21 abril 2009

As Veias Abertas da América Latina
















Por que "As Veias Abertas"

*Por Emir Sader

Por que Hugo Chavez escolheu esse livro para dar de presente ao presidente dos EUA?
Porque é um dos livros essenciais para entender a América Latina e os próprios EUA. “Há dois lados na divisão internacional o trabalho: um em que alguns países especializam-se em ganhar, e outro em que se especializaram em perder. Nossa comarca do mundo, que hoje chamamos de América Latina, foi precoce: se especializou em perder desde os remotos tempos em que os europeus do Renascimento se abalançaram pelo mar e fincaram os dentes em sua garganta.”
Um livro que se fundamenta na compreensão da nossa América nos dois pilares que articulam nossa violenta inserção subordinada no mercado capitalista internacional: o colonialismo e os dos maiores massacres da história da humanidade – a aniquilação dos povos indígenas e a escravidão. O capitalismo chegou a estas terras espalhando sangue, revelando ao que vinha. Não a trazer civilização fundada nas armas e no crucifixo, mas opressão, discriminação, exploração dos recursos naturais e dos seres humanos.
O processo de colonização, que mudou de forma com a exploração imperial, é o fundamento do tema central e do nome do livro: “É a América Latina a região das veias abertas. Desde o descobrimento até nossos dias, tudo se transformou em capital europeu ou, mais tarde, norte-americano, e como tal se acumulou e se acumula até hoje nos distantes centros do poder. Tudo: a terra, seus frutos e suas profundidades, ricas em minerais, os homens e sua capacidade de trabalho e de consumo, os recursos naturais e os recursos humanos. O modo de produção e a estrutura de classes de cada lugar foram sucessivamente determinados, de fora, por sua incorporação à engrenagem universal do capitalismo”.
As Veias demonstram claramente como “...o subdesenvolvimento latino-americano é uma consequência do desenvolvimento alheio, que nós, latino-americanos, somos pobres porque é rico o solo em que pisamos, e que os lugares privilegiados pela natureza se tornaram malditos pela história. Neste nosso mundo, mundo de centros poderosos e subúrbios submetidos, não há riqueza que não seja, no mínimo, suspeita.”
“Com o passar do tempo, vão se aperfeiçoando os métodos de exportação das crises. O capital monopolista chega a seu mais alto grau de concentração e o domínio internacional dos mercados, os créditos e investimentos, torna possível a sistemática e crescente transferência ds contradições: a periferia paga o preço da prosperidade dos centros, sem maiores sobressaltos.” Já se sabe quem são os condenados que pagam as crises de reajuste do sistema. Os preços da maioria dos produtos da América Latina baixam implacavelmente em relação aos preços dos produtos comprados dos países que monopolizam a tecnologia, o comércio, a indústria e o crédito.
O presidente dos EUA disse, com razão, que a reunião de Trinidad Tobago demonstrará seu significado pelos efeitos concretos que tenha. Nenhum efeito será mais importante do que as conseqüências que ele – e tantos outros mandatários latino-americanos – tirem da leitura as "Veias Abertas da América Latina". As verdades de suas páginas foram confirmadas ao se transformar o livro em prova irrefutável do caráter subversivo de quem fosse pego com um exemplar na sua casa, durante as ditaduras militares latino-americanas.
Mas a força de suas verdades é o que responde pelo fato de ele seja o livro latino-americano que merece estar em qualquer lista de leituras indispensáveis, feitas ou por fazer. No melhor presente que um latino-americano pode dar ao presidente dos EUA, a todo e qualquer norte-americano, a todos os latino-americanos, pelo que decifra da nossa história e a nossa identidade, do nosso passado e do nosso presente.

*Emir Sader
é sociólogo, professor universitário e militante de esquerda
Fonte: Blog do Emir (Carta Maior)

2 comentários:

Anônimo disse...

Não há o que comentar. Só deixo o registro: " tudo foi dito em alto e bom som". Parabéns Emir, e obrigada Júlio Garcia por esta generosidade.

Anônimo disse...

Então estaríamos melhores se não houvesse colonização européia? Estaríamos melhores andando todos descalços e seminús, devorando e sendo devorados nas florestas, morrendo no século XX das mesmas doenças que matavam no tempo dos sumérios?

Se é para fazer protesto anti-colonialismo então vamos fazer direito: Fora McDonalds, mas fora também a penicilina, a água clorada, a eletricidade, a internet, os sistemas industriais como um todo, as agroindústrias, os satélites de comunicação, a TV, o rádio, a internet, e tudo o que os europeus e americanos "malvados" nos impuseram nos últimos... ahn... 500 anos?

A dominação estrangeira foi a melhor coisa que já aconteceu para os governos da américa latina! Qual outra desculpa poderia ter sido usada tantas vezes para justificar nosso próprio fracasso como civilização???