Por Miguel do Rosário*
A grande imprensa americana está em choque. Pela primeira vez em décadas, quiçá desde os anos 30 e 40, quando se opôs agressivamente às ações sociais de Roosevelt (gerar empregos sempre foi considerado “esquerdista” demais para os magnatas da imprensa), ela terá que fazer jornalismo de verdade.
Trump é o Mefistófeles da imprensa corporativa americana: “aquele que, fazendo o mal, engendra o bem”.
O slogan do Washington Post agora é “a democracia morre na escuridão”, e o New York Times lançou uma campanha em que afirma que “a verdade é difícil. Difícil de encontrar. Difícil de saber. A verdade é mais importante agora do que nunca”.
Há um lado muito cômico nisso tudo. A grande imprensa americana – assim como suas subsidiárias no terceiro mundo – sempre viveu de mentiras. A dobradinha da Casa Branca com New York Times, Washington Post, CNN e demais órgãos de jornalismo, sempre foi, para sermos delicados, diabólica. Quem pode negar a responsabilidade do New York Times pelas mentiras da CIA sobre a presença de “armas de destruição em massa” no Iraque?
Aquilo foi um crime jornalístico de proporções bíblicas, porque foi o pecado original que destruiu todo o Oriente Médio, matou milhões de pessoas e fez o terrorismo internacional crescer umas dez, vinte ou trinta vezes!
Antes das guerras que arrasaram o oriente médio, os terroristas tinham que se esconder em cavernas do Afeganistão, e não possuíam nenhum atrativo. Hoje eles formam um país à parte, em meio a uma região destruída pela guerra, e seduzem jovens no mundo inteiro.
A mídia americana, New York Times à frente, é a principal culpada, porque foi ela que deu aval para a Casa Branca levar adiante aquela guerra insana, contra a qual o mundo inteiro se ergueu, e que sequer contou com o aval da ONU, em geral sempre tão dócil aos caprichos do Tio Sam.
Sim, a verdade é muito difícil, New York Times!
No Brasil, no entanto, temos uma situação curiosamente invertida. A mídia brasileira hoje não pode sequer se arriscar a fazer uma campanha pela “verdade”, porque está tão atolada em suas próprias mentiras que, se o fizesse, seria imediatamente ridicularizada pelas redes sociais.
Além disso, o tempo de fazer jornalismo de oposição já terminou. Hoje, os grandes meios de comunicação apenas querem dividir o butim das verbas públicas e praticar o jornalismo mais chapa-branca possível.
Eu fico realmente irritado com dois tipos de ingenuidade: acreditar na Globo e acreditar na Lava Jato. É uma irritação constante, e que me leva a uma posição contramajoritária, claro, porque o Brasil virou um país de trouxas, em que metade acredita na Globo e a outra metade na Lava Jato.
Bastou o Globo botar, no final do Carnaval, uns bloquinhos gritando “Fora Temer”, e aparecem analistas dizendo que a Globo “abandonou o barco”, ou não está mais apoiando o governo…
Francamente!
A Globo é o governo!
Se ela veicula alguma crítica à corrupção dentro do governo é porque ela precisa manter o controle da narrativa, que inclui justamente segurar para si o monopólio dos vazamentos da Lava Jato e das denúncias. Mas é tudo devidamente mastigado e filtrado de maneira a não atrapalhar o golpe. (...)
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