Por Kátia Gerab Baggio*, especial para o Viomundo**
Liguei na GloboNews hoje, 12/11, à tarde. Desde 2014 e da campanha
pró-impeachment, passei a assistir cada vez menos à emissora, por não
suportar a mesmice da pauta neoliberal, na economia, e reacionária, em
relação aos direitos sociais, que passou a rechear os horários do canal
noticioso do Grupo Globo.
Estava sendo transmitido o GloboNews Documentário. Quando liguei a
TV, o tema era Paulo Freire e seu papel fundamental para a educação e a
alfabetização. Depois, o filme abordou a militância do estilista Carlos
Tufvesson e sua luta contra a homofobia.
Na sequência, o documentário passou a tratar da trajetória de Celso
Athayde e da criação da CUFA, a Central Única das Favelas. Por fim, a
retratada foi Lucinha Araújo e a Sociedade Viva Cazuza, que dá
assistência a crianças e adolescentes portadores do vírus da AIDS.
Centrado nesses quatro personagens — Paulo Freire, Carlos Tufvesson,
Celso Athayde e Lucinha Araújo — e em suas lutas por causas sociais, é,
indiscutivelmente, um documentário favorável à inclusão e contra a
intolerância.
Uma coprodução da Cinética Filmes com a GloboNews e a Globo Filmes,
de 2017, o documentário tem por título “Os Transgressores” e foi
dirigido por Luis Erlanger, jornalista de longa trajetória no jornal “O
Globo” e na TV Globo.
Por que resolvi escrever este texto?
No auge da campanha pró-impeachment, em que o Grupo Globo buscou, por
todos os meios, insuflar as pessoas a ir às ruas de verde e amarelo,
contra o PT, Dilma e Lula, documentários como este não eram usuais na
programação dos veículos “globais”. Era necessário fazer vistas grossas à
presença da extrema-direita nas ruas.
Ao lado do antipetismo, estavam intolerantes e violentos: racistas,
misóginos e homofóbicos. Gente simpatizante de Bolsonaro e que vota em
parlamentares da bancada BBB, da “Bala, Bíblia e Boi”.
Neste momento, o Grupo Globo está buscando dissociar-se da
extrema-direita. A mesma extrema-direita com a qual somou forças para
que o golpe de 2016 fosse consumado.
Nos atos de 2015 e 2016 a favor do impeachment, cartazes homofóbicos,
racistas e contrários aos direitos humanos estavam nas ruas, junto com
aqueles de ódio aos “petralhas”, às esquerdas e aos movimentos sociais.
Cartazes com frases como “Fora Dilma e leve o PT junto”, “A nossa
bandeira jamais será vermelha”, “A culpa não é minha, eu votei no
Aécio,” e “Chega de doutrinação marxista, basta de Paulo Freire”
proliferavam. Tudo isso com o aval do Grupo Globo, que os endossava ou
os escondia, no caso daqueles empunhados pela direita mais intolerante e
extremista.
Mais de um ano depois de consumado o golpe, o Grupo Globo quer
enganar a quem? Quer esconder que esteve aliado à extrema-direita para
golpear a democracia? E, junto com a democracia, os direitos sociais e
os direitos humanos?
Quer esconder que apoiou a chegada ao poder deste projeto excludente do (des)governo de Temer?
A família Marinho apoiou o golpe civil-militar de 1964 e o regime
ditatorial militar, que durou duas décadas. Apoiou o golpe de 2016 e a
campanha virulenta que visou à destruição do PT, de Dilma, Lula e de
todas as esquerdas.
E agora resolveu endossar campanhas antirracistas, anti-homofóbicas e em defesa dos direitos humanos.
Mas continua a favor de um projeto neoliberal de enxugamento do
Estado, de privatizações do patrimônio público a preços vis, e de
retirada de direitos trabalhistas e sociais.
Não é possível deixar-se enganar pelo “canto da sereia”.
O Grupo Globo foi golpista em 1964 e 2016. E continua sendo a #GloboGolpista.
*Kátia Gerab Baggio é historiadora e professora de História das Américas na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
**Fonte desta postagem - http://www.viomundo.com.br
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