12 abril 2011

1º Fórum da Igualdade


Painelistas não acreditam em liberdade sem igualdade

Porto Alegre/RS - O segundo dia do Fórum da Igualdade iniciou com o Painel Democratização da Democracia: Existe Liberdade sem Igualdade?, com o dirigente nacional do MST João Pedro Stédile e o professor Pedrinho Guareschi. Os debatedores foram o escritor Vito Gianotti e a jornalista Verena Glass.

O dirigente do MST João Pedro Stédile afirmou ser urgente e necessário que os movimentos sociais, as universidades, a opinião pública discutam os problemas históricos que nos tornaram uma sociedade tão desigual e injusta. Ele levantou o que identifica como os principais problemas da classe trabalhadora, fornecendo uma série de dados que comprovam que o Brasil está longe de ter igualdade.

O primeiro ponto foi a concentração da riqueza, muito maior do que a concentração da renda, segundo ele. Citou o estudo Atlas Social do Brasil, realizado pelo IPEA, importante instrumento para subsidiar o debate. Conforme Stédile, 1% de famílias são donas de 48% do PIB nacional. Essa mesma concentração aparece na concentração de terras e minérios, onde também 1% de proprietários no Brasil são donos de 46% das terras. Nas empresas, 33% do volume negociado no Brasil está na mão de 100 empresas. Junto com a concentração, ele citou a herança da sociedade escravocrata, o analfabetismo, a falta de moradia e a destruição do meio ambiente.

“Vemos cada vez mais desequilíbrios, desastres permanentes. Isso é consequência direta da forma irresponsável que o capital vem se apropriando dos recursos naturais do país”, salientou. Stédile também falou da campanha contra o uso dos agrotóxicos, a única maneira do capital se desenvolver na agricultura. “O agronegócio não produz alimento, mas sim lucro. Para isso, usam cada vez mais veneno. Nenhum é biodegradável. Esses venenos matam os seres vivos no solo, matam a água e ficam nos alimentos. “O Brasil tem uma incidência de 40 mil novos casos de câncer de estômago por ano, e a causa são os alimentos que ingerimos. Esse problema é grave”.

Precisamos ter claros os nossos valores

O professor Pedrinho Guareschi pediu permissão para filosofar sobre os conceitos de liberdade e igualdade, incluindo a fraternidade, os três pilares da revolução francesa. Ele tratou de três pontos: a sociedade que temos, o que é liberdade e igualdade e o que a comunicação tem a ver com isso.

Guareschi chamou as visões de mundo de que discorreu de cosmovisões. Diferenciou as visões de ser humano, valores, movimentos históricos e comportamentos nas forças em luta: liberalismo, comunitário-solidária e totalitário-massificadora. “Para o liberalismo, o ser humano é um indivíduo que não tem nada a ver com os outros, se tornou uma peça-máquina. Na opinião do outro fórum, liberdade é fazer o que se quer. Já na nossa visão, a comunitário-solidária, o ser humano é pessoa=relação. Algo que não pode ser se não tem o outro. Nós somos os outros, mas construímos subjetivamente nossa singularidade. Na nossa visão, somos companheiros. Não somos indiferentes ao outro. Somos solidários. Solidariedade no sentido de sólido. Sinônimo de sindicato. Aquele que age junto. Na prática, quem briga, sabe o que é solidariedade”, explicou.

O professor também destacou que muita gente confunde igualdade com igualitarismo. Para Guareschi, a formulação de Boaventura Souza Santos é a que melhor defini a sua conceituação de igualdade: “Devemos lutar pela igualdade sempre que a diferença nos inferioriza, mas devemos lutar pela diferença sempre que a igualdade nos descaracteriza.” É por essa sociedade que brigamos, disse ele.

Sobre a comunicação, lembrou como as famílias que têm o monopólio dos meios no país se estabeleceram. E criticou que o produto da comunicação passa a ser uma mercadoria e a finalidade da empresa apenas o lucro. “A nossa única alternativa é a ênfase no princípio da participação, democracia versus cidadania, cidadania como participação”. Guareschi finalizou colocando as tarefas que considera urgentes: resgatar a comunicação como serviço, comunicação como direito humano e cidadania, passar de uma democracia representativa para uma democracia participativa e a criação de conferência e conselhos.


Os quatro cavaleiros do apocalipse


O escritor Vito Giannotti iniciou dizendo que este fórum só poderia ser em Porto Alegre, berço do Fórum Social Mundial e de uma história de lutas. Assim como Stédile, afirmou que não há democracia, pois não temos igualdade. Para sustentar sua afirmação, citou matéria da revista Veja sobre educação no RJ.

A reportagem rotula crianças da favela, todas negras, de filhos de traficantes, muitos já na criminalidade. “Com isso, a revista condena milhares de crianças que moram nas favelas. Elas nunca vão chegar a uma universidade. Tem mais estudantes negros estudando medicina em Cuba do que no Brasil. Cadê a igualdade”, questiona.

Vito defendeu a revisão de todas as concessões de rádio e TV e suas redistribuições. “Porque os trabalhadores não tem uma rádio FM. Deveríamos ter uma TV dos trabalhadores em cada estado. Quem disse que tem quer ser de direita pra ter concessão", provocou.

Segundo Vito, a Veja, a Globo, a Folha S.Paulo e o Estado de S.Paulo são os quatro cavalheiros do apocalipse. “Eles não querem conselho, por exemplo, porque vai limitar as sesmarias deles. Por isso, chamam de ditadura. Mas não adianta xingar, temos que fazer. Temos que nos convencer que ou damos passos na democratização no governo Dilma ou a direita volta. E para convencer precisamos ter 60 mil pessoas na rua, seguindo o exemplo da Argentina.

Para finalizar, Vito afirmou ser uma vergonha não termos no Brasil um jornal de esquerda. “Em 1918, tivemos 2, em 1945, eram 18. Semanal é pouco. A notícia é diária. Nós temos condições de ter uma revista semanal. O veneno da Veja chega toda semana a casa das famílias”. (...)

*Por Katia Marko, jornalista, integrante do Núcleo Piratininga de Comunicação

Fonte: http://www.forumdaigualdade.org.br/

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