30 janeiro 2025

Por que a imprensa corporativa legitima previsões econômicas manipuladas?

A grande imprensa e o mercado financeiro: uma aliança que alimenta previsões erradas, pressiona políticas públicas e distorce a percepção econômica do país

   Sede do Banco Central em Brasília (Foto: Reuters/Adriano Machado)

Por Luís Humberto Carrijo*

Recente levantamento do UOL Notícias de que o mercado errou 95% das previsões sobre economia desde 2021 nos leva à pergunta de por que, então, a imprensa corporativa continua repercutindo acriticamente e com estardalhaço esses prognósticos furados?

Para responder a essa pergunta é preciso entender que os barões da mídia firmaram, já no ocaso do regime militar, um pacto com os agentes econômicos de legitimar o evangelho do neoliberalismo, que desabrochava com o fim da Guerra Fria, e de reverberar o ponto de vista do mercado financeiro, cujo apetite ditaria as regras dos demais setores econômicos.

Embora irreais, essas estimativas econômicas, mais próximas a profecias ciganas do que a exames técnicos e científicos, não exerceriam efeito concreto sobre o sentimento geral da economia não fosse o papel estratégico da mídia mainstream, que gera conteúdos alarmistas (reportagens enviesadas, editoriais, colunas e artigos catastróficos), produzindo um cenário fantasioso que, ao fim e ao cabo, pressiona a agenda política e molda a política monetária.

O levantamento do portal UOL é só mais um lastro que confirma como a ligação umbilical da imprensa corporativa com o mercado financeiro é uma aliança que sabota a economia do país. Ao fazer tabelinha com os financistas, a imprensa legitima previsões altamente suspeitas de manipulação por agentes que se beneficiam desses prognósticos em detrimento do resto da economia.

Essa relação perniciosa para o conjunto da sociedade, em que a mídia continua dando espaço e avalizando previsões econômicas, mesmo quando se mostram imprecisas, integra um modelo de negócio que segue alguns critérios:

1 - Demanda por conteúdo preditivo

  • O público quer entender o futuro da economia, especialmente em relação às taxas de juros, inflação e movimentos cambiais, que impactam diretamente as finanças pessoais e as decisões empresariais. As previsões, independentemente da precisão, ajudam a mídia a atender a essa demanda e manter os leitores engajados.

2 - Modelagem narrativa

  • A mídia frequentemente usa previsões econômicas para moldar narrativas, seja para apoiar certas agendas políticas ou financeiras ou para gerar manchetes que provoquem interesse ou preocupação. Por exemplo, previsões pessimistas podem atrair mais atenção, pois exploram medos de instabilidade financeira.

3 - Relacionamentos com instituições financeiras

  • Muitos veículos de mídia têm parcerias ou relacionamentos de publicidade com instituições financeiras e think tanks. Essas entidades se beneficiam de ter seus economistas em destaque, pois isso aumenta seu perfil e influencia a percepção pública.

4 - Falta de análise retrospectiva

  • A mídia raramente revisita previsões antigas para avaliar sua precisão. Em vez disso, eles se concentram em publicar as projeções mais recentes, permitindo que os analistas evitem o escrutínio por seus erros passados.

5 - Valor de entretenimento

  • As previsões econômicas, mesmo quando falhas, servem como uma forma de infoentretenimento. Previsões dramáticas sobre picos de inflação ou quedas de mercado capturam a atenção do público e direcionam tráfego para plataformas de mídia.

6 - Incerteza econômica como tema constante

  • A mídia prospera na incerteza e no debate. Previsões contraditórias mantêm os leitores engajados e criam um senso de urgência, mesmo que isso às vezes signifique publicar previsões que não tenham uma base factual forte.

Essa engrenagem complexa, que envolve agentes e lobbies econômicos poderosos, barões da imprensa e autoridades políticas comprometidas com os bancos, produz, no final das contas, ondas de desinformação que se diferenciam das fake news tradicionais - do nível “taxação do Pix” ou “mamadeira de piroca” -, apenas na sofisticação de sua elaboração e nos atores envolvidos. Mas tanto um como outro tem potencial de moldar a percepção das pessoas sobre a realidade e de corroer os alicerces da democracia.

*Jornalista e comunicador - Via Brasil247

28 janeiro 2025

'Vidas Negras Importam' - Martinho da Vila

União latino-americana pode ser uma ferramenta de pressão contra as políticas de Trump

Correspondente do Brasil de Fato, Lorenzo Santiago analisou o embate entre Colômbia e EUA no Central do Brasil

Celac pode ter papel importante na pressão contrária às políticas de Trump - Ricardo Stuckert / PR

Por Luana Ibelli*

O ministro das Relações Exteriores da Colômbia, Luis Gilberto Murillo, anunciou neste domingo que o país "superou o impasse com os Estados Unidos" e vai aceitar receber os voos de deportação de colombianos que estavam ilegais no país.

O embate entre Estados Unidos e Colômbia começou mais cedo no domingo, quando o presidente colombiano, Gustavo Petro, proibiu que dois aviões militares com deportados pousassem na Colômbia. Ele afirmou que os deportados devem ser tratados com dignidade e respeito e que apenas receberia voos civis. A reação de Trump foi imediata: em sua própria rede social, a Truth Social, ele anunciou que iria impor tarifa de 50% sobre produtos colombianos, além de outras sanções e retaliações.

A resposta do presidente Gustavo Petro também foi rápida: em uma longa carta publicada nas redes sociais, Petro se referiu a Trump como "escravista", disse que também elevaria as tarifas dos produtos estadunidenses e que direcionaria as exportações da Colômbia para o resto do mundo.

Após o anúncio de que o impasse com os Estados Unidos foi resolvido, a Casa Branca afirmou que vai suspender as sanções e tarifas contra o país.

O ministro das Relações Exteriores da Colômbia e o embaixador Daniel García-Peña vão para Washington discutir melhor o acordo de deportação entre os dois países.

No Central do Brasil desta segunda-feira (27), o correspondente do Brasil de Fato na Venezuela, Lorenzo Santiago, repercutiu o embate. Ele conversou com fontes na Colômbia, e afirma que a avaliação geral é positiva quanto ao fato de Gustavo Petro ter se posicionado firmemente contra as políticas de Trump, apesar do poder estadunidense ter prevalecido.

"Para os militantes do governo, do Pacto Histórico, foi um passo positivo e importante do Petro de colocar essas barreiras para os Estados Unidos, mesmo que ao final do dia essas ameaças, esse assédio do governo estadunidense tenha acabado prevalecendo. O governo Trump ameaçou colocar tarifas de 25% sobre os produtos colombianos. Hoje, as exportações da Colômbia são muito mais dependentes dos Estados Unidos do que o contrário, mais ou menos 37,9% das exportações colombianas vão para os Estados Unidos, então teria um impacto tremendo nas exportações dos produtos colombianos", explica.

A Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac), vai fazer uma reunião de emergência na quinta-feira (30) e um dos assuntos em pauta é a migração. Santiago avalia que essa união pode ser uma ferramenta de pressão contrária às políticas de Trump.

"Essa é a principal ferramenta que os países latino-americanos têm hoje, uma união para fazer essa pressão. Assim como Petro sinalizou que faria, todos os países latino-americanos que estejam recebendo esses deportados podem colocar tarifas em produtos estadunidenses. É óbvio que aí você mexe justamente nessa correlação de forças na América Latina, porque têm outros agentes, como os chineses, com interesse em, por exemplo, colocar produtos industrializados, que são o principal ponto de exportação dos Estados Unidos, para nós, latino-americanos. Mexer com isso facilita a vida dos chineses, por um lado, mas justamente coloca barreiras para os Estados Unidos não imporem esse tipo de medida."

Confira a entrevista e outros assuntos no programa completo, disponível no YouTube do Brasil de Fato.

Veja também

O Itamaraty também vai pedir explicações ao governo estadunidense pelo tratamento degradante oferecido aos deportados. Cidadãos brasileiros foram algemados e acorrentados em voo de volta.

E ainda: milhares de palestinos começam a voltar para o norte da Faixa de Gaza.

Central do Brasil é uma produção do Brasil de Fato. O programa é exibido de segunda a sexta-feira, ao vivo, sempre às 13h, pela Rede TVT e por emissoras parceiras.

*Edição: Nicolau Soares - Fonte: BdF

25 janeiro 2025

Nos 55 anos do martírio de Mário Alves*


"Neste janeiro de maus presságios registramos a lembrança da prisão, das dores e do assassinato do baiano da geração de Gorender, Marighella e Giocondo Dias" (...)

*CLIQUE AQUI para ler, na íntegra (via Carta Capital), o artigo do cientista político, militante contra a ditadura, historiador, professor, ex-ministro e ex-Presidente do PSB Roberto  Amaral sobre o militante e dirigente revolucionário Mário Alves, trucidado pela ditadura militar. 

23 janeiro 2025

BRASIL NO TOPO - Oscar 2025: Ainda Estou Aqui é indicado aos prêmios de Melhor Filme e Melhor Filme Internacional

Obra fez resgate central da memória de desaparecidos na ditadura militar no Brasil para as próximas gerações através da história de Eunice e Rubens Paiva; indicação também é marco histórico para o cinema nacional

Cena do filme 'Ainda Estou Aqui', de Walter Salles. Créditos: Divulgação  


Por Alice Andersen*

A Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood revelou a tão aguardada lista de indicados ao Oscar 2025 e o filme "Ainda Estou Aqui" foi indicado aos prêmios de Melhor Filme e Melhor Filme Internacional. A lista com os finalistas foi divulgada às 10h30 desta quinta-feira (23) no canal oficial da premiação no YouTube. A indicação do longa-metragem brasileiro quebrou um jejum de décadas sem uma produção brasileira na categoria, um marco histórico para o cinema nacional.

Em 1999, o filme "Central do Brasil", de Walter Salles, disputou o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro (hoje, a categoria é chamada de Melhor Filme Internacional), e agora "Ainda Estou Aqui' é o segundo filme brasileiro chega à competição. Esta é a primeira vez na história que um filme brasileiro é indicado na categoria de Melhor Filme na premiação do cinema mundial. 

"Cidade de Deus” de Fernando Meirelles, foi indicado em 2004, às categorias de direção, roteiro adaptado, fotografia e edição. "O menino e o mundo" disputou o prêmio de melhor animação em 2016. E "Democracia em vertigem" disputou o prêmio de melhor documentário em 2020.

Disputam o Oscar de Melhor Filme com 'Ainda estou aqui':

  • "Anora"
  • "O brutalista"
  • "Um completo desconhecido"
  • "Conclave"
  • "Duna: Parte 2"
  • "Emilia Pérez"
  • "Nickel boys"
  • "A substância"
  • "Wicked"

Disputam o Oscar de Melhor Filme Internacional com 'Ainda estou aqui'

  • "Emilia Pérez" (França)
  • "Flow" (Letônia)
  • "A Garota da Agulha" (Dinamarca)
  • "A Semente do Fruto Sagrado" (Alemanha)

Fernanda Torres também foi anunciada como indicada ao Oscar 2025 na categoria de Melhor Atriz pela atuação no filme 'Ainda Estou Aqui'. A cerimônia de premiação acontecerá no dia 2 de março em Los Angeles, com apresentação de Conan O'Brien. A atriz brasileira disputa o prêmio com grandes nomes como Mikey Madison, Demi Moore, Karla Sofía Gascón e Cynthia Erivo. Essa indicação marca um momento histórico para o cinema brasileiro, ocorrendo 26 anos após a indicação de sua mãe, Fernanda Montenegro, por "Central do Brasil".

Disputam o Oscar de Melhor Atriz com Fernanda Torres:

  • Mikey Madison ("Anora")
  • Demi Moore ("A substância")
  • Karla Sofía Gascón ("Emilia Pérez")
  • Cynthia Erivo ("Wicked")

LEIA TAMBÉM: Fernanda Torres é indicada ao prêmio de Melhor Atriz

Sobre memória e justiça

O filme retrata a contenção e resistência de Eunice Paiva diante do desaparecimento de Rubens Paiva, seu marido, na ditadura militar no Brasil, expondo uma das maiores feridas do país – a repressão durante os 21 anos de ditadura militar nos quais mais de 200 cidadãos brasileiros desapareceram e muitos foram torturados. Até hoje militares que cometeram os crimes seguem na impunidade e muitas famílias não sabem onde estão os corpos.

Parentes de outras dezenas de vítimas da ditadura conseguiram certidões semelhantes à de Eunice, referentes a corpos, como o do ex-deputado, que nunca foram encontrados. O relatório final da Comissão da Verdade, concluído em 2014, identificou 210 desaparecidos durante o regime militar (incluindo Paiva). Apenas mais recentemente que certidões como essas estão sendo corrigidas, com a causa da morte declarada como: “morte não natural, violenta, causada pelo Estado brasileiro no contexto da perseguição sistemática a dissidentes políticos durante o regime ditatorial de 1964”.

Leia mais sobre a história aqui: Como Eunice Paiva desconstruiu farsa criada pela ditadura sobre seu marido 

*Via Revista Fórum

22 janeiro 2025

VÍDEO: Sem citar nomes, Meryl Streep ataca Trump em discurso comovente*

 



PS. Discurso proferido em janeiro de 2017, mas continua atual.

*Via Viomundo

Extremismo - Sob governo Trump, Constituição e informações sobre diversidade são excluídas de site da Casa Branca*

Presidente dos EUA também afastou departamento de equidade e demitiu a primeira mulher a dirigir forças armadas

Páginas que levavam à Constituição dos EUA e informações sobre equidade, democracia, diversidade e justiça, estão indisponíveis desde a posse de Trump - Reprodução / The White House

Após a posse presidencial do republicano Donald Trump, a nova administração assumiu o controle do site da Casa Branca, provocando mudanças e exclusões nítidas. Além de um vídeo com imagens do mandatário de extrema direita e a mensagem America is back (América está de volta, em tradução livre), as páginas que levavam ao acesso para a Constituição dos Estados Unidos, equidade e direitos reprodutivos não estão mais disponíveis.

O site da Casa Branca administrado pelo governo de Joe Biden (2021-2025) foi preservado como uma cópia, e pode ser acessado aqui. Usando o arquivo para comparação, mudanças de design não são as únicas perceptíveis.

Ao tentar acessar a página que disponibiliza a Constituição do país; turismoestágios; e informações dos presidentes anteriores, tanto do Partido Republicano, quanto do Democrata, o código de erro “404” aparece na tela, significando que a página solicitada não foi encontrada. Além disso, a versão do site em espanhol também está indisponível.

O fim das políticas sociais

A página Issues (Questões) que, entre outros temas, trazia assuntos sobre democracia, equidade e justiça, não aparece mais como uma opção para ser acessada no site da administração Trump. Contudo, ao acessar o site do novo governo de extrema direita dos EUA, a página que corresponde ao link da antiga que levava a esse endereço foi renomeada para The Trump-Vance Administration Priorities (As prioridades da administração Trump-Vance).

A aba traz promessas de Trump para seu mandato até 2028, entre elas medidas para a deportação em massa para “fazer a América segura novamente”.

“O presidente Trump tomará medidas ousadas para proteger nossa fronteira e as comunidades americanas. Isso inclui acabar com as políticas de captura e soltura de Biden, restabelecer a política de ‘Permanência no México’, construir o muro, acabar com o asilo para pessoas que cruzam ilegalmente a fronteira, reprimir santuários criminosos e melhorar a verificação e a triagem de estrangeiros”, escreve a administração.

Como anunciado em seu discurso de posse, na última segunda-feira (20), a página informa que as Forças Armadas dos EUA estarão envolvidas na fiscalização das fronteiras para evitar a imigração. Entre as promessas, o site anuncia que “o Departamento de Justiça buscará a pena de morte como punição apropriada para crimes hediondos contra a humanidade, incluindo aqueles que matam policiais e migrantes ilegais que mutilam e assassinam americanos”.

Outro assunto mencionado em seu discurso, foi a suposta perseguição judicial contra políticos nos Estados Unidos, no caso, ele mesmo, por suas acusações por fraude fiscal.

Sob o termo drain the swamp (drenar o pântano), Trump promete “tomar medidas rápidas para acabar com o armamento do governo contra rivais políticos” e “acabar com a censura inconstitucional do governo federal”.

Na pauta energética, sobre a qual declarou Estado de Emergência no país, a administração do republicano chamou as políticas de Biden sobre o assunto de “extremismo climático”.

A página retifica a saída dos EUA do Acordo Climático de Paris, documento assinado por diversos países que visa combater as mudanças climáticas, e ainda especifica que “acabará com os arrendamentos (contratos de utilização a longo prazo) de parques eólicos”. Na visão do governo, os locais que abrigam os geradores de energia limpa “degradam as paisagens naturais e não atendem aos consumidores de energia” estadunidenses.

Por fim, prometendo “trazer de volta os valores americanos”, a administração republicana afirma que estabelecerá “o masculino e o feminino como realidade biológica e protegerá as mulheres da ideologia radical de gênero”, em concordância com o apagão das páginas sobre diversidade no site da Casa Branca.

O novo site ainda traz uma página que reúne as ações presidenciais e executivas tomadas pelo governo. Com cinco sub-páginas, todas as medidas foram assinadas entre segunda (20) e terça-feira (21), são identificadas como “uma série sem precedentes de ordens executivas de rescisão”, e são relacionadas às prioridades do governo anteriormente mencionadas.

Segundo o vice-secretário de imprensa da Casa Branca, Harrison Fields, o site do governo está sendo “desenvolvido, editado e ajustado”. “Como parte desse trabalho contínuo, parte do conteúdo arquivado no site ficou inativo. Estamos comprometidos em recarregar esse conteúdo em um curto espaço de tempo", declarou, sem mencionar as páginas apagadas relacionadas a pautas sociais contrárias à agenda de Trump.

Mudanças para além da internet

A exclusão das páginas no site da Presidência dos Estados Unidos são um prelúdio das decisões e ações que já estão sendo tomadas por Trump em seus primeiros dias de governo. O governo do republicano ordenou o fechamento dos programas de diversidade do governo federal e colocou seus funcionários em licença remunerada a partir da tarde desta quarta-feira (22).

Karoline Leavit, secretária de imprensa da Casa Branca, confirmou o conteúdo de um memorando do Escritório de Gestão de Pessoal do governo federal solicitando a notificação até as 17h de quarta-feira “de todos os funcionários da DEIA (Diversidade, Equidade, Inclusão, Acessibilidade) de que eles estão sendo colocados em licença administrativa remunerada imediatamente, à medida que a agência toma medidas para fechar/terminar todas as iniciativas, escritórios e programas da DEIA”.

Também nesta quarta, Trump, chamou uma bispa de Washington de “desagradável” e exigiu um pedido de desculpas por ter dito que ela estava espalhando medo entre os migrantes e as pessoas LGBTQ+.

“A suposta bispa que falou na terça-feira no National Prayer Service é uma esquerdista radical que odeia Trump. Ela usou um tom desagradável, foi pouco convincente e pouco inteligente”, escreveu o presidente em sua conta na Truth Social.

O presidente participou de uma missa na Catedral Nacional de Washington na terça-feira, liderada pela bispa Mariann Edgar Budde, da Diocese Episcopal de Washington. Em seu discurso, a bispa repreendeu o novo líder sobre os decretos que ele assinou contra pessoas LGBTQ+ e migrantes depois de assumir seu segundo mandato como presidente na segunda-feira.

“Eu lhe peço que tenha misericórdia, senhor presidente”, disse a bispa, que falou do "medo" que, segundo ela, é sentido em todo o país. “Há crianças gays, lésbicas e transgêneros em famílias democratas, republicanas e independentes”, argumentou.

Ela também defendeu os trabalhadores estrangeiros que “podem não ser cidadãos ou não ter a documentação adequada, mas a grande maioria dos migrantes não é criminosa”, argumentou. O presidente, que anteriormente havia dito apenas que a cerimônia “não foi muito emocionante”, atacou a bispa em suas redes sociais.

“Além de seus comentários inadequados, o sermão foi muito chato e pouco inspirador. Ela não é muito boa em seu trabalho! Ela e sua igreja devem um pedido de desculpas ao público!”, postou ele. Na última terça-feira (21), o governo de extrema direita ainda destituiu a almirante Linda Fagan, primeira mulher a liderar uma das seis forças armadas dos EUA, do cargo de chefe da Guarda Costeira.

"Ela teve uma longa e ilustre carreira, e agradeço pelo seu serviço à nossa nação", afirmou Benjamine Huffman, secretário interino do Departamento de Segurança Interna (DHS, na sigla em inglês), em uma mensagem direcionada à Guarda Costeira.

No entanto, um alto funcionário do DHS, ao qual esse braço militar está subordinado, foi muito mais crítico ao afirmar que Fagan foi destituída "devido às suas deficiências de liderança, falhas operacionais e incapacidade de avançar nos objetivos estratégicos da Guarda Costeira".

A almirante não enfrentou adequadamente as ameaças à segurança nas fronteiras, gerenciou mal aquisições, incluindo helicópteros, e deu "atenção excessiva" a programas de diversidade, equidade e inclusão, disse o funcionário sob condição de anonimato. Houve também uma "erosão da confiança" na Guarda Costeira devido à sua gestão de uma investigação sobre acusações de agressão sexual, de acordo com essa fonte.

"A incapacidade de abordar adequadamente os problemas sistêmicos expostos por essa investigação destacou uma cultura de liderança pouco disposta a garantir a responsabilização e a transparência", acrescentou o funcionário.

Pete Hegseth, indicado pelo presidente republicano para liderar o Departamento de Defesa, declarou na semana passada que os cargos dos oficiais superiores das Forças Armadas "serão revisados com base na meritocracia, nos padrões, na letalidade e no compromisso com as ordens legais".

Fagan estava à frente da Guarda Costeira desde 2022 e anteriormente ocupou cargos como o de vice-comandante da força."Ela serviu em todos os continentes, desde as neves da Ilha de Ross, na Antártica, até o coração da África, de Tóquio a Genebra, e em muitos portos ao longo do caminho", destacou uma versão arquivada de sua biografia, que já não está disponível no site da Guarda Costeira.

*Com AFP - Edição: Leandro Melito

Fonte: Redação do BdF

19 janeiro 2025

LUTO! - Morre Marco Weissheimer, jornalista e sócio do Sul21

Pioneiro do jornalismo independente no RS e atuante na criação do Sul21, Marco enfrentava um melanoma desde 2012

Meio ambiente, alimentação e bem-viver eram alguns dos temas de maior interesse de Marco Weissheimer no Sul21. Foto: Joana Berwanger/Sul21

Sul21* - Morreu neste sábado (19), aos 60 anos, o jornalista Marco Aurélio Weissheimer. Pioneiro do jornalismo independente e progressista no Rio Grande do Sul e no Brasil, Marco participou da fundação de diversos veículos que surgiram no País a partir da virada do século 21, entre os quais o Sul21, pelo qual trabalhou por mais de uma década e foi sócio desde 2019. 

Natural de Caxias do Sul, Marco tornou-se bacharel e mestre em Filosofia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). O seu trabalho com as novas mídias começou em 2001, quando participou do lançamento da Agência Carta Maior durante o Fórum Social Mundial em Porto Alegre. Neste mesmo período, foi tradutor e editor das primeiras edições em português do Le Monde Diplomatique

Marco também foi um dos pioneiros no Estado do movimento que deu origem a uma série de blogues progressistas, tendo criado o RS Urgente em 2005. Em 2010, esteve envolvido na criação do Sul21. Nos primeiros anos, escreveu frequentemente para o site. Em janeiro de 2015, assumiu o cargo de repórter especial no Sul21.

Também foi colunista de outros veículos, como o jornal Extra Classe, do Sindicato dos Professores do Rio Grande do Sul (Sinpro-RS), e autor dos  livros “Bolsa Família — Avanços, Limites e Possibilidades do programa que está transformando a vida de milhões de famílias no Brasil” (2006) e “Governar na Crise — Um olhar sobre o governo Tarso Genro” (2017), além de diversos artigos em livros e coletâneas. 

Como repórter e editor do Sul21, Marco sempre demonstrou interesse por temas como meio ambiente, alimentação e bem-viver, realizando diversas reportagens e entrevistas sobre agroecologia, impactos do abuso de agrotóxicos, e questões relacionadas ao ataque à agenda ambiental no RS e no Brasil. Também voltou o seu trabalho para matérias que expunham os efeitos de grandes obras e políticas antipopulares na cidade, como no especial Gentrificação, publicado em 2017, quando escreveu sobre as remoções forçadas, então em andamento, de moradores das vilas Tronco, Dique e Nazaré. 

Durante cinco anos, desde 2017, foi também o mediador do projeto Conversas Cidadãs, uma parceria entre o Sul21 e o Goethe-Institut Porto Alegre, que se dedicou a debater temas estratégicos para a defesa da cidadania, da democracia e da qualidade de vida. Essa preocupação com a discussão sobre o futuro apareceu justamente na edição de 2020 do evento, realizada em plena pandemia de covid-19 e dedicada a debater as mudanças que seriam provocadas no nosso modo de viver. 

Em 2019, encabeçou o movimento que levou a redação do Sul21 a assumir a gestão do site, que passou a ser uma empresa comandada pelo que era, até então, sua equipe de funcionários mais longevos. 

Marco enfrentava um melanoma desde 2012. Durante o período em que esteve em tratamento, acentuou a busca pelo equilíbrio por meio do Yoga, que já praticava e do qual se tornou instrutor. Em razão de complicações da doença, foi internado no Hospital Conceição em dezembro passado. Ele faleceu neste sábado (18). A cerimônia em homenagem ao Marco será neste domingo, das 13h-18h, no Angelus Memorial e Crematório, em Porto Alegre. 

A equipe do Sul21 lamenta profundamente a morte do nosso editor, sócio e querido amigo.

*Fonte: Sul21

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Nota deste Editor: Que triste e trágica notícia! Marco foi um grande e corajoso jornalista, cidadão, ecologista, midioativista, blogueiro de primeira hora, companheiro, militante petista e amigo de longa data. 

Grande perda. Já está fazendo muita falta! (Júlio C. S. Garcia)