08 fevereiro 2020

Belo belo




Belo belo minha bela
Tenho tudo que não quero
Não tenho nada que quero
Não quero óculos nem tosse
Nem obrigação de voto

Quero quero
Quero a solidão dos píncaros
A água da fonte escondida
A rosa que floresceu
Sobre a escarpa inacessível

A luz da primeira estrela
Piscando no lusco-fusco

Quero quero
Quero dar a volta ao mundo
Só num navio de vela
Quero rever Pernambuco
Quero ver Bagdad e Cusco

Quero quero
Quero o moreno de Estela
Quero a brancura de Elisa
Quero a saliva de Bela
Quero as sardas de Adalgisa

Quero quero tanta coisa
Belo belo
Mas basta de lero-lero
Vida noves fora zero

*Manuel Bandeira - do livro Estrela da Vida Inteira (1965)

Nenhum comentário: