"Se na economia a visita de Lula a Xi Jinping aponta para a ampliação de uma relação econômica já existente, na geopolítica ela equivale à quebra de um paradigma"
Editorial de hoje do site Brasil247*:
Só uma palavra é capaz de expressar a reação universal diante do significado da visita do presidente Lula à China: perplexidade.
De fato, digerir o teor contido na profusão de imagens, das falas e dos acordos, decifrar seu alcance e dimensionar sua projeção no futuro exigem um esforço colossal.
Se na economia a visita de Lula a Xi Jinping aponta para a ampliação de uma relação econômica já existente, na geopolítica ela equivale à quebra de um paradigma.
A julgar pelos 22 acordos assinados, a China se dispõe a caminhar junto com o Brasil em busca da assimilação dos instrumentos necessários à construção de infraestruturas de ponta para uma sociedade desenvolvida.
Está a China sinceramente dedicada à transferência de suas tecnologias, mesclando parques econômicos e estruturas, na expectativa de ganhos compartilhados, em que cooperação supere a natural competição? As leis da economia dão base material a esses valores morais?
Nos próximos tempos, o Brasil saberá se o que se plantou na China vai além da diplomacia.
A ser para valer essa intenção, o que pode surgir da fusão e o compartilhamento de modelos entre os que mais avançam em ciência, inovação e tecnologia com aqueles, o Brasil, que mais se valem da extração, problemática, dos recursos naturais? Pode ser que se esteja diante de uma convivência tranformadora para o Brasil. Uma revolução silenciosa, de novo tipo, resultante do acasalamento entre sistemas mutuamente dependentes.
Mas é no plano geopolítico, que os encontros de Pequim assumem potencial de dimensões ciclópicas.
É bem verdade que conveniências econômicas muito evidentes inclinam a balança brasileira em direção ao maior parceiro comercial do país. Em todas as instâncias, Lula manifestou o interesse brasileiro em transitar para uma posição de maior distanciamento em relação a Washington.
Fez isso ao manifestar que ninguém pode impedir China e Brasil de negociarem em suas próprias moedas, contornando o dólar.
Também demarcou afastamento ao reiterar a cessação das hostilidades na Ucrânia, o que talvez desagrade mais do que tudo o Departamento de Estado. Fez ao defender uma China única, com a reunificação de Taiwan ao continente. Fez ao reafirmar a união com Rússia, China, Índia e África do Sul nos Brics, que agora prepara sua expansão, com novas adesões, como bloco alternativo de poder.
Como Donald Trump não deixou escapar em entrevista nesta semana, há diversos sinais, a posição brasileira na China entre eles, de que os Estados Unidos estão perdendo o domínio de seu império. Vem daí o combustível para tanta perplexidade dos estadunidenses, devidamente ecoada pelo mau humor com Lula e mesmo a negação da mídia conservadora mesmo diante de evidências sugestivas de mudanças tão transcendentes.
*Via Brasil247
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