10 agosto 2009

Coluna C & A















Crítica & Autocrítica – nº 58

* A coluna não poderia deixar de registrar os acontecimentos verificados esta semana no RS, agora amplamente divulgados pela imprensa (depois de furada a prolongada blindagem realizada pela ‘mídia amiga’), que atingiram - de forma praticamente letal - o centro do governo do Estado, inclusive – e principalmente - a (triste) figura da governadora Yeda Crusius (PSDB), cujos desmandos, ações e omissões originaram uma série impressionante de irregularidades (que a oposição vinha há meses denunciando), e que foram, competente e corajosamente, enumeradas pelos Procuradores do MPF na Ação Civil por Improbidade Administrativa que os mesmos encaminharam à Justiça Federal de Santa Maria. Foi também pedido na referida Ação o afastamento da governadora Yeda e o bloqueio dos seus bens, como também dos demais indiciados, incluindo seu ex-marido, deputados (do PP e PMDB), assessores, o presidente do Tribunal de Contas (ex-deputado pedetista João Luis Vargas), etc... Concomitantemente foi, até que enfim, instalada a CPI da Corrupção da AL gaúcha e formalizado o pedido de impeachment da governadora.
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* Tudo parece indicar que se trata agora do ‘início do fim’ desse (des)governo que tantos escândalos, autoritarismos, estragos e vergonha tem causado ao ‘Rio Grande velho de guerra’, como diria aquele senador ‘parlapatão, ético do Mampituba para cima’. E, coisas da vida, os primeiros ratos já começam a abandonar o navio...
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* Segundo consta na petição inicial da Ação Civil Pública por Improbidade Administrativa movida pelo Ministério Público Federal (MPF), a eventual manutenção nos cargos de Yeda Rorato Crusius e demais réus seria “inoportuna e tumultuária”, uma vez que os atos dos mesmos “denotam desprezo no trato da coisa pública e indiciam total falta de limites entre o certo e o errado”. E mais: “(...) Os demandados agiram de forma imoral, pessoal, desleal, desonesta e improba, valendo-se da condição de ou em conjunto com agentes políticos e servidores públicos para obterem vantagens pessoais, utilizando-se dos respectivos cargos, de bens públicos e verbas públicas afetadas ao desenvolvimento de serviços públicos em área sujeita a suas atribuições funcionais e políticas”. Quer mais?
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* No final de semana, a determinada e corajosa juíza Simone Barbisan Fortes, da 3ª Vara da Justiça Federal de Santa Maria, segundo foi divulgado pela mídia, autorizou o presidente da AL, deputado Ivar Pavan (PT), a consultar os autos da Ação Civil Pública movida pelo MPF contra a governadora Yeda e aliados. A juíza decidirá, nos próximos dias, se também vai liberar a tirada de cópias do processo. Seria de bom alvitre que a sociedade pudesse, finalmente, inteirar-se por completo das denúncias sobre as ações nefastas cometidas pelo grupo criminoso que se apropriou de parte considerável das finanças públicas gaúchas.
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* Já o deputado Miki Breier (líder da bancada do PSB), que é corregedor da Comissão de Ética da Assembléia Legislativa, afirmou que irá solicitar à juíza federal uma cópia do documento e a quebra de sigilo do processo. Enfatiza o deputado Miki que “não é bom nem para a sociedade gaúcha, nem mesmo para os réus que o processo tramite em segredo de justiça”.
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* Coincidência ou não, o meu conterrâneo, jornalista, bacharel em Direito e sociólogo Júlio César de Lima Prates (atualmente sem partido) estará lançando (no próximo dia 13, na URI/Santiago, e dia 18, no Memorial do RS, em Porto Alegre) seu mais recente - e polêmico - livro: ‘A Arte de Enganar o Povo’. Segundo Prates, ‘“o livro é um texto leve, sintético e nada lembra os artigos maçantes e cansativos. A temática é a política, mas sob uma ótica diferente”. Adianta ainda que escreveu-o inicialmente ‘com escárnio, humor e deboche’ e que o livro versa sobre os embustes, golpes e manipulações que os políticos usam para enganar as pessoas. O livro tem o patrocínio de empresários locais e apoio do governo do Estado do RS, através da Secretaria Estadual da Cultura. À conferir. (...)
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* Recebi recentemente convite (que muito me honrou, mas que ainda estou analisando) para coordenar um dos projetos do PRONASCI (Programa de Combate à Criminalidade com Cidadania) na região da Grande Porto Alegre. O PRONASCI é um dos mais importantes e ousados projetos desenvolvidos pelo Ministério da Justiça, sob a batuta do ministro Tarso Genro, em parceria com as prefeituras dos mais importantes (e populosos) municípios brasileiros. Também estou avaliando outros convites para retornar à área pública, aliás, o principal foco da Pós-graduação (acima referida) que estou realizando. Trabalhar na área pública, confesso, me traz muita satisfação, pois também alimento a convicção de que tenho condições de contribuir, mesmo que modestamente, para o aprimoramento e o melhor funcionamento de nossas tão questionadas (às vezes injustamente, às vezes não) instituições. Afinal, já são mais trinta anos de uma militância ininterrupta (que se pretende coerente) e de dez de uma rica experiência acumulada entre assessoria parlamentar federal, governo do Estado e governo Federal. (...)
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* Então, estou analisando todas elas (as propostas) com carinho e, sobretudo, com muita responsabilidade. Mas ainda faltam alguns ajustes e definições. A experiência que estou tendo com o trabalho que estou realizando na área da advocacia (Civil, principalmente) tem sido muito interessante e gratificante, mas ... a área pública é desafiadora e me atrai bastante. Não quero frustrar ninguém – muito menos frustrar-me – novamente; por isso, a cautela é sempre necessária. Só que, por enquanto, como as coisas ainda estão em ‘tratativas’, prefiro não declinar mais detalhadamente os convites, que ficarão para o momento oportuno.
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* As crises (reais e/ou artificiais) da esfera política (agora o Senado e Sarney são a bola da vez, juntamente com a – ainda – 'mandatária maior' do governo estadual), têm hegemonizado as manchetes e os telejornais, juntamente com a pandemia da gripe A. Continuo pensando que, mesmo que muitas pessoas – e principalmente a mídia monopolista – tentem passar diariamente a idéia de que a política ‘é coisa suja, antiética, de oportunistas etc.’, temos que saber separar o ‘joio do trigo’ e não nos deixarmos levar pelo ‘senso comum’, contaminado pelas campanhas rasteiras e interesseiras que transforma tudo em tábula rasa e, ao fim e ao cabo, termina ajudando aqueles que se locupletam da política para conquistar seus interesses escusos, egoístas, anti-povo e antinacionais, ou seja, as ditas ‘classes dominantes’. Como diz o ditado, tem muito lobo por aí com pele de cordeiro, tentando tirar – sempre – proveito da situação.
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* Eu, como ‘ser’ e como ‘agente’ político que sou, nunca me envergonhei - e pretendo não me envergonhar jamais - da minha trajetória política, em particular do trabalho que tive na esfera pública, com meus acertos e com meus erros (os quais assumo em plenitude), mas, sobretudo, jamais descuidando de um princípio fundamental representado por uma palavra chamada ‘Ética’. Procuro sempre distinguir a mesquinha e viciada ‘política minúscula’ (clientelista, fisiológica, nepotista, assistencialista etc.) da verdadeira Política com ‘P’ maiúsculo. Também não tenho visão maniqueísta ou sectária, de achar que tudo é perfeito do lado que estou, e que todos os defeitos estão somente no ‘outro lado’. Quem me conhece realmente, quem priva comigo e acompanha minha militância, sabe muito bem disso. E sabe ainda que, além da crítica que faço reiteradamente aos partidos tradicionais (de vários matizes, a maioria de direita) que traem, enganam e infelicitam nosso sofrido povo, também tenho sido duro crítico (internamente), sempre que necessário, dos rumos trilhados pelas direções do partido que ajudei a fundar e construir, o PT. Assim sou e assim pretendo continuar a ser; quem viver, verá...
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* Ficar ... ou sair do PT? Dilema doloroso, preocupante e, lamentavelmente, vivenciado hoje por muitos militantes honestos, históricos, inclusive por fundadores do PT, como é o caso da combativa senadora acreana Marina Silva, ex-ministra do Meio Ambiente do governo Lula, a quem muito respeito e admiro. Marina Silva está sendo cortejada agora pelo PV para concorrer à presidência da República nas próximas eleições. A senadora está muito desencantada com os rumos seguidos ultimamente pelo partido – e com a política do governo federal em relação ao meio ambiente. Bombeiros já entraram em ação. A decisão final da senadora deverá ser tomada nos próximos dias. Mas esse debate não deve parar aí...

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* Acho demasiado oportuno, por tudo o que vimos acima - e para encerrar a coluna - a transcrição da citação que segue, oriunda da obra do grande poeta, militante revolucionário e dramaturgo alemão Bertold Brecht (foto acima), extraída do texto ‘O Analfabeto Político’, que não envelhece jamais:

“O pior analfabeto é o analfabeto político. Ele não ouve, não fala, nem participa dos acontecimentos políticos. Ele não sabe que o custo de vida, o preço do feijão, do peixe, da farinha, do aluguel da casa, do sapato e do remédio dependem das decisões políticas.
O analfabeto político é tão burro que se orgulha e estufa o peito dizendo que odeia a política. Não sabe o imbecil que, da sua ignorância política, nasce a prostituta, o menor abandonado, e o pior de todos os bandidos, que é o político vigarista, pilantra, corrupto e lacaio das empresas nacionais, multinacionais e dos exploradores do povo. “ (Por Júlio Garcia, especial para ‘O Boqueirão’)

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*Crítica & Autocrítica - coluna que escrevo (i)regularmente para o Blog 'O Boqueirão'.

**Leia esta, na íntegra, no end. http://oboqueirao.zip.net/

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