07 julho 2016

Renúncia de Cunha faz parte de 'acordão' e de estratégia de Temer, dizem parlamentares

Segundo avaliações de deputados e senadores, Cunha renunciou para manter o mandato. Para Lindbergh Farias, estratégia conta "com conivência de PSDB e DEM e regência do presidente interino"
por Redação RBA*

Temer e Cunha
Para deputada Maria do Rosário, “Cunha exerce poder no governo Temer, que nasceu como obra sua"
São Paulo – Deputados que têm trabalhado pela cassação do mandato do agora ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha (PMDB-RJ) avaliam que sua renúncia obedeceu a uma estratégia de tentar salvar seu mandato e se relaciona com interesses do presidente interino, Michel Temer. Essa, por exemplo, é a avaliação do senador Lindbergh Farias (PT-RJ).
Para ele, “a renúncia de Cunha tem cheiro de pizza e o cozinheiro responsável é Michel Temer”. “A cena do crime está montada: Eduardo Cunha renuncia à presidência da Câmara, mas mantém o mandato. Com isso, passa a articular a candidatura do seu sucessor, que terá a missão de evitar a cassação do seu chefe. Tudo isso com a conivência de PSDB e DEM e a regência do presidente interino Michel Temer”, afirma Lindbergh.
Alessandro Molon (Rede-RJ) adverte: "Nós não vamos deixar de ficar alertas e não vamos deixar que passem acordos espúrios nem manobras. Vamos votar a cassação dele (Cunha), de preferência na semana que vem, sob o ponto de vista regimental".
Com análise semelhante, o deputado federal Henrique Fontana (PT-RS) disse que “a renúncia é fruto de um acordo entre Cunha e o golpista Michel Temer para livrar o deputado da cassação de seu mandato”.
O deputado Paulo Teixeira (PT-SP) tem a mesma opinião. “A renúncia foi articulada com Michel Temer e outros aliados com dois objetivos. Salvar seu mandato de deputado federal e emplacar um sucessor na presidência da Câmara dos Deputados”, disse o parlamentar em sua página no Facebook. “Cassaremos seu cargo de deputado e evitaremos que ele, juntamente com Temer, coloque um de seus correligionários para assumir o cargo de presidente da Câmara”, promete Teixeira.
Segundo a deputada Maria do Rosário (PT-RS), “a renúncia de Cunha não encerra seus malfeitos, portanto, é responsabilidade dos parlamentares votarem sua cassação em plenário”. Para ela, “Cunha exerce poder no governo Temer, que nasceu como obra sua. Temer não deve o lugar que ocupa ao povo”, registrou a deputada gaúcha em sua conta no Twitter.
Com a renúncia, a Câmara tem agora um prazo de cinco sessões para realizar nova eleição para escolher o próximo presidente da Casa.
O deputado Jean Wyllys (Psol-RJ) disse, em vídeo postado no Facebook, que a renúncia de Cunha “tem a ver com a vontade dele de salvar seu mandato”. O parlamentar do Rio de Janeiro destacou em sua fala que chama a atenção na carta de renúncia a maneira “como ele se vitimizou”. “Ele quis se mostrar como vítima apelando primeiro para o antipetismo da classe média em geral.”
Ele destacou ainda que Cunha não fez “nenhuma menção aos crimes de que é acusado, nenhuma menção aos processos que ele enfrenta no STF (Supremo Tribunal Federal)”. “Ele tentou jogar para a população a ideia de que saiu porque ele votou o impeachment da presidenta na Câmara e quis dizer que saiu porque está livrando o Brasil do governo petista.”
Wyllys ironizou o apelo de Eduardo Cunha falando em Deus em sua renúncia. “Quis sinalizar para a comunidade cristã evangélica, e mesmo católica, que ele é membro dela e que é injustiçado. Outra hipocrisia, tentativa de manipular a comunidade de fé que também não vai se deixar enganar por este apelo a Deus. A relação dele com Deus sempre foi uma relação que buscou o enriquecimento. Entre as peças do Ministério Público está aquela sobre domínios que ele registrou em nome de Jesus, de Deus, domínios que serviram para lavagem de dinheiro."
Já o deputado Ivan Valente (Psol-SP), além de manifestar a mesma opinião, de que o ex-presidente da Câmara “renunciou para tentar evitar a cassação no plenário”. E ironizou os antigos apoiadores do deputado do PMDB. “Onde estão agora aqueles que tratavam Cunha como herói?”, questionou no Twitter. “Não aceitaremos nenhum acordão.”
Com reportagem de Hylda Cavalcanti, de Brasília

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