21 agosto 2009

Uma morte anunciada...







Trabalhador sem-terra é assassinado em São Gabriel

Na manhã de hoje, durante desocupação promovida pela Brigada Militar gaúcha na Fazenda Southall (ocupada há dias pelo MST), município de São Gabriel/RS, foi morto o trabalhador rural Elton Brum da Silva, de 44 anos. Segundo foi divulgado por fontes ligadas ao Hospital Santa Casa de Caridade, ele teria sido atingido por um disparo de arma de fogo na região do tórax. Mais tarde, foi confirmado que o tiro, oriundo de uma espingarda calibre 12, foi desferido pelas costas. Durante a repressão ocorrida na fazenda mais de uma dezena de pessoas foram feridas, algumas com certa gravidade.

O governo do Estado do Rio Grande do Sul (envolvido em denúncias e mais denúncias de corrupção), também tem se caracterizado por tratar os movimentos sociais, através da BM, como 'caso de polícia', usando e abusando de violência, especialmente contra o MST, professores e estudantes. A morte de Elton Brum da Silva, portanto, é praticamente uma 'morte anunciada'.

O MST, em nota divulgada no seu site http://www.mst.org.br/node/7970, assim manifestou-se: "O MST lamenta com pesar o ocorrido e responsabiliza os governos e a Justiça. Afinal, é de conhecimento público a truculência usada pela Brigada Militar nas ações de despejo. Mesmo assim, os poderes públicos optam por tratar as questões sociais, como a Reforma Agrária, como caso de polícia."

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*ET: Agora à tarde, o MST divulgou nova Nota, que publicamos à seguir:

NOTA PÚBLICA SOBRE O ASSASSINATO DE ELTON BRUM PELA BRIGADA MILITAR DO RIO GRANDE DO SUL

O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra vem a público manifestar novamente seu pesar pela perda do companheiro Elton Brum, manifestar sua solidariedade à família e para:

1. Denunciar mais uma ação truculenta e violenta da Brigada Militar do Rio Grande do Sul que resultou no assassinato do agricultor Elton Brum, 44 anos, pai de dois filhos, natural de Canguçu, durante o despejo da ocupação da Fazenda Southall em São Gabriel. As informações sobre o despejo apontam que Brum foi assassinado quando a situação já encontrava-se controlada e sem resistência. Há indícios de que tenha sido assassinado pelas costas.

2. Denunciar que além da morte do trabalhador sem terra, a ação resultou ainda em dezenas de feridos, incluindo mulheres e crianças, com ferimentos de estilhaços, espadas e mordidas de cães.

3. Denunciamos a Governadora Yeda Crusius, hierarquicamente comandante da Brigada Militar, responsável por uma política de criminalização dos movimentos sociais e de violência contra os trabalhadores urbanos e rurais. O uso de armas de fogo no tratamento dos movimentos sociais revela que a violência é parte da política deste Estado. A criminalização não é uma exceção, mas regra e necessidade de um governo, impopular e a serviço de interesses obscuros, para manter-se no poder pela força.

4. Denunciamos o Coronel Lauro Binsfield, Comandante da Brigada Militar, cujo histórico inclui outras ações de descontrole, truculência e violência contra os trabalhadores, como no 8 de março de 2008, quando repetiu os mesmos métodos contra as mulheres da Via Campesina.

5. Denunciamos o Poder Judiciário que impediu a desapropriação e a emissão de posse da Fazenda Antoniasi, onde Elton Brum seria assentado. Sua vida teria sido poupada se o Poder Judiciário estivesse a serviço da Constituição Federal e não de interesses oligárquicos locais.

6. Denunciamos o Ministério Público Estadual de São Gabriel que se omitiu quando as famílias assentadas exigiam a liberação de recursos já disponíveis para a construção da escola de 350 famílias, que agora perderão o ano letivo, e para a saúde, que já custou a vida de três crianças. O mesmo MPE se omitiu no momento da ação, diante da violência a qual foi testemunha no local. E agora vem público elogiar ação da Brigada Militar como profissional.

7. Relembrar à sociedade brasileira que os movimentos sociais do campo tem denunciado há mais de um ano a política de criminalização do Governo Yeda Crusius à Comissão de Direitos Humanos do Senado, à Secretaria Especial de Direitos Humanos, à Ouvidoria Agrária e à Organização dos Estados Americanos. A omissão das autoridades e o desrespeito da Governadora à qualquer instituição e a democracia resultaram hoje em uma vítima fatal.

8. Reafirmar que seguiremos exigindo o assentamento de todas as famílias acampadas no Rio Grande do Sul e as condições de infra-estrutura para a implantação dos assentamentos de São Gabriel.

Exigimos Justiça e Punição aos Culpados!

Por nossos mortos, nem um minuto de silêncio. Toda uma vida de luta!

Reforma Agrária, por justiça social e soberania popular!

Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra

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*Foto: BM reprime manifestantes do MST no interior do RS, no início do ano passado.

(Postagem atualizada às 20,15 h de 21/08/2009).

Um comentário:

Miguel Graziottin disse...

Lamentável, a vida de um homem não vale mais nada..principalmente se for "daquela raça"....
Viva o MST!
Viva a luta dos trabalhadores!
www.miguelgrazziotinonline.blogspot.com