticam do crime que a própria Alemanha cometeu no passado. Ou seja, passando pano e apoiando o que Israel está fazendo”, critica.
Por fim, o líder do coletivo lembra que o governo alemão vende armamentos, e que por isso foi processado pela Nicarágua na corte Internacional de Justiça, por cumplicidade no genocídio que acontece na Faixa de Gaza.
*Fonte: https://revistaforum.com.br/
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