Porto Alegre/RS - Sul21 - O segundo turno das eleições presidenciais está sendo marcado por fatos inéditos na política local e nacional. Depois da vitória sem precedentes de um governador no primeiro turno, o estado vivencia, neste segundo turno da disputa presidencial, uma união de partidos que ao longo de sua trajetória sempre foram de oposição. Na noite desta quinta-feira, 14, o PTB, PMDB e o PDT deixaram para traz as diferenças que surgiram na disputa estadual e se uniram ao projeto da candidata Dilma Rousseff (PT). Em um encontro de três mil pessoas, entre lideranças políticas, prefeitos, vereadores, deputados estaduais e federais, foi pactuada a chamada “arrancada da vitória” da candidata escolhida pelo presidente Lula.
O cenário montado no Hotel Plaza São Rafael tinha um fundo de palco diferente dos utilizados na campanha do primeiro turno. As imagens que apareciam para o público eram de Dilma, Lula e do candidato a vice de Dilma, Michel Temer (PMDB). E não era só na decoração que estava explícito que o PMDB era um convidado especial na plenária pró-Dilma. Na mesa de lideranças, ao lado do governador do eleito, Tarso Genro (PT), todos cumprimentavam e conversavam com o deputado federal e líder do PMDB na Câmara Federal, Mendes Ribeiro Filho. Inclusive o presidente do PT gaúcho, o deputado estadual Raul Pont (PT), que é de uma ala mais radical do partido, elogiou Mendes pela coerência de defender o projeto nacional que o seu partido apoia. “Nós tivemos as nossas diferenças na disputa estadual, mas agora o momento é de unidade pelo projeto de continuidade do governo Lula”, disse.
Mendes Filho fez questão de concordar, inclusive brincando com a ironia de um peemedebista dar razão a um petista. “É hora de legitimar o currículo e o projeto de Dilma. Eu vou continuar fazendo o que eu sempre fiz que é dizendo quem é a Dilma, a pessoa competente que ela é. Eu conheço ela e sei que ela é comprometida e capaz de governar este país. Desde que ela tinha 2% eu dizia que ia apoiá-la”, salientou com energia. O deputado listou a nominata de prefeitos que trabalham por Dilma desde o primeiro turno e que representam quase a totalidade do partido no Rio Grande do Sul. Ao final do seu discurso, Mendes Filho encerrou com a tradicional frase do pai, Jorge Alberto Beck Mendes Ribeiro: “Foi um privilégio ter estado aqui com vocês”.
Outro momento de recordações históricas foi representado na presença e discurso do ex-deputado Aldo Pinto (PDT). O representante do velho MDB integrou a mesa de lideranças no palco e elogiou as conquistas do presidente Lula para o Brasil pós redemocratização. “Nós temos hoje um reconhecimento internacional que nunca tivemos na história deste país. E quando eu pensava que não eram mais necessários argumentos para o povo brasileiro perceber qual o melhor projeto para o país, vem esses golpes baixos de calúnias contra a campanha de Dilma”, criticou. Aldo Pinto ainda brincou ao final: “Deus o livre o RS ficar nas mãos de dois paulistas”.
Apoio do PTB referendado
Outro convidado que muito bem recebido foi o senador Sérgio Zambiasi (PTB), que estava acompanhado do deputado estadual, Luis Augusto Lara (PTB). Apesar de não ter uma decisão oficial do partido para o apoio na eleição presidencial, ambos referendaram a posição petebista nacional que integra a base do governo Lula desde o início de seu mandato.
Segundo Lara, Dilma conta com unanimidade de apoio da bancada federal do PTB e parte da bancada petebista gaúcha. Ele explica que a decisão do partido no RS não foi coletiva em razão da escolha de alguns deputados em apoiar José Serra (PSDB). “Mas quem optou por ela, está de acordo que, uma vez que Tarso foi eleito o governador, para melhorar os fluxos e encaminhamentos dos projetos de desenvolvimento do estado é melhor que a Dilma seja presidente. Chega de o RS ficar como oposição ao governo federal.”, ressaltou.
Zambiasi fez questão de salientar a satisfação pessoal de ver o amigo Tarso Genro eleito governador do Rio Grande do Sul. Abriu que votou Tarso e chamou o colega de senado, Paulo Paim (PT) de irmão. Mostrando-se muito entusiasmado com a campanha de Dilma, Zambiasi fez um alerta sobre a armadilha da discussão sobre o aborto na campanha eleitoral. “Eu tenho lido e ouvido nestes últimos dias, coisas sórdidas que estão querendo transformar em discurso de campanha. Cuidado mulheres, vocês são e podem se transformar daqui pra frente nas principais vítimas deste discurso. Vamos levantar a bandeira contra este tipo de conservadorismo”, salientou convocando as deputadas federais, Manuela D´Ávila (PCdoB) e Maria do Rosário (PT).
O tema do aborto
Para a deputada petista, há uma tentativa constante de impedir Dilma de fazer campanha motivada pela questão de gênero. “Ela tem dois pecados nos olhos das elites: ela representa os pobres, enfrentando o projeto neoliberal e ao mesmo tempo é uma mulher. Portanto ela está desafiando padrões e a vitória dela representa a consolidação de um projeto que ainda precisa ser aprofundado”, avalia. Rosário lamentou que temas da Idade Média, como o aborto, integrem o debate de forma superficial e baixa num processo eleitoral do século 21. “Se tenta pautar o debate de decisões sobre o corpo da mulher de forma a fazer sombra sobre o verdadeiro debate que a posição não está fazendo, o dos diferentes projetos para governar o país”, disse.
A mesma cautela foi referendada pelo coordenador geral dos trabalhos, o governador eleito, Tarso Genro (PT). Ele recordou a onda na internet que está sendo, na sua avaliação, uma campanha de golpismo político aos moldes dos eventos ocorridos em 1964 para preparar a ofensiva contra as instituições e derrubar o presidente eleito. “Eu lembro que naquela época, eu tinha 17 anos, a ameaça era outra. Hoje é até mais grave. Porque o golpismo de hoje é o da manipulação da informação disparada pelos adversários e conta com a cumplicidade de parte da grande imprensa que vai disseminando calúnias e difamações”, alertou.
Tarso avaliou que a eleição de Serra pode representar um dano irreversível ao país, uma vez que ele se elege pela mentira e pela calúnia de gestores sérios e comprometidos com o estado que vêm construindo a história do país desde a Constituição de 1988. “Nós aqui no RS podemos estar sentados na mesma mesa, mesmo sendo ontem adversários na eleição estadual, pois nós amadurecemos este processo fazendo uma campanha honrada e de nível”, avaliou.
Candidato na eleição para vice-governador do RS ao lado do principal adversário de Tarso, o deputado federal Pompeo de Mattos (PDT), esteve na mesa com menos empolgação que os colegas. Aplausos tímidos, sorrisos amarelos, mas, convicção na postura coerente do PDT gaúcho desde o primeiro turno. “Não teve constrangimento aqui. Nós sempre tivemos claro que nossa candidata é a Dilma, pois integramos a base do governo Lula. A diferença é que agora estamos mais a vontade e com vontade de fazer a campanha dela”, reconheceu ao Sul21.
Apoiador de José Fogaça, mas igualmente da presidenciável Dilma Rousseff no primeiro turno, o prefeito de Porto Alegre, José Fortunati (PDT), defendeu com mais convicção o projeto da petista. “O povo tem que entender que o que está em jogo não são dois candidatos que disputam pessoalmente e sim, dois projetos completamente antagônicos que vão governar o Brasil”, falou. Fortunati também ponderou o baixo nível da campanha presidencial que, “nunca foi tão sórdida”.
O encontro desta quinta trouxe mais peso político para a campanha de Dilma Rousseff, um dos pedidos do presidente Lula para esta segunda etapa. No próximo domingo, 17, a coligação pluripartidária pró-Dilma irá carregar uma faixa sem siglas e apenas o pedido de voto em Dilma pelo parque da Redenção.
Perguntado à deputada Manuela D´Ávila como estava a mobilização nas ruas, já que as agendas dos apoiadores de Dilma vem acontecendo dentro de espaços fechados, ela respondeu por ela: “Eu sempre estive na rua, é lá que eu me elejo e é lá que eu vou estar”.
Faltou o PP
Também na quinta-feira, 14, o presidente nacional do PP, senador Francisco Dornelles (RJ), anunciou o apoio formal do partido à candidatura da presidenciável do PT, Dilma Rousseff. Porém, o presidente do PP gaúcho, Pedro Bertolucci, não compareceu ao evento.
O governador Tarso Genro disse que está conversando com o partido e que espera a adesão de alguns progressistas, entre eles o deputado estadual Mano Changes, que um dia antes na reunião do partido discordou da decisão local de apoio a José Serra (PSDB). (...)
Fonte: http://sul21.com.br
Nenhum comentário:
Postar um comentário