04 fevereiro 2017

Lula se despede da ‘galeguinha’ Marisa: ‘Ela sustentou a barra’



Ex-presidente chorou diversas vezes, agradeceu o carinho recebido, mas também cobrou “desculpas” de pessoas que “levantaram leviandades” contra a ex-primeira dama, com quem foi casado durante 43 anos

Da RBA*

No lugar onde se conheceram, no final de 1973 – casariam apenas sete meses depois, em maio do ano seguinte –, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva despediu-se na tarde de hoje (4) de sua mulher, Marisa Letícia, em um lotado salão do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, em São Bernardo do Campo, palco de inúmeras assembleias. Agradeceu o carinho recebido, chorou diversas vezes e também cobrou desculpas por parte de quem a perseguiu com “leviandades”, usando o termo “facínoras”.

“Minha vida não seria um décimo do que é se não fosse este sindicato. Aqui eu aprendi a falar, aqui eu perdi o medo do microfone. Eu não esqueço os acontecimentos deste salão. Aqui eu conheci a Marisa. Aqui a Marisa sustentou a barra para que eu me transformasse no que eu sou”, disse Lula, emocionado. “Ela praticamente criou os filhos sozinha…”, acrescentou, interrompendo a fala. “Na verdade, ela foi mãe, pai, filha, foi avó, foi tudo.”

A ex-presidenta Dilma Rousseff, governadores, ex-ministros, representantes de diversos partidos e de movimentos sociais e muitos antigos companheiros de Lula estiveram desde cedo na sede do sindicato. O velório foi aberto ao público às 10h, após um momento reservado para a família. Até as 15h, aproximadamente, a fila vinha do térreo até o terceiro andar do prédio. Lula permaneceu três horas em pé, ao lado do caixão, até sair para uma área mais retirada, ao lado. A cerimônia terminou às 15h30. O corpo seria levado para o cemitério Jardim da Colina, também em São Bernardo, para ser cremado, em cerimônia reservada à família.

O discurso do ex-presidente não estava previsto. Ele falou após as manifestações de Dom Angélico Sândalo Bernardino – que há dois dias administrou o sacramento dos enfermos –, do bispo da Diocese de Santo André, dom Pedro Carlos Cipollini, e do padre Júlio Lancelotti, da Pastoral do Povo de Rua. Foram evitados discursos políticos, mas dom Angélico fez referências às reformas trabalhistas e da Previdência Social, para que não sejam “contra os trabalhadores, contra os pobres”. E pediu a Lula que descanse a partir de amanhã, “pois o Brasil vai precisar muito de você”. 


“A Marisa Letícia está viva. Foi uma guerreira na luta a favor da classe trabalhadora. Ela está dizendo ao povo para continuar mobilizado na rua”, acrescentou o bispo, citando trechos do bíblico Sermão da Montanha: , exclamou“Bem-aventurados os que têm sede e fome de justiça, serão saciados”. “Quem ama é imortal. Quem ama não morre jamais. Marisa sempre” padre Júlio. As milhares de pessoas rezaram o Pai-Nosso, depois de gritos de “Lula, guerreiro do povo brasileiro”, “Marisa, guerreira da pátria brasileira”.

Lula lembrou de quando conheceu Marisa e disse que o casamento é “o maior exercício de democracia” que existe, acrescentando que eles nunca brigaram. “Ela certamente vai encontrar figuras extraordinárias lá em cima”, afirmou, citando dona Regina, mãe da ex-primeira-dama, usando o chamativo familiar “Regineta”.

Também enfatizou o papel político de Marisa ao seu lado, como companheira e conselheira. “No fundo, ela era mais do que uma ministra. Ela tinha muito mais importância que os ministros. Ela dizia ‘ não esqueça nunca de onde você veio e para onde você vai voltar”, lembrou.

E recordou de uma passagem no Palácio da Alvorada, residência presidencial, quando a então primeira-dama começou a rir sem parar. Ela explicou depois, ainda rindo, que provavelmente os funcionários da cozinha nunca imaginariam que teriam um presidente da República e uma primeira-dama pedindo para cozinhar “pé de frango”. Segundo ele, era uma “galeguinha que parecia frágil, mas quando ficava brava botava medo”. Olhando para a companheira, disse que iria agradecer por toda a vida. Contou ter ele mesmo escolhido o vestido, vermelho. “A gente não tinha medo de vermelho quando era vivo, não tem medo de vermelho quando morre”, falou, sob aplausos. Também pôs a tradicional estrelinha do PT no vestido: “Eu tenho orgulho”.

Dizendo esperar que os “facínoras” tenham a humildade de pedir desculpas, repetiu ter a consciência tranquila e se emocionou mais uma vez na despedida: “Marisa, descanse em paz, que o seu Lulinha paz e amor vai continuar para brigar por você…”


*Via http://www.sul21.com.br/

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