Por Fernando Brito*
Há uma onda imensa sobre as suspeitas de que os desembargadores que
irão julgar o recurso de Lula contra a sentença de Sérgio Moro “estão
sendo “ameaçados”, querendo fazer crer que os “lulistas” estão
pressionando suas excelências além dos limites normais e naturais da
democracia.
É visível que ocorrem pressões assim, mas no sentido contrário.
As pressões começaram, todos sabem, bem antes até da chegada do
processo a Porto Alegre. Pressão que, qualquer um vê, parte dos meios de
comunicação, do mercado financeiro e dos bolsões de direita radical
que, desde sempre, deixam claro que não aceitam outro resultado senão a
confirmação da sentença.
Remetido o processo ao TRF-4, apareceu um elemento insólito e indigno
de pressão – indecoroso, até – que foram as declarações do presidente
daquela corte dizendo que a sentença era “irretocável” e “tecnicamente
perfeita”. Não apenas não é, como o provam as centenas de manifestações
de juristas e acadêmicos apontando-lhes os absurdos, mas ainda que
fosse, é inédito que o presidente de um Tribunal se manifeste assim
sobre algo que seus pares irão julgar.
Pressiona, pressiona e o relatório do caso Lula “passou a frente” de vários outros e tramitou em tempo recorde.
Depois, o palerma do Prefeito de Porto Alegre, dançarino de Despacito e MBL nas horas vagas, mandou ofício a Michel Temer pedindo “o Exército” para garantir a segurança no julgamento.
Agora, é o presidente do Tribunal, Carlos Eduardo Thompson Flores,
que sai, de déu em déu, para discutir as “medidas de segurança”. Com
quem? Com o presidente da Ordem dos Advogados e com a Ministra Cármem
Lúcia, presidente do STF. Alguém pode dizer em que, na prática, algum
dos dois pode ajudar a montar uma estrutura de segurança? Se é apenas
para fazer declarações vagas, o telefone é mais barato.
Igual é a eficácia da reunião com petistas bocós, que ouviram Sua
Excelência dizer que há ” o caso de uma pessoa do Mato Grosso do Sul
que tem feito ameaças de atentado contra o prédio do TRF4 ” e que
recebeu “um telefonema do presidente da associação de magistrados com
relatos de ameaças a juízes”. Em vez de dizer ao doutor que “não há
orientação neste sentido” e reconhecer que “há radicalismo”, se não
fossem patetas, perguntariam ao desembargador porque é que o cidadão do
MT não foi detido e está sendo averiguado e onde estão os inquéritos
policiais sobre as ameaças, que são crime de ação pública, o que os
magistrados sabem bem, que depende de queixa para serem investigados.
Houve queixa? De quem, por quê, onde, de que forma? Até porque pode
haver um grupo de provocadores fazendo ameaças “ao contrário” para
acirrar o clima e, com isso, criar a tal pressão sobre os magistrados.
Por fim, entra a Polícia Federal – e olhe lá se Curitiba não vai
ajudar – com mais uma operação, a 234562ª fase de alguma Lava Jato – a
reacender o clima de escândalo, com o indiciamento de Fernando Haddad,
um despropósito. E ainda teve o encontro de Michel Temer com seu amigo, o
diretor da PF…
O fato é que se desencadeou, sim, uma onda de pressões com base na
mídia, em fatos (ou factoides) imprecisos e anônimos e o sincronismo de
ações policiais e judiciais com o julgamento do dia 24.
Não é preciso ser nenhum Catão para perguntar: cui prodest, a quem isso serve?
*Jornalista, editor do Blog Tijolaço
Nenhum comentário:
Postar um comentário