Presidente dos EUA também afastou departamento de equidade e demitiu a primeira mulher a dirigir forças armadas
Após a posse presidencial do republicano Donald Trump, a nova administração assumiu o controle do site da Casa Branca, provocando mudanças e exclusões nítidas. Além de um vídeo com imagens do mandatário de extrema direita e a mensagem America is back (América está de volta, em tradução livre), as páginas que levavam ao acesso para a Constituição dos Estados Unidos, equidade e direitos reprodutivos não estão mais disponíveis.
O site da Casa Branca administrado pelo governo de Joe Biden (2021-2025) foi preservado como uma cópia, e pode ser acessado aqui. Usando o arquivo para comparação, mudanças de design não são as únicas perceptíveis.
Ao tentar acessar a página que disponibiliza a Constituição do país; turismo; estágios; e informações dos presidentes anteriores, tanto do Partido Republicano, quanto do Democrata, o código de erro “404” aparece na tela, significando que a página solicitada não foi encontrada. Além disso, a versão do site em espanhol também está indisponível.
O fim das políticas sociais
A página Issues (Questões) que, entre outros temas, trazia assuntos sobre democracia, equidade e justiça, não aparece mais como uma opção para ser acessada no site da administração Trump. Contudo, ao acessar o site do novo governo de extrema direita dos EUA, a página que corresponde ao link da antiga que levava a esse endereço foi renomeada para The Trump-Vance Administration Priorities (As prioridades da administração Trump-Vance).
A aba traz promessas de Trump para seu mandato até 2028, entre elas medidas para a deportação em massa para “fazer a América segura novamente”.
“O presidente Trump tomará medidas ousadas para proteger nossa fronteira e as comunidades americanas. Isso inclui acabar com as políticas de captura e soltura de Biden, restabelecer a política de ‘Permanência no México’, construir o muro, acabar com o asilo para pessoas que cruzam ilegalmente a fronteira, reprimir santuários criminosos e melhorar a verificação e a triagem de estrangeiros”, escreve a administração.
Como anunciado em seu discurso de posse, na última segunda-feira (20), a página informa que as Forças Armadas dos EUA estarão envolvidas na fiscalização das fronteiras para evitar a imigração. Entre as promessas, o site anuncia que “o Departamento de Justiça buscará a pena de morte como punição apropriada para crimes hediondos contra a humanidade, incluindo aqueles que matam policiais e migrantes ilegais que mutilam e assassinam americanos”.
Outro assunto mencionado em seu discurso, foi a suposta perseguição judicial contra políticos nos Estados Unidos, no caso, ele mesmo, por suas acusações por fraude fiscal.
Sob o termo drain the swamp (drenar o pântano), Trump promete “tomar medidas rápidas para acabar com o armamento do governo contra rivais políticos” e “acabar com a censura inconstitucional do governo federal”.
Na pauta energética, sobre a qual declarou Estado de Emergência no país, a administração do republicano chamou as políticas de Biden sobre o assunto de “extremismo climático”.
A página retifica a saída dos EUA do Acordo Climático de Paris, documento assinado por diversos países que visa combater as mudanças climáticas, e ainda especifica que “acabará com os arrendamentos (contratos de utilização a longo prazo) de parques eólicos”. Na visão do governo, os locais que abrigam os geradores de energia limpa “degradam as paisagens naturais e não atendem aos consumidores de energia” estadunidenses.
Por fim, prometendo “trazer de volta os valores americanos”, a administração republicana afirma que estabelecerá “o masculino e o feminino como realidade biológica e protegerá as mulheres da ideologia radical de gênero”, em concordância com o apagão das páginas sobre diversidade no site da Casa Branca.
O novo site ainda traz uma página que reúne as ações presidenciais e executivas tomadas pelo governo. Com cinco sub-páginas, todas as medidas foram assinadas entre segunda (20) e terça-feira (21), são identificadas como “uma série sem precedentes de ordens executivas de rescisão”, e são relacionadas às prioridades do governo anteriormente mencionadas.
Segundo o vice-secretário de imprensa da Casa Branca, Harrison Fields, o site do governo está sendo “desenvolvido, editado e ajustado”. “Como parte desse trabalho contínuo, parte do conteúdo arquivado no site ficou inativo. Estamos comprometidos em recarregar esse conteúdo em um curto espaço de tempo", declarou, sem mencionar as páginas apagadas relacionadas a pautas sociais contrárias à agenda de Trump.
Mudanças para além da internet
A exclusão das páginas no site da Presidência dos Estados Unidos são um prelúdio das decisões e ações que já estão sendo tomadas por Trump em seus primeiros dias de governo. O governo do republicano ordenou o fechamento dos programas de diversidade do governo federal e colocou seus funcionários em licença remunerada a partir da tarde desta quarta-feira (22).
Karoline Leavit, secretária de imprensa da Casa Branca, confirmou o conteúdo de um memorando do Escritório de Gestão de Pessoal do governo federal solicitando a notificação até as 17h de quarta-feira “de todos os funcionários da DEIA (Diversidade, Equidade, Inclusão, Acessibilidade) de que eles estão sendo colocados em licença administrativa remunerada imediatamente, à medida que a agência toma medidas para fechar/terminar todas as iniciativas, escritórios e programas da DEIA”.
Também nesta quarta, Trump, chamou uma bispa de Washington de “desagradável” e exigiu um pedido de desculpas por ter dito que ela estava espalhando medo entre os migrantes e as pessoas LGBTQ+.
“A suposta bispa que falou na terça-feira no National Prayer Service é uma esquerdista radical que odeia Trump. Ela usou um tom desagradável, foi pouco convincente e pouco inteligente”, escreveu o presidente em sua conta na Truth Social.
O presidente participou de uma missa na Catedral Nacional de Washington na terça-feira, liderada pela bispa Mariann Edgar Budde, da Diocese Episcopal de Washington. Em seu discurso, a bispa repreendeu o novo líder sobre os decretos que ele assinou contra pessoas LGBTQ+ e migrantes depois de assumir seu segundo mandato como presidente na segunda-feira.
“Eu lhe peço que tenha misericórdia, senhor presidente”, disse a bispa, que falou do "medo" que, segundo ela, é sentido em todo o país. “Há crianças gays, lésbicas e transgêneros em famílias democratas, republicanas e independentes”, argumentou.
Ela também defendeu os trabalhadores estrangeiros que “podem não ser cidadãos ou não ter a documentação adequada, mas a grande maioria dos migrantes não é criminosa”, argumentou. O presidente, que anteriormente havia dito apenas que a cerimônia “não foi muito emocionante”, atacou a bispa em suas redes sociais.
“Além de seus comentários inadequados, o sermão foi muito chato e pouco inspirador. Ela não é muito boa em seu trabalho! Ela e sua igreja devem um pedido de desculpas ao público!”, postou ele. Na última terça-feira (21), o governo de extrema direita ainda destituiu a almirante Linda Fagan, primeira mulher a liderar uma das seis forças armadas dos EUA, do cargo de chefe da Guarda Costeira.
"Ela teve uma longa e ilustre carreira, e agradeço pelo seu serviço à nossa nação", afirmou Benjamine Huffman, secretário interino do Departamento de Segurança Interna (DHS, na sigla em inglês), em uma mensagem direcionada à Guarda Costeira.
No entanto, um alto funcionário do DHS, ao qual esse braço militar está subordinado, foi muito mais crítico ao afirmar que Fagan foi destituída "devido às suas deficiências de liderança, falhas operacionais e incapacidade de avançar nos objetivos estratégicos da Guarda Costeira".
A almirante não enfrentou adequadamente as ameaças à segurança nas fronteiras, gerenciou mal aquisições, incluindo helicópteros, e deu "atenção excessiva" a programas de diversidade, equidade e inclusão, disse o funcionário sob condição de anonimato. Houve também uma "erosão da confiança" na Guarda Costeira devido à sua gestão de uma investigação sobre acusações de agressão sexual, de acordo com essa fonte.
"A incapacidade de abordar adequadamente os problemas sistêmicos expostos por essa investigação destacou uma cultura de liderança pouco disposta a garantir a responsabilização e a transparência", acrescentou o funcionário.
Pete Hegseth, indicado pelo presidente republicano para liderar o Departamento de Defesa, declarou na semana passada que os cargos dos oficiais superiores das Forças Armadas "serão revisados com base na meritocracia, nos padrões, na letalidade e no compromisso com as ordens legais".
Fagan estava à frente da Guarda Costeira desde 2022 e anteriormente ocupou cargos como o de vice-comandante da força."Ela serviu em todos os continentes, desde as neves da Ilha de Ross, na Antártica, até o coração da África, de Tóquio a Genebra, e em muitos portos ao longo do caminho", destacou uma versão arquivada de sua biografia, que já não está disponível no site da Guarda Costeira.
*Com AFP - Edição: Leandro Melito
Fonte: Redação do BdF
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