13 fevereiro 2014

“Quilombola, índio, gay: tudo que não presta”; acabou o tempo das sutilezas




Por Rodrigo Vianna*

O vídeo acima é outra prova inconteste: não existe mais direita e esquerda no Brasil e no mundo. Não. São conceitos velhos e enterrados – assim como luta de classes.

No vídeo acima, dois homens bons da pátria partem pra cima da “vigarice” e de “tudo que não presta” – como eles mesmos dizem, de forma neutra, sem nenhum peso ideológico.

É preciso combater os quilombolas, índios, gays – “tudo que não presta”, diz o deputado Luiz Carlos Heinze (PP-RS). E quem protege essa gente que não presta? O ministro Gilberto Carvalho (PT). Ele é o alvo.

Como se sabe, Carvalho não é de direita nem de esquerda. Esse é um conceito antigo. O deputado do PP não gosta dele por motivos outros: “tá tudo [movimentos sociais] aninhado ali com eles, e eles têm a direção e o comando do governo”.

Outro deputado, Alceu Moreira (PMDB-RS), diz que  o “chefe dessa vigarice orquestrada está na ante-sala da presidência da República”. Gilberto Carvalho não é muito popular entre a turma do agronegócio. O nobre deputado Alceu acusa também o CIMI (Conselho Indigenista Missionário – “que de cristão não tem nada”, ele avisa) de favorecer a “baderna”.

Tudo ocorreu não durante uma sessão da Ku-klux-klan brasileira. Não. Foi durante “Audiência Pública da Comissão de Agricultura da Câmara dos Deputados”. Um órgão do Estado brasileiro.

Assisto o vídeo, lembro da Sherazade e dos negros acorrentados pelo pescoço. Lembro do capataz da Globo processando blogueiros. E penso: o Professor Hariovaldo é engraçado, mas a direita brasileira não pode ser tratada como folclore.

Ficam PT e PSOL brincando de comunistas e socialistas na Guerra Civil Espanhola. Matam-se simbolicamente na internet. Enquanto isso, a direita avança.

PP e PMDB fazem parte da base de apoio do governo, dirão os psolistas – com razão. Mas o ódio que eles têm não é contra o PSOL, mas contra um ministro do PT – que está no poder, e abre espaço para quilombolas, índios e movimentos sociais.

A direita e a esquerda não existem mais, certo? Tudo foi dissolvido nos acordos parlamentares, na rede intrincadas (e suja, muitas vezes) de acertos feitos pelo PT para manter-se no governo (e relembro que governo significa apenas uma parte do poder; o PT e a esquerda não chegaram ao poder).

A direita está avançando na luta pela hegemonia cultural e social. O PT colhe seguidas vitórias eleitorais para a presidência. Mas, a cada vitória eleitoral, sofre nova derrota política, recuando mais e mais seu programa.

Ou se enfrenta isso, ou se trava uma guerra por hegemonia pra valer, ou alceus e heinzes voltarão ao centro do poder. Hoje, eles são obrigados a dividir e disputar espaços com petistas e outras forças de esquerda.

O equilíbrio é cada vez mais frágil. Não adianta Lula e a direção do PT assobiarem e olharem pro lado. A guerra está posta.

Direita e esquerda não existem mais? Avisem ao Alceu e ao Heinze. Eles não estão sabendo.

*Via http://www.rodrigovianna.com.br/

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