14 fevereiro 2020

Direita na Igreja Católica quer o impeachment do papa Francisco



Por Célio Gomes*

“É surreal”. “É um absurdo”. “É lamentável”. “É o fim da picada”. “É uma tristeza”. Falanges da direita mais brucutu, aquela que caiu no colo do miliciano Jair Bolsonaro, não se conformam com o Papa Chico. Os termos que acabo de reproduzir foram usados por diferentes seguidores do capitão da tortura para classificar o encontro entre o líder da Igreja Católica e o ex-presidente Lula. A indignação de senhoras e rapazes que dizem pregar os valores da família tomou conta dos altares e sacristias das profanas redes sociais.
O presidente também não resistiu à “provocação” do papa e reagiu, é claro, com sua habitual grosseria. Como pode um condenado por corrupção receber tamanha atenção do santo homem? Essa é a ladainha dos carolas, essa turma que reza pra Jesus e defende milícias nos pontos mais pobres do país. O chororô da seita que segue os Bolsonaro é a melhor piada dos últimos dias.
No encontro com o Papa Francisco, Lula diz que tratou de ideias para um mundo mais justo. Ou seja, o cara foi lá fazer campanha em favor do pensamento de esquerda, dizem os católicos que acham bonito quando um gay é assassinado. São os tolerantes que babam quando o presidente ou um de seus filhotes defendem abertamente a violência contra adversários – ou contra minorias vulneráveis.
Alguns políticos ligados ao tosco presidente escreveram as maiores baboseiras sobre a viagem de Lula ao Vaticano. Faz sentido. É difícil para esses cristãos de araque ter de engolir a postura do papa. Eles sentem saudade do papa anterior, Bento 16, um notório reacionário, ao contrário do homem que o sucedeu no trono de Pedro. O gesto de Francisco, sem dúvida, tem forte simbolismo.
O fato é que o mundo lá fora sabe o que houve no processo da Lava Jato contra Lula. Um juizinho inculto, que não consegue escrever uma frase no Twitter sem espancar a língua portuguesa, cometeu uma antologia de crimes para condenar o ex-presidente – sem uma miserável prova. É o que o The Intercept provou de modo definitivo. Pela sentença, Sergio Moro ganhou um ministério.
Na condução da Lava Jato, Moro inventou histórias, indicou testemunhas ao Ministério Público e protegeu aliados como Fernando Henrique Cardoso. Também ficou claro que os advogados de Lula foram sistematicamente prejudicados pelo magistrado de meia pataca. O cabo eleitoral de Bolsonaro usou a toga para fazer politicagem, num caso escabroso que envergonha o Judiciário.
É sempre necessário ressaltar: o suposto combate à corrupção – esse mantra falacioso de Moro e alguns procuradores – foi usado por eles para barrar a candidatura do petista e deixar o caminho livre para Bolsonaro. É uma página vexatória da Justiça brasileira, uma bandidagem que ainda terá de ser devidamente julgada pelo STF. Lula foi linchado por um bando de porcarias a serviço da política.
Soube que garotões “conservadores”, ilustres analfabetos da “direita alagoana”, caíram na histeria sem fim nas mensagens virtuais. Os mais desajustados acham possível uma campanha pelo “impeachment” de Francisco. Para esses maluquetes, o papa trai mandamentos e profecias.
É comédia a perder de vista. Essas cabeças ocas não conseguem enxergar que suas ideias representam, quando muito, um monumento à ridicularia. Pelo teor das sandices publicadas, vejo que tem gente pensando seriamente em abandonar o catolicismo. O papa deve estar preocupado!
Francisco, o argentino, tenta levar adiante uma agenda que privilegia a defesa das causas sociais. Por isso mesmo é alvo de ataques sórdidos, desferidos por católicos saudosistas da Inquisição. Para essa rapaziada, solidariedade e pacifismo são demandas para se resolver na base do fuzil ou da pistola.
Como não sou católico, nem sigo ordens de nenhuma esfera sobrenatural, fico à vontade para escrever sobre esses temas. A iniciativa do papa ao receber Lula em audiência particular é um recado ao Brasil e ao mundo. Degenerados que rastejam pelo miliciano Bolsonaro ficaram apopléticos.
*Blogueiro, no site Cada Minuto 

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