Centro de pesquisa europeu afirma que influência do El Niño foi secundária e diz que eventos extremos vão continuar
Por Murilo Pajolla*
Um estudo do consórcio de cientistas ClimaMeter, divulgado nesta sexta-feira (10), aponta que as chuvas responsáveis pelas inundações devastadoras no Rio Grande do Sul foram intensificadas pelas mudanças climáticas provocadas pela atividade humana.
Os especialistas destacaram que, enquanto fenômenos naturais, como o El Niño, podem ter tido um papel secundário na intensificação das chuvas, o impacto das mudanças climáticas foi significativamente maior.
Os cientistas do ClimaMeter fizeram uma comparação com chuvas em décadas anteriores e concluíram que as alterações do clima desempenharam um papel crucial na potencialização das tempestades, maior do que influência isolada do El Niño.
O ClimaMeter é um projeto de investigação financiado pela União Europeia e pelo Centro Nacional de Investigação Científica (CNRS) da França. O estudo completo está disponível no site oficial. A metodologia utilizada na análise está explicada neste link.
"Os achados do ClimaMeter destacam que as inundações no Rio Grande do Sul foram intensificadas pela queima de combustíveis fósseis, não pelo El Niño”, ressaltou Davide Faranda, pesquisador do Instituto Pierre-Simon Laplace de Ciências do Clima e um dos autores do estudo.
''Eventos extremos continuarão enquanto usarmos combustíveis fósseis"
Outra autora do estudo, a brasileira Luiza Vargas, formada pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, declarou que a infraestrutura de proteção contra chuvas extremas foi insuficiente no estado.
“Há uma clara necessidade de investimentos em infraestrutura e planos de contingência de emergência para mitigação de tais eventos extremos, pois espera-se que aumentem sob as mudanças climáticas", apontou Vargas.
Também co-autor do relatório, Erika Coppola, do Abdus Salam International Centre for Theoretical Physics, na Itália, afirmou que a intensidade de eventos extremos no Sudeste da América do Sul continuará a aumentar até o cessar de emissão de combustíveis fósseis.
"A mensagem é clara e nossos resultados nos direcionam para a mesma direção, identificando o componente humano como responsável por isso. Não há tempo para esperar por ações, dada a alta vulnerabilidade da região a eventos climáticos extremos e seus impactos na segurança alimentar, infraestrutura e saúde”, pontuou Coppola.
Mais de 300 mil desalojados
O Rio Grande do Sul contabiliza até o momento 337.116 pessoas desalojadas em decorrência das enchentes causadas pela maior crise climática do estado. De acordo com o boletim divulgado pela Defesa Civil do RS às 12h desta sexta-feira (10), 116 pessoas morreram devido a tragédia, 143 estão desaparecidas e 756 feridas.
Dos 497 municípios gaúchos, 435 relatam problemas relacionados a temporais e enchentes, afetando 1.916.070 pessoas. 69.617 pessoas estão em abrigos. Um óbito está sob investigação para saber se a causa foi ocasionada pelas enchentes. Ainda de acordo com a instituição, 9.984 animais foram resgatados.
Conforme orienta a Defesa Civil, as pessoas resgatadas de áreas alagadas, inundadas ou que correm o risco de sofrer deslizamentos de terra não devem retornar para suas residências. A medida deve ser seguida especialmente por pessoas que vivem na Região Metropolitana de Porto Alegre.
*Edição: Matheus Alves de Almeida - Via Brasil de Fato
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