06 outubro 2009
CPI da Corrupção
Ex-presidentes do DETRAN depõem na CPI
“Bira Vermelho” seria o verdadeiro dono da empresa Atento
Porto Alegre/RS - O ex-presidente do Detran Carlos Ubiratan dos Santos (PP), o “Bira Vermelho”, seria o verdadeiro dono da Atento, empresa que cobrava uma questionável dívida de R$ 16 milhões do Estado. A revelação foi feita pelo também ex-presidente da autarquia Sérgio Buchmann, que depôs na noite de hoje (5) na CPI da Corrupção. Segundo ele, a informação partiu do secretário adjunto da Administração, Genilton Macedo Ribeiro, que teria afirmado que “a Atento é do Bira Vermelho e quem está por trás dele (Bira) é José Otávio Germano”. Ambos são apontados como integrantes da quadrilha que desviou mais de R$ 44 milhões do Detran.
A delegada Estella Máris Simon, que depôs durante a tarde, admitiu que também “ouviu falar” que Santos seria o proprietário da empresa prestadora de serviços de guincho e de depósito de veículos.
Buchmann disse, ainda que recebeu ordem do ex-secretário da Transparência Carlos Otaviano Brenner de Moraes para renegociar a dívida cobrada pela Atento. Mas, segundo o ex-presidente do Detran, isso não seria mais possível, pois “a relação jurídica entre o Estado e a empresa já estava extinta”. Ele admitiu, ainda, que recebeu um prazo da governadora para resolver o problema do débito. “Sempre defendi que não fosse efetuado nenhum pagamento não previsto pela legislação própria dos Detrans. Seria uma leviandade”, frisou.
Partilha da propina
O depoente reafirmou aos deputados o teor do depoimento que prestou à Polícia Federal e ao Ministério Público Federal em agosto. Ele relatou uma conversa que manteve com o secretário adjunto e diretor geral da Administração e dos Recursos Humanos, Genilton Macedo Ribeiro. Segundo o ex-presidente do Detran, Ribeiro ordenou que ele (Buchmann) “calasse a boca” e não falasse mais com a imprensa sobre problemas do Departamento de Trânsito. O secretário teria afirmado, ainda, que a governadora Yeda Crusius estava sendo chantageada pelo ex-marido Carlos Crusius, por Flávio Vaz Netto, também ex-presidente do Detran, e pelo empresário Lair Ferst.
Conforme Buchmann, o secretário adjunto teria, ainda, fornecido detalhes sobre a divisão dos dividendos da fraude no Detran. Ribeiro teria dito que 24% do movimento financeiro gerado pela terceirização dos serviços da autarquia, via fundações, seria dividido entre Ferst, que receberia 12%, e os demais participantes do esquema, que ficariam com percentual idêntico. Após a troca das fundações no começo do governo Yeda, Carlos Crusius teria alterado a partilha, ficando junto com a governadora com 11%, e reservando apenas 1% para Ferst.
A presidenta da CPI, Stela Farias (PT), disse que o conteúdo do depoimento de Buchmann aparece em outras conversas interceptadas pela Polícia Federal. Citou ligações telefônicas em que pessoas ligadas à fraude do Detran comentam a divisão da propina, como o empresário Lair Ferst, o ex-presidente do Detran Flávio Vaz Neto e o ex-representante do Rio Grande do Sul em Brasília Marcelo Cavalcante, morto no início do ano em circunstâncias não explicadas.
Na avaliação da presidenta da comissão de inquérito, as duas oitivas realizadas hoje revelam que tanto Estella Máris Simon quanto Buchmann foram forçados a sair da direção do Detran porque não quiseram pagar a Atento. Buchmann revelou, inclusive, que, no dia de sua posse na autarquia, Estella alertou que “ele (Buchmann) teria vindo para pagar o débito alegado pela empresa”.
Cilada
O depoente narrou aos deputados a visita feita pelo chefe de gabinete da governadora Yeda Crusius, Ricardo Lied, um dia depois que ele (Buchmann) publicou uma portaria descredenciando a Atento. O pretexto da visita seria para avisar o ex-presidente do Detran que seu filho seria preso por tráfico de drogas. Lied sugeriu que Buchmann ligasse ao seu filho pedindo que ele franqueasse a entrada dos policiais em sua residência.
O depoente classificou o episódio de cilada e atribuiu o fato, entre outras coisas, à iniciativa da direção do Detran de instituir um pátio público na Secretaria de Segurança para abrigar veículos apreendidos. Segundo Buchmann, depois da área ter sido terraplanada, o secretário de Segurança, Edson de Oliveira Goularte, indeferiu o uso do pátio. A ordem não foi cumprida pelo ex-presidente do Detran. “Uma série de fatos inexplicáveis antecederam a visita. A questão do pátio foi uma delas.”
Desqualificação
Sobre as tentativas da base governista de desqualificar a testemunha, o deputado Daniel Bordignon (PT) argumentou que Buchmann tem 34 anos de serviços prestados ao Estado, não respondeu a nenhum processo administrativo e ocupou funções importantes em, praticamente, todos os governos. “Seria razoável tentar desqualificar o depoente se ele tivesse obtido algum tipo de vantagem com as revelações que fez. Mas o que aconteceu foi justamente o contrário”, frisou o parlamentar. .
Questionado pelo petista, o depoente afirmou que não se sente ameaçado, “mas que não quer que se repita com ele e com familiares o que aconteceu com seu filho. Me preocupo, mas procuro não pensar senão vou deixar de viver”, revelou. (Por Olga Arnt, do sítio PTSul)
*Edição e grifos deste blog
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Um comentário:
Que indecentes, como tem corrupção ai.
Pior vocês publicam, fazem passeata e nada. Abrs!
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