Ex-presidente envia carta aos participantes da reunião do Diretório Nacional do PT*
O ex-presidente Luiz Inácio Lula
da Silva enviou [na última] sexta-feira 30 uma carta aos participantes da
reunião do Diretório Nacional do PT, que aconteceu em Brasília.
O petista, que se encontra preso na sede da Polícia Federal em
Curitiba há mais de 200 dias, aguarda o fim de um processo judicial em
que é acusado de ser dono de um imóvel do qual jamais teve as chaves ou
usufruiu por um só dia. Em sua carta, afirmou que "apesar de toda
perseguição, de todas as tramoias que fizeram contra nós, o PT continua
sendo o maior e mais importante partido popular deste país. E isso nos
coloca diante de imensas responsabilidades.
Leia, abaixo, a íntegra da carta:
"Companheiras e companheiros,
Do fundo do meu coração, agradeço por tudo o que fizeram neste
processo eleitoral tão difícil que vivemos, absolutamente fora da
normalidade democrática. Quero que levem meu abraço e minha gratidão a
cada militante do nosso partido, pela generosidade e coragem diante da
mais sórdida campanha que já se fez contra um partido político neste
país.
Agradeço à companheira Gleisi Hoffmann e a toda a nossa direção
nacional, por terem mantido o PT unido em tempos tão difíceis; por terem
sustentado minha candidatura até as últimas consequências e por terem
se engajado totalmente, com muita força, na candidatura do companheiro
Fernando Haddad.
Agradeço ao companheiro Fernando Haddad por ter se entregado de
corpo e alma à missão que lhe confiamos. Ele enfrentou com dignidade as
mentiras, a violência e o preconceito. Saiu das eleições como um líder
brasileiro reconhecido internacionalmente.
Agradeço à companheira Manuela D’Ávila e aos partidos que nos acompanharam com muita lealdade nessa jornada.
Saúdo os quatro governadores que elegemos, em especial a
companheira Fátima Bezerra, e também os que não conseguiram a reeleição
mas não desistiram da luta nem dos nossos ideais. Saúdo os senadores e
deputados eleitos e todos os que, generosamente, se lançaram candidatos,
fortalecendo a votação em nossa legenda.
A luta extraordinária de vocês nos levou a alcançar 47 milhões de
votos no segundo turno. Apesar de toda perseguição, de todas as
tramoias que fizeram contra nós, o PT continua sendo o maior e mais
importante partido popular deste país. E isso nos coloca diante de
imensas responsabilidades.
O povo brasileiro nos deu a missão de manter acesa a chama da
esperança, o que significa a defesa da democracia, do patrimônio
nacional, dos direitos dos trabalhadores e do povo que mais precisa.
Tudo isso está ameaçado pelo futuro governo, que tem como objetivo
aprofundar os retrocessos implantados por Michel Temer a partir do golpe
que derrubou a companheira Dilma Rousseff em 2016.
Esta não foi uma eleição normal. O povo brasileiro foi proibido
de votar em quem desejava, de acordo com todas as pesquisas. Fui
condenado e preso, numa farsa judicial que escandalizou juristas do
mundo inteiro, para me afastar do processo eleitoral. O Tribunal
Superior Eleitoral rasgou a lei e desobedeceu uma determinação da ONU,
reconhecida soberanamente em tratado internacional, para impedir minha
candidatura às vésperas da eleição.
Nosso adversário criou uma indústria de mentiras no submundo da
internet, orientada por agentes dos Estados Unidos e financiada por um
caixa dois de dimensões desconhecidas, mas certamente gigantescas. É
simplesmente vergonhoso para o país e para a Justiça Eleitoral que suas
contas de campanha tenham sido aprovadas diante de tantas evidências de
fraude e corrupção. É mais uma prova da seletividade de um sistema
judicial que persegue o PT.
Se alguém tinha dúvidas sobre o engajamento político de Sergio
Moro contra mim e contra nosso partido, ele as dissipou ao aceitar ser
ministro da Justiça de um governo que ajudou a eleger com sua atuação
parcial. Moro não se transformou no político que dizia não ser.
Simplesmente saiu do armário em que escondia sua verdadeira natureza.
Eu não tenho dúvida de que a máquina do Ministério da Justiça vai
aprofundar a perseguição ao PT e aos movimentos sociais, valendo-se dos
métodos arbitrários e ilegais da Lava Jato. Até porque Jair Bolsonaro
tem um único propósito em mente, que é continuar atacando o PT. Ele não
desceu do palanque e não pretende descer. Temos de nos preparar para
novos ataques, que já começaram, como vimos nas novas ações, operações e
denúncias arranjadas que vieram neste primeiro mês depois das eleições.
Jair Bolsonaro se apresentou ao país como um candidato
antissistema, mas na verdade ele é o pior representante desse sistema.
Foi apoiado pelos banqueiros, pelos donos da fortuna; foi protegido pela
Rede Globo e pela mídia, foi patrocinado pelos latifundiários, foi
bancado pelo Departamento de Estado norte-americano e pelo governo
Trump, foi apoiado pelo que há de mais atrasado no Congresso Nacional,
foi favorecido pelo que há de mais reacionário no sistema judicial e no
Ministério Público, foi o verdadeiro candidato do governo Temer.
Não teve coragem de participar de debates no segundo turno, de
confrontar conosco suas ideias para a economia, o desenvolvimento, a
geração de empregos, as políticas sociais, a política externa. E vai
executar um programa ultraliberal, de entreguismo e privatização, que
não foi apresentado aos eleitores e muito menos aprovado nas urnas.
Ele explorou o desespero das pessoas com a violência; a
indignação com a corrupção e a decepção com os políticos. Mas não tem
respostas concretas para nenhum desses desafios. Primeiro porque a
proposta dele para segurança é armar as pessoas, o que só vai aumentar a
violência. Segundo, porque Sergio Moro e a Lava Jato premiaram os
corruptos e corruptores da Petrobrás. A maioria está solta ou em prisão
domiciliar, gozando as fortunas que roubaram. E por fim, Bolsonaro é, de
fato, o representante do sistema político tradicional, que controla a
economia e as instituições no país.
As mesmas pessoas que elegeram Bolsonaro vão julgá-lo todos os
dias, pelas promessas que não vai cumprir e pelo que vai acontecer em
nosso país. Temos de estar preparados para continuar construindo, junto
com o povo, as verdadeiras soluções para o Brasil, pois acredito que,
por mais que queiram, não vão conseguir destruir nosso país.
O PT nasceu na oposição, para defender a democracia e os direitos
do povo, em tempos ainda mais difíceis que os de hoje. É isso que temos
de voltar a fazer agora, com o respaldo dos nossos 47 milhões de votos,
com a responsabilidade de sermos o maior partido político do país.
E como diz a companheira Gleisi, não temos de pedir desculpas por
sermos grandes, se foi o eleitor que assim decidiu. Queremos e devemos
atuar em conjunto com todas as forças da esquerda, da centro-esquerda e
do campo democrático, num exercício cotidiano de resistência.
Temos de voltar às ruas, às fábricas, aos bairros e favelas,
falar a linguagem do povo, nos reconectar com as bases, como disse o
Mano Brown. Não podemos ter medo do futuro porque aprendemos que o
impossível não existe.
Até o dia do nosso reencontro, fiquem com um grande abraço do
Luiz Inácio Lula da Silva
...
*Por Vinicius Segalla, na Carta Capital
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