13 dezembro 2018

A morte da gigante Eunice Paiva e a cusparada de Bolsonaro no busto de Rubens Paiva


Foto de arquivo de Eunice Paiva, viúva de Rubens Paiva, ex-deputado desaparecido na ditadura militar — Foto: Reprodução/Instituto Vladimir Herzog

POR MIGUEL ENRIQUEZ*

O Brasil está duplamente de luto nesta quinta feira, 13 de dezembro. Por um lado, pela passagem dos 50 anos da edição do AI-5, o Ato Institucional que marcou o mergulho definitivo do país nas trevas da mais feroz ditadura, suprimindo as garantias individuais, a liberdade de imprensa e opinião, naturalizou a tortura e a morte de opositores políticos. 

Por outro, em mais uma dessas ironias do destino, é também o dia da morte, aos 86 anos de idade, de uma das mulheres que mais se destacaram no  combate à tirania naqueles anos de chumbo, a advogada Eunice Paiva, mulher do ex-deputado Rubens Paiva, cassado em 1964 e assassinado  sob tortura, nos porões da repressão do Doi-Codi do Rio de Janeiro, no início de 1971.

Sua trajetória pessoal é um paradigma de superação e transformação. Até então uma dona de casa de classe média alta, da Zona Sul carioca, sem militância política anterior, a despeito das atividades do marido, Eunice se dedicava basicamente às chamadas tarefas do lar e à educação dos cinco filhos, um deles o escritor Marcelo Rubens Paiva. 

“Ela tinha aquele perfil clássico da mulher dos anos 1960”, diz Marcelo. “Linda, arrumada e cheirosa esperando o marido chegar.”
Tudo mudou naquele 20 de janeiro, dia de São Sebastião, padroeiro da cidade do Rio de Janeiro e feriado municipal. A casa da família,  no bairro nobre do Leblon foi invadida por militares que levaram preso não apenas seu marido, mas também ela e uma filha menor de idade.

Eunice permaneceu 13 dias em poder da repressão, numa cela nas dependências do Doi-Codi, na Tijuca. Ao voltar para casa,  esperava encontrar-se com Rubens. Em vão. O tempo foi passando e a angústia aumentava, diante da falta de notícias do marido.

Foi então que Eunice iniciou uma peregrinação por quartéis e ministérios do governo do ditador Emilio Médici –chegou a pedir uma audiência em Brasília com o ministro da Justiça Alfredo Buzaid, de quem recebeu a  garantia de que Rubens fora interrogado, estava bem e logo seria liberado, no máximo em dois dias. 

A realidade seria bem diferente, como relatou o escritor Antônio Callado, que encontrara Eunice na praia de Búzios sorridente, feliz pela boa nova transmitida por Buzaid.

“Dois dias depois, isto sim, os jornais recebiam uma notícia tão displicente que se diria que seus inventores não faziam a menor questão que fosse levada a sério”, escreveu Callado. “Rubens estaria sendo transferido de prisão, num carro, quando guerrilheiros que tentavam libertá-lo tinham atacado e sequestrado o prisioneiro.”  

O resto é história. Aos 41 anos de idade. Eunice foi obrigada a  acumular o papel de mãe e pai de Marcelo, Veroca, Eliana, Nalu e Babiu. Para garantir o sustento da família, já que os bens de Rubens foram bloqueados, teve de trabalhar e estudar. Mudou-se para São Paulo, ingressou na faculdade de Direito da Universidade Mackenzie, formando-se aos 46 anos.

Como relata Marcelo, em seu livro “Ainda estou aqui” (Alfaguara), como advogada Eunice denunciou incansavelmente o desaparecimento de Rubens por décadas e lutou pelos direitos indígenas ao lado do cantor Sting. 

“Ao longo do tempo, percebi que a grande heroína desta história é minha mãe”, afirmou Marcelo.

Ao mesmo tempo, Eunice, que nunca se conformou com a farsa oficial, do sequestro do marido por um grupo de esquerda, também esteve na linha de frente das lutas pela Anistia, Diretas Já e pela Constituinte.

Em fevereiro de 1996, ela obteve uma primeira grande vitória: recebeu no cartório de Registro Civil das Pessoas Naturais – Primeiro Subdistrito da Sé, o atestado de óbito de Rubens Paiva, 25 anos depois de sua morte, o que lhe permitiu acesso aos bens bloqueados do marido. “Na saída, ela sorriu, falou com a imprensa e ergueu o atestado de óbito como um troféu”, afirmou Marcelo.

Numa entrevista ele explicou o sorriso da mãe, que chegou a causar estranheza aos jornalistas que cobriam o recebimento do atestado. 

“Por anos, fotógrafos nos queriam tristes. Deflagramos uma batalha contra o pieguismo da imprensa. Sim, éramos a família modelo vítima da ditadura, mas não faríamos o papelão de sairmos tristes nas fotos”, disse. 

“Nosso inimigo não iria nos derrubar. Guerra é guerra. Minha mãe deu o tom: a família Rubens Paiva não chora em frente às câmeras, não faz cara de coitada, não se faz de vítima. A angústia, as lágrimas, o ódio, apenas entre quatro paredes.”

Em 2014, uma nova vitória. Em depoimento à Comissão da Verdade e ao Ministério Público Federal, o general reformado Raymundo Ronaldo Campos revelou que o Exército montou uma farsa ao sustentar, na época, que Paiva teria sido resgatado por seus companheiros “terroristas”, ao ser transportado por agentes do DOI no Alto da Boa Vista.

Raymundo, que era capitão, conduzia o veículo supostamente atacado e estava na companhia dos sargentos e irmãos Jacy e Jurandir Ochsendorf. 

Segundo o jornal  O Globo, “O general, que passou os últimos 43 anos sustentando a farsa admitiu que recebera ordens do então subcomandante do DOI, major Francisco Demiurgo Santos Cardoso (já falecido), para levar um Fusca até o Alto da Boa Vista e simular o ataque. Raymundo e os dois sargentos metralharam e incendiaram o carro, jogando um fósforo aceso no tanque de combustível.”

A versão mentirosa, por sinal, tinha um propagador ativo na figura do capitão e deputado federal Jair Bolsonaro, o campeão das fake news no país. 

Disse Bolsonaro: “Acusam-nos de ter matado Rubens Paiva. O grupo do Lamarca suspeitou e chegou à conclusão de que ele foi denunciado pelo Rubens Paiva quando foi preso. Ninguém resiste à tortura… Então, o grupo do Lamarca suspeitou que Rubens Paiva o havia denunciado. E esperaram o momento certo. Quando o Rubens Paiva foi detido pelo Exército, posto em liberdade, com toda a certeza, foi capturado e justiçado pelo bando do Lamarca e pelo bando da Esquerda, da VPR. E aí a culpa recai sobre as Forças Armadas.”.

Assolada pelo mal de Alzheimer, que a afetava desde 2004 e tema central do livro Ainda estou aqui, escrito pelo filho, Eunice, infelizmente,  não pôde desfrutar desse momento de restabelecimento da verdade. 

A moléstia, no entanto, a livrou de presenciar uma das cenas mais sórdidas já vistas na Câmara dos Deputados, naquele mesmo ano. Protagonizada, para variar, por ele mesmo, o homem que se pretende vir a ser o presidente de todos os brasileiros. 

O episódio ocorreu durante a inauguração de um busco com a imagem de Rubens Paiva, em homenagem à sua luta pela democracia no Brasil. Como relata Chico Paiva Avelino, um dos seus netos, presente ao ato: 

Minha família foi em peso. Emocionadas, minha mãe e minha tia fizeram discursos lindos e orgulhosos sobre a memória do pai. No meio de um deles, fomos interrompidos por um pequeno grupo que veio se manifestar. Era Jair Bolsonaro, junto com alguns amigos (talvez fossem os filhos, na época eu não sabia quem eram), que se deu ao trabalho do sair de seu gabinete e vir em nossa direção, gritando que “Rubens Paiva teve o que mereceu, comunista desgraçado, vagabundo!”. Ao passar por nós, deu uma cusparada no busto. Uma cusparada. Em uma homenagem a um colega deputado brutalmente assassinado.

O que consola é que os Bolsonaros passam e devem ocupar um nota de rodapé na história do Brasil. Mulheres guerreiras como Eunice Paiva, que juntamente com outras gigantes como Therezinha Zerbini, a presidente do Movimento Feminino pela Anistia, a estilista  Zuzu Angel tanto fizeram pelas liberdades democráticas no país, certamente ficarão. 

“De todas as combatentes que denunciaram os assassinatos e abusos cometidos pela ditadura militar, durante os anos de chumba, a figura de Eunice Paiva é uma daquelas que quer permanecem para sempre vivas e cheias de forças em nossos corações”, declarou em nota a presidente Dilma Rousseff.

*Fonte: Diário do Centro do Mundo - DCM

Patética, Damares e seu Jesus de pé de goiaba.


Seria cômico se não fosse deprimente e assustador.

Damares Alves, já quase ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos protagoniza, no Youtube, um vídeo patético, onde conta que, aos dez anos de idade, pegou “uma substância”, subiu num pé de goiaba e ia se matar, pois estava “esmagada por Satanás desde os seis anos de idade”.

Foi salva, diz ela, por Jesus Cristo em pessoa, apesar de sua (dela) falta de fé em que o Onipotente soubesse subir num pé de goiaba, talvez porque a goiaba seja vermelha e não raramente esteja cheia de bichos evidentemente comunistas, porque se ocultam sob a casca verde do fruto, disfarçados.

Patético.

Não é preciso que Nosso Senhor suba num pé de goiaba. Basta a D. Damares suba num divã e  receba ajuda psicológica.

Francamente, nem dá para falar muito de uma pessoa tão doente e desequilibrada.

O governo Bolsonaro nem começou e já virou um circo de aberrações. (Por Fernando Brito, no Tijolaço)

12 dezembro 2018

“Mito” diplomado mostra que vai governar como fez campanha: por fake news


Bolsonaro e as fake news


Por Ricardo Kotscho*

Ao ser diplomado presidente da República no TSE, nesta segunda-feira, Jair Bolsonaro foi recebido aos gritos de “Mito” pela seleta platéia de seguidores.

De fato, a sua eleição está mais ligada à mitologia nativa que cria tipos como João de Deus do que à escolha racional de um país civilizado do século 21.

Num texto mais adequado ao Facebook do que à pomposa cerimônia da diplomação de um presidente, a única coisa útil do seu discurso mambembe, lido com dificuldade, foi revelar que pretende governar exatamente como fez campanha, quer dizer, sem intermediários, sem debates, sem dar muita satisfação aos insatisfeitos.

Disse o eleito: “O pode popular não precisa mais de intermediação. As novas tecnologias permitiram nova ligação direta entre o eleitor e seus representantes”.

Esta “ligação direta” é feita por meio de fake news fartamente disseminadas nas redes sociais, sem nenhum compromisso com a realidade, destinadas unicamente a fazer propaganda enganosa do eleito, não a informar a população.

Em democracias normais, a intermediação é feita pela imprensa e pelo Congresso, mas Bolsonaro nutre por essas duas instituições o mais absoluto desprezo, como já demonstrou fartamente na montagem do seu governo.

Na realidade virtual em que vive, o presidente eleito trata notícia como fake news, como as denúncias do Coaf sobre “movimentações financeiras atípicas” no gabinete do seu filho Eduardo.

Seus milicianos na internet fazem o mesmo. Só eles são os donos da verdade, da luz e da salvação, o resto é coisa de “vermelhos”.

No trecho mais reproduzido do seu breve discurso na imprensa, em que nada falou sobre criação de empregos e combate à pobreza cada vez mais alarmante, os grandes dramas da tragédia brasileira, Bolsonaro produziu mais uma grande fake news, ao dizer que pretende governar para todos.

“Serei presidente dos 210 milhões de brasileiros (na verdade, somos 208 milhões, segundo o último censo do IBGE), governarei em benefício de todos, sem distinção de origem social, raça, sexo, cor, idade ou religião”.

Pouco antes, em reunião reservada com ministros do TSE, fez todo mundo orar com o pastor evangélico de um templo frequentado por sua mulher, no Rio, para mostrar que seu governo poderá ser tudo, menos laico. Só faltou dizer: ajoelhou, tem que rezar.

Se cumprir mesmo o que prometeu no discurso, fará o exatamente o oposto do que pregou durante seus 27 anos de deputado, em que combateu com furor todas as minorias identitárias e tratou a defesa dos direitos humanos como coisa de viado, comunista ou petista.

Por ironia do destino, Bolsonaro foi diplomado no mesmo dia em que se celebravam no mundo todo os 70 anos da Declaração Universal dos Direitos Humanos da ONU, o guia das nações civilizadas.

A data foi lembrada pela presidente do TSE, Rosa Weber, que por isso foi criticada pela deputada eleita Joice Hasselmann (PSL-SP), expoente da direta radical festiva:

“Achei que ficou um pouco chato, e até deselegante, desnecessário”.

Hasselmann falar em elegância é como Bolsonaro tratar de energia nuclear de terceira geração, mas esse era o clima na cerimônia de entronização da nova ordem.

Palavras e conceitos perdem o sentido quando eles falam como enviados especiais de Deus, marchando feito um exército de ocupação.

É o que nos espera, a 18 dias da posse.

Vida que segue.

*Jornalista, Editor do Blog Balaio do Kotscho. (via DCM)

-Publicado originalmente no Balaio do Kotscho*

11 dezembro 2018

Tempo de combinar


Bolsonaro não pode dispensar-se de explicar repasse atípico à esposa



Por Janio de Freitas, na Folha de SP*

A falta de esclarecimento imediato por quem o devia aumentou a aparência viciosa da presença de Michelle Bolsonaro nas incoerências financeiras do motorista de Flávio Bolsonaro.

Se não por ética pessoal, como obrigação de presidente eleito não podia Jair Bolsonaro dispensar-se de explicar o recebimento, por sua mulher, de um valor financeiro “atípico”.

Nas circunstâncias especiais do momento, também o motorista Fabrício de Queiroz devia pronta explicação do repasse feito e da sua movimentação de R$ 1,2 milhão em 2016, ou R$ 100 mil por mês, em valores da época.

O silêncio de todos equipara-se à atitude dos que precisam combinar suas explicações.

De Onyx Lorenzoni e Sergio Moro vieram duas contribuições para a estranheza do silêncio.

O primeiro protestou e interrompeu uma entrevista coletiva, ao se ver indagado sobre o assunto.

Como deputado, há mais de 15 anos Lorenzoni é um dos mais intempestivos nas inquirições parlamentares. Não tem limites. Moro, confrontado com o assunto, saiu em silêncio.

Para um grupo autoproclamado de moralizadores do país, convenhamos que tanto o fato inicial como a fuga para o silêncio não saem da vulgaridade.

Sem por isso surpreender, é verdade.

PM até o mês passado, o motorista financeiro é, além do mais, velho companheiro do Bolsonaro pai.

Dado no noticiário como ex-servidor do gabinete de Flávio Bolsonaro, um verbo na nota do senador eleito expõe a permanência do vínculo, mesmo fora do serviço público: “trabalha há mais de dez anos como motorista e segurança do deputado Flávio Bolsonaro”.

Relação “de amizade e confiança”. Tipo para o que der e vier.

Não seria impossível, muito ao contrário, que o Bolsonaro pai estivesse avisado da constatação, não recente, do Conselho de Controle de Atividades Financeiras, Coaf, na conta do motorista cujo último vencimento de servidor foi de R$ 8.500.

Doze meses desse valor atual equivaleriam a um só mês da movimentação financeira média do então PM em 2016.

Pode ser tudo legal, mas não considerável assim enquanto não demonstrada essa legalidade.

O mesmo quanto à destinação dos montantes destinados.

Informado ou não, Bolsonaro transfere o Coaf da área econômica para o Ministério da Justiça.

Futura sede da Doutrina Moro, segundo a qual, para alguns, a exemplo do presenteado Onyx Lorenzoni, ilegalidade como caixa dois é anulável com simples pedido de desculpas, só.

*Jornalista - via Viomundo

10 dezembro 2018

No Dia Mundial dos Direitos Humanos, povo vai às ruas por Lula Livre



Brasil 247 - Numa data emblemática, quando são celebrados os 70 anos da Declaração Universal dos Direitos Humanos, da Organização das Nações Unidas, o Comitê Nacional Lula Livre, junto aos movimentos da Frente Brasil Popular, realizará nesta segunda-feira 10 ações por todo o país contra as violações dos direitos humanos do ex-presidente Lula e em defesa de sua liberdade.

Um grande ato está convocado para a sede do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, às 18h30, com a presença de representações políticas de vários países. Em um vídeo de convocação (assista abaixo), o Prêmio Nobel da Paz Adolfo Pérez Esquivel destaca os feitos do presidente contra a extrema-pobreza e ainda a campanha para que Lula receba o Nobel da Paz.

Mantido como preso político desde o dia 7 de abril, Lula teve seus direitos políticos garantidos e reafirmados pelo Comitê de Direitos Humanos da ONU em agosto deste ano. Apesar disso, foi impedido de disputar a presidência da República, teve sua candidatura impugnada e até hoje continua na sede da Polícia Federal em Curitiba. (via https://www.brasil247.com)


Inscreva-se na TV 247 e assista ao vídeo que convoca para a Jornada Lula Livre:


09 dezembro 2018

Ataque ao MST na Paraíba mata dois - "Lutar, Construir Reforma Agrária Popular!"


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*Nota da Direção do MST Paraíba sobre o assassinato de dois militantes no Acampamento Dom José Maria Pires, município de Alhandra.


"O que seria deste mundo sem militantes? Como seria a condição humana se não houvesse militantes? Não porque os militantes sejam perfeitos, porque tenham sempre a razão, porque sejam super-homens e não se equivoquem. Não é isso. É que os militantes não vêm para buscar o seu, vem entregar a alma por um punhado de sonhos’. (Ex-presidente Uruguaio, Pepe Mujica).

O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST-PB) perde nesta noite de sábado (08) por volta das 19:30 dois militantes: José Bernardo da Silva, conhecido por Orlando e Rodrigo Celestino. Foram brutalmente assassinado por capangas encapuzados e fortemente armados. Isso demonstra a atual repressão contra os movimentos populares e suas lideranças. O ataque aconteceu no Acampamento Dom José Maria Pires, no município de Alhandra na Paraíba. Área da Fazenda Garapu, pertencente ao Grupo Santa Tereza, ocupada pelas famílias em julho de 2017.


Exigimos justiça com a punição dos culpados e acreditamos que lutar não é CRIME. Nestes tempos de angústia e de dúvidas sobre o futuro do Brasil, não podemos deixar os que detém o poder político e econômico traçar o nosso destino. Portanto, continuamos reafirmando a luta em defesa da terra como central para garantir dignidade aos trabalhadores e trabalhadoras do campo e da cidade.

Justamente dois dia antes das comemorações do Dia Internacional dos Direitos Humanos, 10 de dezembro, são assassinados de forma brutal dois trabalhadores Sem Terra. Neste sentido, convocamos a militância, amigos e amigas, aos que defendem os trabalhadores e trabalhadores, denunciar a atual repressão e os assassinatos em decorrências de conflitos no campo.

Solidariedade à família de Orlando e Rodrigo.


Direção do MST – PB


Lutar, Construir Reforma Agrária Popular!


* Via https://www.conversaafiada.com.br

08 dezembro 2018

MINO CARTA: “A DEMÊNCIA COMO FORMA DE GOVERNO”. ELES NÃO SABIAM EM QUEM VOTARAM?



Por Ricardo Kotscho*
Na perfeita descrição de Mino Carta, o que aconteceu foi o seguinte:
“O golpe de 2016 representou o arremate fatal e, com a inestimável colaboração de um Judiciário disposto a legalizar a ilegalidade, prepara com desvelo a eleição de Bolsonaro e a instalação da demência como forma de governo. Nunca o Brasil viveu situação tão grave e, só aparentemente, tão absurda”.
Tão absurda, que só agora, cinco semanas após a vitória de Bolsonaro e de toda a onda conservadora que varreu o país, e elegeu variados cacarecos, boa parte da população só está se dando conta agora de quem são os novos donos do poder.
Se parte do eleitorado apenas foi na onda das fake news do antipetismo, outros tantos conheciam e apoiavam o projeto do capitão reformado, que sabia muito bem para que e em nome de quem estava sendo eleito.
A cada dia, um novo susto: é o Bolsogate do dinheiro voando nas contas do assessor milionário do filho, é a baixaria dos eleitos pelo esquizofrenico PSL se estapeando nas redes sociais, é o ministério frankenstein teocrático-jurídico-militar-populista-olavariano-de-carvalho, são os mentidos e desmentidos que se sucedem, sem ninguém saber para onde, afinal, eles querem levar o país.
Só sabemos até agora dos objetivos do novo governo: leiloar para estrangeiros as terras da Amazonia e as reservas do pré-sal, privatizar a educação e a saúde, criminalizar os movimentos sociais, evangelizar os índios com celulares, exterminar os direitos trabalhistas e acabar com a pobreza matando os pobres de fome.
Como farão isso ainda não está muito claro, mas contam até agora com o silêncio obsequioso dos partidos de oposição, da sociedade civil e da mídia grande, com poucas e honrosas exceções.
Agem como um exército de ocupação, que fará as suas próprias leis, a cargo dos superministros da Economia e da Justiça, ambos objetos de investigação _  o financista, pelo MP e pela PF, e o ex-juiz, no CNJ.
Com um general escalado para lidar com o Congresso e outros oito militares no primeiro escalão, o presidente eleito armou sua retaguarda, antes que se tornassem publicas as atípicas movimentações financeiras do primeiro-amigo, o PM Fabrício Queiroz e sua família, em conexão com os Bolsonaro.
Ao tentar explicar o inexplicável, o futuro chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, outro investigado por corrupção no caixa dois, encerrou uma entrevista coletiva na sexta-feira e virou as costas para os jornalistas.
Já não se encontra ninguém para defender este governo que corre o risco de acabar antes de começar.
Nem mesmo se dignam a isso os isentões do voto em branco, que ajudaram a eleger o capitão reformado, “para acabar com essa raça do PT”, e agora já se mostram arrependidos.
Em nome do combate à corrupção, elegeram um monte de tipos estranhos, sem saber de quem se tratava, e acabaram enchendo o galinheiro da velha política de raposas novinhas.
Centenas de municípios brasileiros continuam sem médicos porque os cubanos foram embora e os brasileiros ainda não apareceram.
Exportadores brasileiros estão em pânico com os primeiros desmandos da “política externa” bolsonariana-trumpista, declarando guerra ao resto do mundo para combater os “vermelhos”, banqueiros fazem cara de paisagem para ver o que acontecerá no Posto Ipiranga depois de janeiro e o povo bestificado a tudo só assiste.
Nem o mais delirante ficcionista político seria capaz de criar um enredo tão horripilante, faltando apenas 23 dias para a posse.
Vida que segue.
*Ricardo Kotscho (foto) é Jornalista, Editor do Balaio do Kotscho (fonte desta postagem).

07 dezembro 2018

Onyx foge de pergunta sobre "origem do dinheiro" do ex-assessor de Flávio Bolsonaro


Foto: Agencia Brasil

Jornal GGN - O futuro ministro da Casa Civil Onyx Lorenzoni ficou irritado com jornalistas e abandonou uma coletiva de imprensa nesta sexta (7), após um repórter perguntar "qual é a origem do dinheiro" (R$ 1,2 milhão) que o ex-assessor de Flávio Bolsonaro movimentou em transações consideradas suspeitas pelo Coaf, ao longo de 2016. "A sua pergunta não tem a menor relevância", respondeu em tom exaltado, segundos antes de deixar o local.
No dia anterior, o Estadão revelou que Fabrício Queiroz, motorista e segurança de Flávio Bolsonaro lotado na Alerj até outubro passado, foi relatado pelo Coaf, por ter movimentado R$ 1,2 milhão, entre janeiro de 2016 e janeiro de 2017, sem ter renda nem patrimônio compatíveis com esse montante. Além disso, ele sacou mais de R$ 300 mil em espécie naquele ano, e assinou um cheque de R$ 24 mil para Michelle Bolsonaro.
Cobrado pela imprensa, Onyx tentou tangenciar a pergunta atacando o PT e insinuando que a imprensa estava fazendo perseguição a Bolsonaro. (...)
CLIQUE AQUI para continuar lendo.

06 dezembro 2018

Lula aponta parcialidade de Moro em primeira entrevista desde a prisão

Ex-presidente respondeu perguntas feitas por carta pelo jornalista Kennedy Alencar, que publica entrevista na BBC 

Lula liderava as pesquisas de intenção de voto quando foi proibido de
concorrer nas eleições presidenciais

O site britânico de notícias BBC publicou nesta quinta-feira, 6 de dezembro, a primeira entrevista feita pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva desde sua prisão, no dia sete de abril.   

Proibido de conceder entrevistas ao vivo ou por telefone, o obstáculo foi contornado pelo jornalista Kennedy Alencar usando uma troca de correspondências. O material será parte de um documentário que será transmitido no Reino Unido em janeiro pela BBC, entitulado What Happened to Brazil? (O Que Aconteceu Com O Brasil?, em tradução livre). 

Nas cartas escritas de sua cela na sede da Polícia Federal em Curitiba, Lula denunciou o juiz Sérgio Moro como seu perseguidor, com o objetivo claro de alija-lo da disputa eleitoral desde ano. O ex-presidente disse que Jair Bolsonaro venceu o pleito em outubro "apenas porque não concorreu comigo". 

"Fui condenado por ser o presidente da República mais bem sucedido e o que mais fez pelos pobres. Moro sabia que, se agisse dentro da Lei, teria que me absolver e eu seria eleito presidente. Ele então fez política e não justiça, colhendo agora os benefícios", escreveu Lula, que ainda disse que os cidadãos brasileiros correm perigo, visto que "isso pode ser feito com um ex-presidente". 

Moro respondeu as acusações afirmando à BBC que Lula foi condenado não apenas por ele, mas também outros tribunais. Ele disse que o ex-presidente seria o chefe do escândalo da Petrobrás, que teria movimentado dois bilhões de reais em propinas. (via Carta Capital)

A dor dos pobres não sai nos jornais





Nos anos 70, escapando da censura, a peça musical Gota D’Água, numa das geniais canções de Chico Buarque, Notícia de Jornal, ao falar dos dramas vividos pelos pobres, dizia: “a dor da gente não sai no jornal”.

O dia clareando, percorrer as primeiras páginas dos mais “importantes” (será?) jornais brasileiros mostra cruelmente que ainda é assim, ou é pior, pois já não há a censura daqueles anos de chumbo a obrigar que o “Brasil Grande” fosse manchete e o “pequeno Brasil” um canto de rodapé.

Os números oficiais do IBGE, dando conta do aumento da pobreza e da pobreza extrema no país não mereceram neles, sequer, uma chamada de capa. Ou, para ser rigoroso, apenas uma linha – “somada à alta da pobreza extrema” – que orna uma pequena nota da Folha, destacando a carência nos serviços básicos.

Nem mesmo com o relatório da Síntese de Indicadores Sociais, oficial, produzida pelo IBGE, revelando dados dramáticos – ou, como se dizia no jargão jornalístico importado dos EUA, “histórias de interesse humano” – como o fato de metade das crianças e adolescentes brasileiros sobreviverem com renda inferior a R$ 400 mensais foi capaz de comover os editores, certamente porque não comoveriam seus leitores.

É curioso que tirar 40 milhões da linha de pobreza em dez anos  é fruto de um descalabro de política econômica, mas aumentar em 2 milhões o número de pobres em apenas um ano é visto como uma “recuperação econômica” , ainda que “tímida”.

A invisibilidade dos pobres na mídia e no olhar das elites dirigentes – exceto quando viram índices de violência ou mulambos dormindo nas calçadas ricas, buscando esmolas e restos – acaba, por isso, sendo mais expressiva que as tabelas e números do IBGE.

Acaba sendo um retrato mais aterrorizante de um país que é ensinado a ver a pobreza como um inimigo e não um potencial que é desperdiçado e a uma indignidade a que submetemos seres humanos.

E onde a indiferença passa a ser o estado natural: o médico que não se importa com os desvalidos, o economista que se lixa para o trabalhador, o engenheiro e arquiteto que nos raros projetos de habitação projeta cubículos, o jornalismo que considera “celebridades” e “fait divers” mais importantes que a realidade com que tropeça nas ruas.

Ah, sim, a propósito: em dois sites, apenas, o aumento e o agravamento da pobreza no Brasil são manchete: A BBC, inglesa, e a Deutsche Welle, alemã.

Só mesmo lá para a dor da gente sair no jornal.

*Jornalista, Editor do Blog Tijolaço

05 dezembro 2018

A frase do ano





Fachin é autor da frase do ano: “Houve procedimentos heterodoxos, mesmo que para finalidade legítima”


Por Kiko Nogueira*

A frase do ano é de Edson Fachin no julgamento da liberdade de Lula na Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal, ocorrido nesta terça, dia 4.

“Não deixo de anotar que houve procedimentos heterodoxos, mesmo que para finalidade legítima”, disse o ministro.

Trocando em miúdos, os fins justificam os meios.

É isso, professor?

Seria interessante Fachin explicar os que é essa heterodoxia toda e, mais do que isso, a tal “finalidade legítima”.

Prender Lula? Retirá-lo da parada?

Foi uma semana pródiga em confissões.

Sergio Moro brilhou num seminário promovido pela Fundação Internacional para a Liberdade, em Madri, presidida pelo escritor peruano Mario Vargas Llosa.

“Durante estes quatro anos [de atuação na Lava Jato], me perguntei se não tinha ido longe demais na aplicação da lei, se o sistema político não iria revidar”, falou.

Bem, é evidente que foi longe demais.

Em Ilhabela, Toffoli afirmou que “é hora de o Judiciário se recolher. É preciso que a política volte a liderar o desenvolvimento do país e as perspetivas de ação”.

Ora. Por que não se recolheu antes?

2019 promete.

*Jornalista, Editor do DCM

04 dezembro 2018

Boçal... & entreguista...




*Charge do Edgar Vazques

Bolsonaro criou indústria de mentiras para vencer eleição, diz Lula

Ex-presidente envia carta aos participantes da reunião do Diretório Nacional do PT*


O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva enviou [na última] sexta-feira 30 uma carta aos participantes da reunião do Diretório Nacional do PT, que aconteceu em Brasília. 

O petista, que se encontra preso na sede da Polícia Federal em Curitiba há mais de 200 dias, aguarda o fim de um processo judicial em que é acusado de ser dono de um imóvel do qual jamais teve as chaves ou usufruiu por um só dia. Em sua carta, afirmou que "apesar de toda perseguição, de todas as tramoias que fizeram contra nós, o PT continua sendo o maior e mais importante partido popular deste país. E isso nos coloca diante de imensas responsabilidades.

Leia, abaixo, a íntegra da carta:

"Companheiras e companheiros,

Do fundo do meu coração, agradeço por tudo o que fizeram neste processo eleitoral tão difícil que vivemos, absolutamente fora da normalidade democrática. Quero que levem meu abraço e minha gratidão a cada militante do nosso partido, pela generosidade e coragem diante da mais sórdida campanha que já se fez contra um partido político neste país.

Agradeço à companheira Gleisi Hoffmann e a toda a nossa direção nacional, por terem mantido o PT unido em tempos tão difíceis; por terem sustentado minha candidatura até as últimas consequências e por terem se engajado totalmente, com muita força, na candidatura do companheiro Fernando Haddad.

Agradeço ao companheiro Fernando Haddad por ter se entregado de corpo e alma à missão que lhe confiamos. Ele enfrentou com dignidade as mentiras, a violência e o preconceito. Saiu das eleições como um líder brasileiro reconhecido internacionalmente.

Agradeço à companheira Manuela D’Ávila e aos partidos que nos acompanharam com muita lealdade nessa jornada.

Saúdo os quatro governadores que elegemos, em especial a companheira Fátima Bezerra, e também os que não conseguiram a reeleição mas não desistiram da luta nem dos nossos ideais. Saúdo os senadores e deputados eleitos e todos os que, generosamente, se lançaram candidatos, fortalecendo a votação em nossa legenda.

A luta extraordinária de vocês nos levou a alcançar 47 milhões de votos no segundo turno. Apesar de toda perseguição, de todas as tramoias que fizeram contra nós, o PT continua sendo o maior e mais importante partido popular deste país. E isso nos coloca diante de imensas responsabilidades.

O povo brasileiro nos deu a missão de manter acesa a chama da esperança, o que significa a defesa da democracia, do patrimônio nacional, dos direitos dos trabalhadores e do povo que mais precisa. Tudo isso está ameaçado pelo futuro governo, que tem como objetivo aprofundar os retrocessos implantados por Michel Temer a partir do golpe que derrubou a companheira Dilma Rousseff em 2016.

Esta não foi uma eleição normal. O povo brasileiro foi proibido de votar em quem desejava, de acordo com todas as pesquisas. Fui condenado e preso, numa farsa judicial que escandalizou juristas do mundo inteiro, para me afastar do processo eleitoral. O Tribunal Superior Eleitoral rasgou a lei e desobedeceu uma determinação da ONU, reconhecida soberanamente em tratado internacional, para impedir minha candidatura às vésperas da eleição.

Nosso adversário criou uma indústria de mentiras no submundo da internet, orientada por agentes dos Estados Unidos e financiada por um caixa dois de dimensões desconhecidas, mas certamente gigantescas. É simplesmente vergonhoso para o país e para a Justiça Eleitoral que suas contas de campanha tenham sido aprovadas diante de tantas evidências de fraude e corrupção. É mais uma prova da seletividade de um sistema judicial que persegue o PT.

Se alguém tinha dúvidas sobre o engajamento político de Sergio Moro contra mim e contra nosso partido, ele as dissipou ao aceitar ser ministro da Justiça de um governo que ajudou a eleger com sua atuação parcial. Moro não se transformou no político que dizia não ser. Simplesmente saiu do armário em que escondia sua verdadeira natureza.

Eu não tenho dúvida de que a máquina do Ministério da Justiça vai aprofundar a perseguição ao PT e aos movimentos sociais, valendo-se dos métodos arbitrários e ilegais da Lava Jato. Até porque Jair Bolsonaro tem um único propósito em mente, que é continuar atacando o PT. Ele não desceu do palanque e não pretende descer. Temos de nos preparar para novos ataques, que já começaram, como vimos nas novas ações, operações e denúncias arranjadas que vieram neste primeiro mês depois das eleições.

Jair Bolsonaro se apresentou ao país como um candidato antissistema, mas na verdade ele é o pior representante desse sistema. Foi apoiado pelos banqueiros, pelos donos da fortuna; foi protegido pela Rede Globo e pela mídia, foi patrocinado pelos latifundiários, foi bancado pelo Departamento de Estado norte-americano e pelo governo Trump, foi apoiado pelo que há de mais atrasado no Congresso Nacional, foi favorecido pelo que há de mais reacionário no sistema judicial e no Ministério Público, foi o verdadeiro candidato do governo Temer.

Não teve coragem de participar de debates no segundo turno, de confrontar conosco suas ideias para a economia, o desenvolvimento, a geração de empregos, as políticas sociais, a política externa. E vai executar um programa ultraliberal, de entreguismo e privatização, que não foi apresentado aos eleitores e muito menos aprovado nas urnas.

Ele explorou o desespero das pessoas com a violência; a indignação com a corrupção e a decepção com os políticos. Mas não tem respostas concretas para nenhum desses desafios. Primeiro porque a proposta dele para segurança é armar as pessoas, o que só vai aumentar a violência. Segundo, porque Sergio Moro e a Lava Jato premiaram os corruptos e corruptores da Petrobrás. A maioria está solta ou em prisão domiciliar, gozando as fortunas que roubaram. E por fim, Bolsonaro é, de fato, o representante do sistema político tradicional, que controla a economia e as instituições no país.

As mesmas pessoas que elegeram Bolsonaro vão julgá-lo todos os dias, pelas promessas que não vai cumprir e pelo que vai acontecer em nosso país. Temos de estar preparados para continuar construindo, junto com o povo, as verdadeiras soluções para o Brasil, pois acredito que, por mais que queiram, não vão conseguir destruir nosso país.

O PT nasceu na oposição, para defender a democracia e os direitos do povo, em tempos ainda mais difíceis que os de hoje. É isso que temos de voltar a fazer agora, com o respaldo dos nossos 47 milhões de votos, com a responsabilidade de sermos o maior partido político do país.

E como diz a companheira Gleisi, não temos de pedir desculpas por sermos grandes, se foi o eleitor que assim decidiu. Queremos e devemos atuar em conjunto com todas as forças da esquerda, da centro-esquerda e do campo democrático, num exercício cotidiano de resistência.

Temos de voltar às ruas, às fábricas, aos bairros e favelas, falar a linguagem do povo, nos reconectar com as bases, como disse o Mano Brown. Não podemos ter medo do futuro porque aprendemos que o impossível não existe.

Até o dia do nosso reencontro, fiquem com um grande abraço do

Luiz Inácio Lula da Silva

...

*Por Vinicius Segalla, na Carta Capital

A morte do Ministério do Trabalho e a volta aos anos 30



Na República Velha, onde “a questão social era um caso de polícia” – frase que se atribui ao Presidente Washington Luís (1926-1930) – eles não existiam. O povo não existia, aliás.

Com a revolução de 30, nasceram. O Ministério da Educação e da Saúde, dia 14 de novembro, e o do Trabalho, dia 26 do mesmo mês.
Como estamos voltando àqueles tempos, embora triste, é natural que comecem a morrer.

Primeiro, o Trabalho, que já vinha num processo de esvaziamento há anos e se enfraqueceu muito quando perdeu o controle da Previdência Social, agora mais ligada aos cofres da Fazenda que à proteção do trabalhador.

Depois, quando se tornou, na reforma da CLT, inimigo dos direitos dos trabalhadores, propondo ou permitindo relações de trabalho quase escravocratas que, de tão anacrônicas, têm dificuldade de serem absorvidas pelas próprias empresas, como é o caso do trabalho intermitente.

Agora, jogado à condição de “quartinho de despejo” no superministério de Sérgio Moro e com seu papel de gestor de contribuições de natureza social (FGTS, FAT) e o controle dos contratos de trabalho (Caged) entregues ao superministério de Paulo Guedes, ganha um doce quem achar que ali haverá gestores em algo preocupados com a sorte do trabalhador.

Verdade que Temer tinha feito a sua parte neste óbito, entregando a Roberto Jefferson o controle da pasta e por ele submetendo-a ao longo “mico”  da nomeada e jamais empossada Cristine Brasil.

Agora, Jair Bolsonaro terminará o serviço com sua “carteira verde-amarela”, pela qual o trabalhador já renuncia, antecipadamente, aos seus direitos. Claro, por livre opção, porque terá de escolher entre “direitos sem emprego” ou emprego sem direitos.

Logo estas “medidas antipaternalistas” chegarão aos irmãos Educação e Saúde, que existirão para quem puder pagar por eles.

A rede de proteção social que fez este país sair do atraso há quase 90 anos vai ser totalmente desmontada pelos imbecis que empalmaram o poder.

Afinal, a frase que se atribui a Washington Luís é, provavelmente, derivada de outra que disse e que não surpreenderia ser dita hoje também por um presidente da República: ” “a agitação operária é uma questão que interessa mais à ordem pública do que à ordem social”.

Portanto, Moro nela!

*Jornalista, Editor do Blog Tijolaço (fonte desta postagem)

03 dezembro 2018

Eleição foi uma fraude! - Whatsapps operavam no submundo que a Patricia Campos Mello descreve!

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(Charge: Beto/Humor Político)


O Conversa Afiada* reproduz trecho de reportagem de Artur Rodrigues e Patrícia Campos Mello na Fel-lha deste domingo, 2/XII:

(...) Documentos apresentados à Justiça do Trabalho e obtidos pela Folha detalham o submundo do envio de mensagens em massa pelo WhatsApp que se instalou no Brasil durante as eleições deste ano.

Uma rede de empresas recorreu ao uso fraudulento de nome e CPF de idosos para registrar chips de celular e garantir o disparo de lotes de mensagens em benefício de políticos.

Entre as agências envolvidas no esquema está a Yacows. Especializada em marketing digital, ela prestou serviços a vários políticos e foi subcontratada pela AM4, produtora que trabalhou para a campanha do presidente eleito, Jair Bolsonaro (PSL).

A Folha falou diversas vezes com o autor da ação, Hans River do Rio Nascimento, ex-funcionário de uma dessas empresas. Nas primeiras conversas, ocorridas a partir de 19 de novembro e sempre gravadas, ele disse que não sabia quais campanhas se valeram da fraude, mas reafirmou o conteúdo dos autos e respondeu a perguntas feitas pela reportagem.

No dia 25, ele mudou de ideia após fazer acordo com a antiga empregadora, registrado no processo. "Pensei melhor, estou pedindo pra você retirar tudo que falei até agora, não contem mais comigo", disse, em mensagem de texto. Três dias antes, a Folha havia procurado a Yacows para solicitar esclarecimentos.

As conversas gravadas e a ação que Nascimento move acrescentam detalhes ao esquema revelado pela Folha em outubro, quando reportagem mostrou que empresários pagaram para impulsionar mensagens anti-PT na disputa eleitoral.

Após a publicação da reportagem, o WhatsApp bloqueou as contas ligadas às quatro agências de mídia citadas pela Folha por fazerem disparos em massa: Quickmobile, Croc Services, SMS Market e Yacows.

Nascimento descreve a atuação de três agências coligadas: Yacows, Deep Marketing e Kiplix, que funcionam no mesmo endereço em Santana (zona norte de São Paulo) e pertencem aos irmãos Lindolfo Alves Neto e Flávia Alves. Nascimento esteve empregado pela Kiplix de 9 de agosto a 29 de setembro com salário de R$ 1.500.

Segundo seu relato, as empresas cadastraram celulares com nomes, CPFs e datas de nascimento de pessoas que ignoravam o uso de seus dados. Ele enviou à reportagem uma relação de 10 mil nomes de pessoas nascidas de 1932 a 1953 (de 65 a 86 anos) que, afirma, era distribuída pela Yacows aos operadores de disparos de mensagens.

(...) A Deep Marketing prestou serviços, entre outros candidatos, para Henrique Meirelles (MDB), que disputou a Presidência e declarou pagamento de R$ 2 milhões à empresa por "criação e inclusão de páginas da internet". A Kiplix trabalhou para a AM4, agência à qual Jair Bolsonaro declarou ao TSE pagamento de R$ 650 mil. (...)

*Via https://www.conversaafiada.com.br

01 dezembro 2018

Carmina Burana

López Obrador assume o México em meio a clima de esperança

López Obrador assume o México em meio a um clima de esperança
López Obrador quebra a hegemonia do PRI

O novo presidente do país promete profundas mudanças sociais e o combate à extrema violência

Por Murilo Matia, na Carta Capital*

A política é tempo. A frase dita pelo presidente eleito do México Andrés Manuel López Obrador na primeira entrevista após a confirmação da vitória em julho deste ano rememorava a caminhada não de uma campanha, mas de uma longa jornada de amadurecimento democrático.

O desejo de mudança no país foi tão forte que os eleitores levaram ao poder, pela primeira vez, um projeto popular e progressista. A partir deste sábado 1º, quando toma posse, Obrador terá diante de si, portanto, um desafio descomunal.

Depois de perder duas disputas presidenciais com fortes suspeitas de fraude, sobretudo em 2006, e percorrer as 2.446 cidades do país ao longo da campanha, o líder do partido Movimento de Renovação Nacional (Morena) assume ao lado do inédito gabinete paritário, oito homens e oito mulheres, conforme a composição ministerial anunciada ainda em 2017 pela coalizão Juntos Faremos História, integrada pelo Partido Encontro Social e Partido do Trabalho.

No Legislativo, a novidade é a pluralidade encarnada pela chegada de campesinos, indígenas, mulheres e jovens, entre elas a senadora Citlalli Hernández Mora, de 28 anos, a segunda mais jovem a ocupar uma cadeira no Senado.

"Tudo saiu melhor que o previsto. Ganhamos da mentira, da fraude, do dinheiro. Teremos maioria no Senado e na Câmara, vamos governar para todos, mas primeiro para os mais pobres”, afirma a senadora. “Temos alguns dos homens mais ricos do mundo e estados inteiros e populações muito carentes. O povo sempre quis mudança e agora teremos grandes discussões envolvendo a seguridade social e temas como a despenalização do aborto e da maconha”.

Para chegar à presidência com 30 milhões de votos,  53% do total, Obrador combinou movimentos de aproximação com setores do empresariado e da classe média, ao adotar o tom de conciliação, e o rechaço a partidos associados à velha política e à corrupção.

O "pasito” à direita de Obrador e o "pasito” à esquerda dos empresários renderam ao presidente o apelido Amlove durante a campanha, apesar de os opositores terem apostado no discurso do medo, a exemplo do que fizeram no Brasil os adversários de Lula.

Na outra ponta, o presidente atraiu parte majoritária do voto de protesto do eleitorado, que expressava "hartazgo" com o que muitos classificam de esgotamento da ditadura de partido único e pela corrupção que caracterizou os últimos 70 anos de hegemonia do Partido Revolucionário Institucional (PRI), com a breve alternância do Partido Ação Nacional (PAN).

A regionalização da campanha e a organização de uma estrutura territorial mostraram-se como outro acerto, ao reforçar as bases no centro e sudeste, que tradicionalmente tendiam à esquerda, e ampliar a presença no norte, próximo aos Estados Unidos e de posições majoritariamente conservadoras.

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O México sonha com mudanças (Foto: Wikimedia)
De imediato, o novo governo terá de lidar com a crise humanitária na fronteira com os Estados Unidos. Milhares de migrantes da América Central se aglomeram em Tijuana, impedidos de entrar nos EUA. O México não sabe como lidar com a questão e espera um apoio do Canadá e de países europeus. A chegada de tantos estrangeiros alimentou uma onda de xenofobia em Tijuana, que resultaram em agressões aos acampados.

No médio e longo prazo, o desafio será executar a agenda que promete retirar da pobreza metade dos 130 milhões de mexicanos. Uma das promessas é ampliar a rede de proteção aos idosos e portadores de deficiência por meio do pagamento de pensões mensais de 1,2 mil pesos mexicanos, cerca de 250 reais, o dobro do que recebem atualmente.

A medida foi adotada com sucesso por Obrador durante seu mandato como prefeito da Cidade do México, período em que inaugurou o hospital de especialidades Belisário Dominguez e abriu a Universidade Autônoma, no início dos anos 2000.

“Existe muita esperança e, se não der certo, vai ser um golpe muito forte para os mexicanos”, acredita Esau Alvear, publicitário mexicano que mora em Brasília há quatro anos.

No caso da juventude, a ênfase será na concessão de bolsas em universidades e parcerias com empresas privadas para a criação de vagas de primeiro emprego, a fim de amenizar a falta de oportunidades para 2,6 milhões de jovens que não estudam nem trabalham. 

Outra preocupação são os conflitos no campo. A concentração agrária aumentou nas últimas décadas a partir da flexibilização do controle do Estado sobre quase 50% das terras produtivas. O governo Obrador promete garantir uma renda de 6 mil pesos aos agricultores familiares, que terão a meta de contribuir para a autossuficiência alimentar do país. Atualmente, o México importa dos Estados Unidos, entre outros produtos, 30% do milho que consome.

“O México nunca esteve tão perto de implementar as mudanças com compromisso social e isso só se dará com a apropriação da sociedade de todo o processo”, observa Marisa Fatima Roman, doutora em Ciências Sociais e Políticas pela Universidade Autônoma do México e habitante de Toluca, cidade de expressivo ramo automobilístico e farmacêutico, lembrada também pela grande oferta hídrica e baixos impostos.

Obrador assume um México arrasado pelas políticas neoliberais. As tarifas de energia e o preço da gasolina nunca foram tão altos. A reforma trabalhista liquidou parte dos poucos direitos existentes em um país que tem um dos mais baixos salários da região e alto índice de informalidade. As mudanças na educação, privatizantes, serão vetadas pelo atual governo, promessa de campanha.

"Enfrentei muitas reformas ao longo de 27 anos no magistério e a última foi feita sem a participação dos professores. Agora há maior contato entre o governo eleito, o sindicato e as representações para reformular o projeto educativo aprofundando os debates", acredita a professora Juana Cerda, moradora de Sao Cristobal, no estado de Chiapas, sul do México.

O país também está mergulhado em uma onda de violência sem precedentes. O tráfico de drogas domina amplos territórios mexicanos, as políticas de segurança são ineficientes, a polícia é violenta e os homicídios tornaram-se, como no Brasil, uma triste rotina.

"A cidadania preferiu a mudança, pois não via avanços nas administrações passadas. Há um dever da classe política para responder à falta de segurança, emprego, saúde e crescimento econômico", reconhece o deputado Xavier Zuniga, eleito pelo PAN, partido que deve liderar o bloco oposicionista.

A América Latina viveu ciclos parecidos na última década e meia. Na maioria dos países, após um período de prosperidade, houve retrocesso e insatisfações. Obrador tem, portanto, a possibilidade de aprender com os erros de governos progressistas. Sua principal tarefa será impedir que durante o seu mandato o medo derrote a esperança.

Médicos cubanos chamados de “escravos” por Bolsonaro tinham renda maior que 99% dos brasileiros “livres”



Cubanos do Mais Médicos se despedem do Brasil


Após o presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL) dizer que os médicos cubanos são ‘escravos’, o jornalista Gilberto Dimenstein foi atrás de dados para fazer um comparação entre a renda do médico cubano e a renda dos brasileiros ‘livres’.  (E olha que Dimenstein é um jornalista que acreditava que Sérgio Moro era juiz de verdade!, pelo menos até ganhar um cargo no governo Bolsonaro). 

Dimenstein chegou a conclusão de que os médicos cubanos pertenceriam economicamente a classe mais rica do Brasil, ou seja, ao 1% mais rico.

Apesar de muito alta, a relação ainda deixou de fora o custo de vida em Cuba e no Brasil, o que aumenta ainda mais a riqueza do médico ‘escravo’ cubano em relação ao brasileiro ‘livre’.

O jornalista lembra que um médico cubano que vem ao Brasil trabalhar ganha salário mensal de R$ 3 mil líquidos – ou seja, já descontados os impostos. Também recebe casa e comida grátis, bancadas pelas perfeituras brasileiras. “Portanto, a renda líquida do médico cubano giraria no mínimo em torno de R$ 8 mil. Para um brasileiro ganhar essa renda líquida seria necessário um salário em torno de R$ 10 mil mensais – o que o coloca na classe A. Ou seja, os mais ricos”, diz Dimenstein.

Ele lembra que segundo o IBGE, a Renda média do brasileiro foi de R$ 1.268 em 2017; “Menos de 1% da população brasileira é rica. Isto significa que 1,5 milhão de pessoas ganha mais de R$ 8 mil (precisamente R$ 8.518,04). O salário médio per capita de uma família rica, desde que as quatro pessoas trabalhem, é de R$ 2.129,51. Ou seja, o “escravo” cubano faz parte de 1% mais rico do Brasil“, mostra Dimenstein.

Mas isso é só o começo da conversa comparativa entre os médicos cubanos ‘escravos’ e os brasileiros ‘livres’. O custo de vida em Cuba chega a ser 10 vezes menor do que o preço do custo de vida no Brasil. Um salário mínimo em Cuba gira em torno de 30 dólares enquanto no Brasil é de 265 dólares. Ao levar esser recursos para Cuba, os médicos ‘escravos’ se tornam ainda mais ricos.

E há mais diferenças: os médicos ‘escravos’ têm as melhores escolas e faculdades do país e os melhores hospitais e tratamentos gratuitamente. Ou seja, esse salário de R$ 3 mil em Cuba se torna um super-salário.

Vale lembra que o presidente eleito Jair Bolsonaro votou a favor da chamada Reforma Trabalhista, que retirou direitos dos trabalhadores brasileiros que ganham um salário mínimo.

Só para lembrar, um salário mínimo no Brasil não permite pagar nem plano de saúde e nem escola particular para os filhos. Mas é um valor que permite ser livre para sonhar que um dia ficarão ricos.

*Via DCM - Publicado originalmente na Carta Campinas*