25 julho 2009

Poema














GAUDÉRIO

Na Estância, toda semana,
campereei de sol a sol.
E hoje, sábado, com gana,
me corto a ver a tirana,
com duas braças de sol.

No zaino-negro galhardo,
abro o pala em cima da anca.
E a larga bombacha branca,
sobre a badana do pardo.

Fogoso, o pingo estradeiro
sabe onde vou e onde vai!
E segue, barbeando o freio,
a galopito no mais.

Nas quebradas e coxilhas,
as canções das sangas claras
estão pedindo silêncio
para os ruflos do meu lenço
e o alvoroço do meu pala.

Sobe dos pastos, do chão,
de toda a quieta querência,
um cheiro fino de essência
- chinoca e manjericão.

Chego enfim... A paisanita
diz-me adeus, num lindo momo,
com a graça humilde e esquisita
que hai na flor do cinamomo.

E no aconchego do rancho,
dentro da noite invernal,
paira o campeiro perfume
da flor guaxa entre o chilcal.

Cai geada... O flete relincha,
tranqueando à soga arrepiado.
Olho a noite pela frincha:
Até o silêncio é gelado.

É um frio que ninguém se arrima!
que hai até, em noite daquelas,
neve coalhada lá em cima,
nas pocitas das estrelas.

O ar parece que corta!
E os nossos peitos amantes,
como os fogões dos andantes,
acesos na noite morta!...

Aureliano de Figueiredo Pinto

(Do livro Romances de Estância e Querência – Marcas do Tempo -
Ed. Globo - Porto Alegre/RS - 1959)

4 comentários:

Unknown disse...

Júlio,sua pausa semanal é excelente.Conheço poetas gaúchos não divulgados aqui.Pesquiso e encontro:
"Com seu vigoroso regionalismo,o nosso idioma,longe de empobrecer-se,adquiriu novas e cintilantes riquezas."

Ardente e apaixonado.

Abrs!

JÚLIO GARCIA disse...

Que bom que gostastes, Yvy! O Aureliano, para mim e para muitos, foi - e é ainda - o melhor poeta regionalista gaucho. Lamentavelmente, pouco conhecido até mesmo no RS.
Essa 'pausa' é uma verdadeira 'salada poética', uma 'metamorfose ambulante', como diria o Raul... tem para todos os gostos, direcionado principalmente para os especiais, como é o teu...
Abração!

Unknown disse...

Júlio,conheci hoje Mauro Kwitko.
Vi o video da música,sempre à música,Mal Necessário cantada pelo Ney Matogrosso.É gaúcho,fiz pesquisa e encontrei:

http://www.maurokwitko.com.br/biografia.htm

Abrs!

Anônimo disse...

"(...) Nóis fumo naquela toada ...
nessa dança desgranida
em que um taura arrisca a vida
só pra honrar a patacoada! (...)

"Tobiano Capincho", também em "Romances de Estância e Querência", imortalizado por Jayme Caetano Braum e Noel Guarany. Vou te enviar por email.