28 janeiro 2009

'Todas as vozes levam à Belém'








Movimento de Mídia Livre debate estratégias de ampliação

O jornalista gaúcho Marcelo da Silva Duarte, enviado especial da Agência Carta Maior ao FSM, nos conta como foi o Fórum Mundial de Mídia Livre, evento integrante da 9ª edição do Fórum Social Mundial que está ocorrendo em Belém/PA:

Neste janeiro, todas as vozes levam à Belém. Veículos independentes de produção midiática e ativistas da comunicação de diversos países encontram-se na capital paraense, de 26 a 27 de janeiro, para discutir estratégias de estruturação e ampliação do midialivrismo durante o Fórum Mundial de Mídia Livre (FMML), evento que integra as atividades do Fórum Social Mundial 2009.

Conseqüência do I Fórum de Mídia Livre, realizado no Rio de Janeiro em junho de 2008, evento que reuniu mais de 500 ativistas, jornalistas, professores, estudantes e empresários, o FMML tem como objetivos construir alternativas de produção de informação, estruturar politicamente a mídia livre internacional, discutir alternativas de financiamento e de compartilhamento de conteúdo, propagar novas possibilidades de atuação disponibilizadas pelas novas tecnologias e somar forças de atuação nas frentes diversas de democratização da comunicação.

Na abertura do Fórum, na manhã do dia 26, foram realizadas duas mesas de discussão, com os temas "Como ampliar o Midialivrismo" e "A Mídia e a Crise". À tarde, o "Seminário de Comunicação Compartilhada no FSM" e as "Atividades Autogestionadas", nas quais o participante do Fórum tornou-se seu protagonista, deram sequencia às discussões.

Na mesa de abertura do FMML, Jonas Valente, do Intervozes, José Soter, da Associação Brasileira de Radiodifusão Comunitária (Abraço), Ivana Bentes, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Renato Rovai, da Revista Fórum, Sérgio Amadeu, da Cásper Líbero, Maria Pía Matta, da Associação Mundial de Rádios Comunitárias (Amarc), e Ana Castro, da Overmundo, discutiram como ampliar o movimento midialivrista.

Para Jonas Valente, o conceito de Mídia Livre vai ao encontro da idéia de comunicação como direito humano, uma das bandeiras do Intervozes. Ampliar a movimento de mídia livre, nesse sentido, equivale à democratização do debate público. Não bastam, no entanto, ações midialivristas isoladas: é preciso disputar a verba pública disponível para a comunicação, o que torna o Estado um parceiro nesse processo de fortalecimento da democracia.

José Soter, da Abraço, afirmou que a inclusão pela pluralidade, a gestão coletiva e a horizontalização das rádios comunitárias são um exemplo de democratização da informação. O Estado, mediador de conflitos no modo de produção capitalista, deve intervir para ampliar o midialivrismo. A democratização do acesso à tecnologia de radiodifusão nos últimos dez anos, que possibilitou o crescimento do setor, já é uma iniciativa de ampliação da Mídia Livre no Brasil, finalizou.

É preciso ampliar o conceito de quem faz mídia hoje no Brasil, segundo Ivana Bentes. Fazedores de mídia devem ser pensados como um movimento em constante diálogo com o Estado e com o terceiro setor. Midialivristas devem se apropriar das novas tecnologias de comunicação a fim de ampliar sua atuação e oxigenar a mídia tradicional, hoje presa ao corporativismo e a uma linguagem reducionista e reprodutora de preconceitos sociais de toda ordem. Os Pontos de Mídia, inspirados nos Pontos de Cultura do Ministério da Cultura, são exemplos de apropriação das novas tecnologias de comunicação pela sociedade.

Para Renato Rovai, a ampliação da Mídia Livre como movimento unificado passa necessariamente pelo apoio do Estado, mas não de acordo com a lógica que até então regulou sua relação com a mídia tradicional. É preciso se pensar em novos modelos de financiamentos a veículos de informação. As reivindicações da Mídia Livre, que é um movimento político e revolucionário, devem ser diversas e plurais, livres das influências do mercado.

Segundo Sérgio Amadeu, a rede mundial de computadores fundamenta-se na interação: se é receptor e produtor de conteúdos simultaneamente. Ao contrário das mídias tradicionais, a rede mundial não está sob controle, seja público ou privado. O difícil, na rede, continua Amadeu, é ser ouvido, ao contrário do paradigma tradicional da comunicação,onde o maior problema é falar. Entretanto, deve-se atentar para o problema da concentração da informação na rede, que pode conduzir a uma espécie de “vigilantismo”, nas palavras de Amadeu, limitando, assim, a Mídia Livre.

Para Maria Pía Matta, da Associação Mundial de Rádios Comunitárias, democracia pressupõe respeito à liberdade de expressão e ao direito à comunicação, demanda que não pode ser desconectada de outras reivindicações sociais. Os governos da América Latina, segundo Pía Matta, têm gradativamente reconhecido a comunicação como um direito ao estimular a liberdade de expressão. Os governos da Bolívia, do Equador e do Uruguai recentemente deram um grande passo nesse sentido, ao colocarem os interesses comunitários no mesmo nível dos interesses públicos e privados.

Ana Castro, da Overmundo, afirmou que a Mídia Livre se apropriou, nesta última década, das novas tecnologias de informação, o que pode guardar alguma relação com a tentativa de criminalização generalizada da conduta dos fazedores de mídia na rede mundial de computadores. Os espaços e brechas proporcionados pelas novas tecnologias devem continuar a ser ocupados, sem, no entanto, reproduzir o modelo tradicional de comunicação.

A plenária de encerramento do Fórum Mundial de Mídia Livre está prevista para esta terça, às 09:00, na Escola de Aplicação da Universidade Federal do Pará. Após o encerramento do FMML, os midialivristas saem em comitiva até o local onde terá início a marcha de abertura do Fórum Social Mundial.

*Fonte: www.cartamaior.com.br

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