03 julho 2017

'Da importância de, mais uma vez, Marco Aurélio Mello derrotar a Globo' (Viomundo)

Aurélio, antes e depois: a paz não foi comprada com um salário, mas com a integridade de quem sabe se respeitar

Por Luiz Carlos Azenha*
O ano é 2006. Sou destacado pela TV Globo para acompanhar o candidato do PSDB ao Planalto, Geraldo Alckmin. É minha primeira cobertura de uma eleição presidencial no Brasil.
É rotina bater papo sobre a cobertura nos intervalos do trabalho, em qualquer redação.
As conversas começam a produzir um consenso entre um grupo grande de colegas, alguns dos quais permanecem na emissora: a Globo quer evitar a reeleição de Lula e colocar Alckmin no Planalto.
Desde 2005, na cobertura do mensalão petista — vejam bem, o mensalão tucano, um teste regional do esquema, nunca foi chamado assim pela Globo, nunca mereceu investigação ou manchetes no Jornal Nacional — isso vem se tornando claro.
Marco Aurélio Mello, editor de economia do JN, conta que veio do Rio a ordem para “tirar o pé” das reportagens que relatam recordes na compra de material de construção, emprego na construção civil, vendas da linha branca de eletrodomésticos, etc., assuntos que em tese poderiam beneficiar Lula.
Por outro lado, a principal repórter de economia de São Paulo repete, para quem quiser ouvir, que o real vai derreter diante da perspectiva de reeleição. “Dólar a quatro”, prevê.
Pessoa do melhor caráter, não faz isso por má intenção: apenas repete o que ouve no ‘mercado’, cujos ‘especialistas’ sustentam as reportagens da Globo, do Bom Dia Brasil ao Jornal da Globo, desancando Lula.
Questiono a colega, cujas previsões mais tarde vão afundar feito a campanha de Alckmin no segundo turno.
Na redação paulista também se fala sobre o fato de a Globo escolher o tema a ser tratado pelos candidatos naquele espaço reservado à cobertura do dia-a-dia da campanha.
São 90 segundos para Lula, 90 para Alckmin, 90 para Cristovam Buarque — o Lula light financiado pelos tucanos — e 90 para Heloisa Helena.
Se existia uma denúncia contra Lula ou o governo Lula, o petista acabava desancado: tinha 90 segundos para se defender, contra 270 segundos de paulada dos adversários.
O ‘equilíbrio’, portanto, era mera formalidade, para inglês ver.
Outra surpresa: Alexandre Garcia deixa de aparecer apenas em programas estritamente jornalísticos e é visto, por exemplo, no programa de Ana Maria Braga, nunca atacando diretamente Lula ou seu governo, mas fazendo avançar temas de interesse dos adversários de Lula.
A repercussão das capas de revista aos sábados — sempre aquelas que faziam denúncias contra o PT — já haviam dado o que falar. A tal ponto que um grupo de jornalistas marcou reunião com o editor regional de Jornalismo para reclamar. Trata-se de um aspone, daquelas figuras sebosas que ascendem graças ao puxa-saquismo.
Como resultado do encontro, do qual não participei, sou escolhido para fazer uma reportagem sobre o escândalo das ambulâncias, atribuído ao PT mas que também envolve o ex-ministro José Serra, agora candidato tucano a governador de São Paulo.
A produtora Cecília Negrão é colocada no caso, mas sem qualquer recurso. Não há autorização nem mesmo para uma viagem a Piracicaba, no interior paulista, onde o sucessor de Serra no Ministério da Saúde era prefeito.
Ainda assim, conseguimos colocar em pé uma reportagem demonstrando que a grande maioria das ambulâncias superfaturadas entregues enquanto vigia o esquema o foi quando Serra era ministro, não no governo subsequente do PT.
Portanto, o escândalo que a mídia muitas vezes atribuiu exclusivamente aos petistas tinha tido origem “no governo anterior”, que é como William Bonner se referiu ao período de Fernando Henrique Cardoso certa vez, numa notícia que poderia comprometer o Príncipe.
Minha reportagem citando Serra não foi ao ar no dia previsto, Jornal Nacional de uma sexta-feira, não foi ao ar no sábado apesar de nossas reclamações — e até hoje ocupa uma gélida gaveta.
Com Lula reeleito, a dissensão interna na Globo teve duas consequências: o repórter Rodrigo Vianna não teve o contrato renovado, o editor Marco Aurélio Mello foi demitido e eu pedi rescisão antecipada de meu contrato, optando por aperfeiçoar meus conhecimentos sobre a internet num período sabático em Washington, ainda que às custas de um salário de executivo de multinacional.
Foi para não comprometer meu fígado.
Por outro lado, todos aqueles que apostaram as fichas nas omissões e manipulações da Globo tiveram ascensão meteórica: foram promovidos no Brasil, alcançaram cargos no Exterior ou ocuparam espaços nobres na leitura de teleprompters.
Mas… Ali Kamel perdeu. No que realmente interessa, a Globo foi derrotada.
O que era do conhecimento de um pequeno grupo de profissionais da emissora tornou-se assunto nacional, denunciado por quem estava lá e testemunhou tudo nos bastidores.
O que no passado foi assunto de acadêmicos — as manipulações da Globo — tornou-se tema debatido por milhões de brasileiros, ganhou as ruas como nunca nos cartazes dos movimentos sociais e é hoje uma das pautas mais importantes diante da sociedade brasileira.
As ações na Justiça contra desafetos foram a consequência lógica desta derrota política. A blogosfera foi acionada em massa. Os irmãos Marinho se esconderam atrás do preposto, pois ficava ruim deixar tão explícita uma disputa entre Golias e os pobres Davi.
Seria ingenuidade imaginar que um Marco Aurélio Mello ficaria de bico fechado.
Olhem um trecho do currículo dele:
1. Prêmio Vladimir Herzog — 1993 (Programa Olhar Brasileiro)
2. Prêmio SENAI/CNT — 2004 (Novo Emprego)
3. Prêmio CNT de Jornalismo — 2005 (Série Transportes – Jornal Nacional)
4. Grande Prêmio Globo de Jornalismo — 2005 (Morte do Papa)
5. Melhor Cobertura Prêmio Globo — 2005 (Morte do Papa)
6. Menção Honrosa Prêmio Globo de Jornalismo — 2005 (Crise Política)
7. Prêmio Vladimir Herzog — 2008 (Saúde Pública, Salve-se Quem Puder)
8. Prêmio CNT de Jornalismo — 2010 (Cadê Meu Carro? – Jornal da Record)
9. Prêmio Direitos Humanos de Jornalismo — 2012 (Doutor Marcelo, Diário do Inferno)
10. Prêmio Direitos Humanos de Jornalismo — 2013 (Perseguidos)
11. Grande Prêmio Petrobras de Jornalismo — 2013 (Vidas Sem Lar) 
Trata-se, na verdade, de calar a dissensão interna.
De fazer estalar a chibata para servir de exemplo — ah, os métodos da Casa Grande são sempre os mesmos…
É uma forma de deixar claro aos colegas de Marco Aurélio que ficaram na Globo que é muito mais confortável tocar a vida sem se importar com as maquinações dos irmãos Marinho. Que não vale questionar, nem denunciar.
Os R$ 40 mil reais que Marco Aurélio foi condenado a pagar a Ali Kamel — por um texto ficcional! — tem, assim, também um caráter político, uma espécie de vingança financeira.
Cabe, portanto, derrotar a Globo mais uma vez.
Como?
Demonstrando solidariedade, com a doação de pequenas quantias, para que ao final do processo um grande número de pessoas diga a Ali Kamel e à Globo: o Marco Aurélio não está só, nós sabemos o que vocês fizeram no verão passado e nem com todo vosso poder na Justiça, no Congresso e no Executivo, nem com bilhões de reais vocês serão capazes de comprar nosso silêncio.
Doe 10 reais, o valor é o de menos: trata-se de mostrar ao império de pés-de-barro que não temos medo dele.
Para derrotá-los nesta pequena batalha, clique aqui.
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*Jornalista, Editor do Viomundo (fonte desta postagem)

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