Por Marcelo Carlini*
Que as big techs estão a serviço de seus próprios interesses e dos Estados Unidos, não há dúvida. Mas a polêmica ao redor da fiscalização de movimentações financeiras do Pix não é só um produto da manipulação digital.
Certamente, a audiência da manipulação se escora na desconfiança e impaciência que crescem no povo sobre a melhora da situação cotidiana que não chega. O povo não come PIB.
O governo recuou da política de valorização do salário mínimo, de abono salarial e de BPC que ele próprio havia criado. A elevação da isenção de IRPF para R$ 5.000,00 não veio. Os salários contratados tropeçam pra subir de escada, enquanto o custo da alimentação sobe de elevador.
Estudo publicado em janeiro pelo Dieese dá contornos mais precisos ao que se percebe no supermercado.
Nos últimos 12 meses, o preço da carne bovina de primeira aumentou em todas as cidades pesquisadas, com destaque para Campo Grande (29,90%), Goiânia (29,05%), Fortaleza (28,06%), São Paulo (27,05%), Florianópolis (25,69%), Brasília (24,04%) e Salvador (22,58%). O preço do leite integral subiu em todas as capitais, entre dezembro de 2023 e o mesmo mês de 2024, com altas que variaram de 8,37%, no Rio de Janeiro, a 23,36%, em Aracaju. O café em pó aumentou entre 31,60%, em São Paulo, e 62,56%, em BH. Houve alguma de redução de preços de produtos como batata, tomate e farinha de trigo.
Já o aumento nominal do salário mínimo, limitado pela trava do ajuste fiscal de Haddad aprovado no final de 2024 foi de apenas 7,5%, seu valor em 2025 será de R$ 1.518,00. O Dieese calculou que em dezembro de 2024, o salário mínimo necessário para a manutenção de uma família de quatro pessoas seria de R$ 7.067,68, cinco vezes mais!
O salário mínimo é referência direta para 59,9 milhões de pessoas na ativa e aposentados do INSS. Mas o pacote limitou o crescimento real a até 2,5%, independente do crescimento do PIB. Três deputados do PT votaram contra a medida. Garantido mesmo ficou o dinheiro para o sistema financeiro, sem trava alguma.
Confiança, mercadoria escassa
Um dos motivos atribuídos ao recuo do governo sobre o Pix foi um vídeo do deputado bolsonarista Nikolas Ferreira (PL/MG) com mais de 200 milhões de visualizações. Ele explora a credulidade popular ao embolar a dificuldade de pagar a luz, a moradia, o gás, a isenção do IR de R$ 5.000,00 que não veio, com a sugestão que o Pix “pode” ser taxado.
O problema principal colocado para o governo não é um problema de comunicação, mas do que comunicar para reconquistar confiança.
O governo pode e deve ganhar credibilidade virando a política à esquerda, em direção à sua base social. Isso pode começar agora com medidas concretas que o governo conhece – estoques reguladores, controle do cartel dos supermercados, entre outros – mesmo que os supermercados e o agronegócio não gostem.
*Marcelo Carlini – Suplente do Diretório Regional do PT/RS, membro da direção do Sintrajufe/RS e da CUT/RS.
Fonte: site do DAP - Diálogo e Ação Petista
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