Por Jorge Wamburg, da Agência Brasil*
Uma advogada, uma professora universitária, uma psicanalista
e uma jornalista receberam nesta sexta-feira (7) pedidos de desculpas do Estado
brasileiro por violências e perseguições sofridas durante a perda de empregos,
exílio e prisão por motivos políticos.ditadura militar e vão receber
indenizações relativas aos prejuízos materiais que sofreram devido à e
empregos, exílio e prisão por motivos políticos.
Os processos foram julgados hoje pela Comissão de Anistia do
Ministério da Justiça, em sessão especial para homenagear o Dia Internacional
da Mulher, que será comemorado neste sábado (8). As quatro anistiadas estavam
presentes, narraram suas histórias e emocionaram os membros da comissão, que
consideraram suficientes as provas apresentadas por elas para terem direito aos
benefícios.
A advogada Aglaete Nunes Martins foi a primeira a depor e
contou que seu escritório no centro do Rio de Janeiro foi invadido e destruído
em 1984 por agentes do extinto Departamento de Ordem Política e Social (Dops),
que procuravam uma gráfica clandestina responsável, segundo eles, por impressão
de material subversivo. Ela foi processada pela Justiça Militar com base na Lei
de Segurança Nacional e disse que até hoje sofre restrições devido a esse
processo, porque “uma vez criminoso, sempre criminoso. Por isso, o
ressarcimento é o mínimo que o Estado brasileiro nos deve, mesmo não sendo
reparar a dor na alma”, disse, relatando que depois da invasão teve que
entregar as salas alugadas à locadora do imóvel.
A professora universitária Maria do Rosário da Cunha
Peixoto, da Universidade de São Paulo (USP), contou que trabalhava na
Secretaria de Educação de Minas Gerais, em 1969, quando foi presa, em 15 de junho
do mesmo ano, e só ganhou a liberdade em maio de 1970, tendo sofrido torturas
durante o período em que esteve detida. Ela disse que foi forçada a pedir
demissão devido aos constrangimentos sofridos no trabalho, teve dificuldade
para conseguir emprego e praticamente viveu na clandestinidade, até ser
acolhida pela USP, a exemplo de outros perseguidos políticos. Para a professora
Maria do Rosário, “os crimes cometidos contra o povo brasileiro e os movimentos
de resistência contra a ditadura não podem ser esquecidos. A Lei de Anistia é
um acinte, porque iguala torturadores e torturados, mas as condições de luta
não foram iguais. Não dá para esquecer os atos criminosos daqueles torturadores
e assassinos”.
A psicanalista Lúcia Maria de Cerqueira Antunes Borges Rodrigues
narrou à Comissão de Anistia uma história que começa com o golpe militar de 31
de março de 1964, quando seu marido, então superintendente de Reforma Agrária
em Pernambuco, foi para o interior tentar organizar uma resistência armada, o
que acabou fracassando.
A partir daí, ele acabaria perdendo o cargo e o emprego de
professor universitário, o que a obrigou a trabalhar no Senac pernambucano. Mas
devido às perseguições sofridas pelo marido eles acabaram fugindo para o
Paraguai, onde reconstruíram a vida, até que ele foi contratado pelo Banco
Interamericano de Desenvolvimento (Bid) para trabalhar nos Estados Unidos e,
depois, no próprio Paraguai, para onde retornaram e voltaram a viver até
retornarem ao Brasil após a promulgação da Lei de Anistia. Valdemar, o marido
da psicanlista, já foi anistiado pela comissão e ela, além do pedido de
desculpas oficial, irá receber indenização pela perda do emprego no Senac de
Pernambuco.
A jornalista Lúcia Leão foi presa quando tinha 16 anos de
idade, em São Paulo, e passou mais de 30 dias detida no Destacamento de
Operações de Informações do Centro de Operações de Defesa Interna (DOI-Codi) de
São Paulo, na época comandado pelo hoje coronel reformado Carlos Alberto
Brilhante Ustra, que já foi acusado diversas vezes de comandar e participar de
torturas. Sobre as torturas, disse que foi pouco molestada durante o tempo em
que ficou lá, mas testemunhou violências contra outros presos “que aqueles
brutamontes fizeram com requintes de maldade. Depois de libertada, ela não conseguiu
estudar em São Paulo e se mudou para o Rio de Janeiro, indo mais tarde para
Brasília, onde até hoje trabalha como jornalista.
*Via http://www.sul21.com.br/
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