08 novembro 2008
Debate
'Coragem Política'
Escreve o jornalista Luiz Carlos Azenha, do excelente sítio Vi o Mundo: "Dizem alguns comentaristas deste site que o presidente Lula é prisioneiro do sistema político brasileiro, da necessidade de alianças para a governabilidade, do atraso institucional do Brasil. Portanto, tem as mãos amarradas. Para persistir no poder precisa ir levando. Como democrata deve exibir "paciência". Precisa preservar os avanços obtidos. É o melhor que pode fazer.
Acho até que isso seria aceitável, mas não depois de seis anos de governo. Depois de seis anos de governo, com alta taxa de popularidade, um presidente da República tem as mãos quase livres para agir. Não, não estou advogando medidas autoritárias. Até porque, numa sociedade complexa como a brasileira, elas não levam a lugar algum. Com o alto grau de concentração econômica existente no país e com um Congresso poderoso um presidente pode muito menos, de fato, do que parece.
Em sociedades da informação, no entanto, o presidente dispõe do poder de púlpito. Através de discursos, de entrevistas, de comícios o presidente dispõe de um poder de mobilização. Ainda que sob intenso boicote da mídia corporativa, um presidente da República pode e deve participar da vida política nacional. Esse é o papel e a função dele, não apenas o de uma peça decorativa.
Lula é esperto. Espertíssimo. Um sobrevivente. Que colocou o seu gênio político a serviço de uma causa. Provocou avanços históricos em um país abençoado com uma das elites mais retrógradas do universo. Afrikaner, na definição de um internauta. Uma definição perfeita. Desde o "trauma" do escândalo do mensalão, no entanto, o presidente da República joga na retranca. Não fez um movimento sequer no sentido da mobilização política necessária a transformar um país como o Brasil. Nada.
O comportamento de Lula no caso do banqueiro Daniel Dantas é apenas sintoma de uma opção política. Pouco me importa o destino do banqueiro. O que importa é o que o comportamento do presidente da República significa para o Brasil. Lula optou pela acomodação a qualquer custo. Em minha modesta opinião, decidiu disputar com José Serra não a preferência do eleitorado, mas do empresariado. Lula virou as costas para as ruas e se entregou aos conchavos de bastidores.
Com isso, repito, na minha modesta opinião o presidente da República esgotou o seu papel na política brasileira. Já deu o que tinha que dar. Não é de hoje, nem é por causa do episódio do banqueiro. Houve muitos outros, ao longo dos últimos meses. Existe um conchavão nacional em andamento, do qual a candidatura à Prefeitura de Belo Horizonte é sintomática. Um conchavão entre PSDB e PT.
"Lula, tudo bem; mas o PT", dizia a campanha de Gilberto Kassab em São Paulo. É sintomático. O presidente da República dá as costas ao próprio partido que o elegeu. Não quero crer que seja por algum problema de personalidade, nem de maldade. Acho que é uma questão de sobrevivência. Lula quer sobreviver intacto para 2014. E pelo jeito ele concluiu que essa sobrevivência passa pelo abandono da luta política. Ao não contribuir para a mobilização política dos brasileiros, nem mesmo no plano superficial, o presidente da República contribui para a desmobilização.
Até o Obama, que é o supra-sumo do vaselina, produto político da máquina partidária dos democratas de Chicago, a cidade dos acertos de bastidores, indicou para chefe de gabinete um deputado que é um trator e ganhou o apelido de "Rahmbo". Ou seja, vai tratorar os republicanos. Obama não é um revolucionário. Mas tem coragem política. E coragem política faz a diferença entre o estadista e mais um presidente. Lula vai para a galeria ao lado de FHC. Literalmente".
* Do sítio http://www.viomundo.com.br
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