“Se queremos um socialismo democrático precisamos de uma
revolução democrática”
“Se defendemos uma transição democrática para o socialismo,
precisamos de uma revolução democrática para fazer essa transição. Não podemos
separar as ideias de revolução e de socialismo da ideia de democracia. Este é o
grande desafio dos socialistas e marxistas hoje e essa revista pretende ser um
espaço plural de reflexão sobre esse tema”. Foi assim que o cientista político
Juarez Guimarães (foto), professor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)
apresentou a revista Democracia Socialista no ato de lançamento da mesma,
ocorrido quinta-feira (20) à noite, no Sindicato dos Bancários, em Porto
Alegre. A publicação, anunciou Juarez
Guimarães, pretende ser um local onde todos que reconhecem a importância dessa
agenda possam se encontrar, escrever e refletir sobre os desafios que estão
colocados para a esquerda hoje no Brasil, na América Latina e no mundo.
A revista é uma publicação quadrimestral da Democracia
Socialista, tendência interna do PT, mas pretende promover o de debate e a
reflexão sobre os desafios e dilemas da esquerda para além das fronteiras do
partido. O deputado estadual Raul Pont observou que durante muito tempo a DS
manteve o jornal Em Tempo como espaço de informação e debate teórico. O jornal,
porém, ressaltou, foi ficando muito defasado com a evolução de novas
tecnologias de comunicação. “Hoje, temos notícias e análises de conjuntura
disponibilizadas diariamente. Decidimos então produzir uma revista teórica plural
e não sectária, que está aberta a outras correntes do partido e também de fora
do PT”, explicou.
“Todos aqui temos orgulho de tudo o que já fizemos em nossa
trajetória”, acrescentou Pont, “mas sabemos também que há muitas coisas que não
conseguimos fazer em nossos governos. Essa autocrítica é o que nos move para
continuar avançando”. Na mesma linha, Juarez Guimarães destacou a importância
da revista como ferramenta teórica para enfrentar o contexto de crescente
pragmatismo registrado no interior do PT.
“Identificamos há alguns anos já que o PT vem convivendo com
uma cultura pragmática que arrisca, no limite, dissolver a sua identidade como
partido socialista. Não podemos seguir cedendo em valores em nome meramente do
cálculo eleitoral utilitarista. Esse pragmatismo rebaixa o horizonte utópico e
nos resseca a todos”, enfatizou o cientista político e dirigente do PT em sua
fala no auditório do Sindicato dos Bancários.
Juarez Guimarães utilizou a figura do labirinto para fazer
uma comparação entre a situação vivida pela esquerda hoje e aquela vivida no
período pós-golpe de 64. “Os jovens que começaram a militar no período
pós-golpe, naquela situação agônica, tinham diante de si um labirinto que
parecia não ter saída, onde se cruzavam dilemas antigos e novos da esquerda
brasileira. Esses dilemas envolviam a caracterização do estágio e da natureza
do desenvolvimento brasileiro, os limites do conceito de revolução democrática
burguesa, defendido então pelo Partidão (PCB). As divergências em torno dessas
questões fizeram com que as cisões das esquerdas adquirissem a forma de um
labirinto. Dezenas de pequenos grupos de esquerda passaram a buscar a saída
desse labirinto. A saída desse labirinto foi a fundação do PT muitos anos
depois, após muitos erros, no sentido de errância mesmo”.
“Assim como a esquerda nos anos 60 viveu esse labirinto”,
acrescentou, “hoje nós vivemos o nosso labirinto também, resultante de um
processo de cisão e descontinuidade da cultura marxista que tem uma relação
profunda com os impasses vividos pelo PT hoje”. Para Juarez Guimarães, a chave
para buscar a saída desse labirinto encontra-se no próprio Marx, em especial na
ideia de auto-emancipação.
“Essa ideia central de Marx o protege de qualquer elemento
repressivo ou autoritário que se possa querer extrair de sua obra”, defendeu,
apontando aquele que considera ser o caminho estratégico a ser seguido pela
esquerda no Brasil e no mundo: não dissociar as ideias de socialismo, revolução
e democracia. “Esse é o grande desafio dos socialistas e marxistas hoje: fazer
uma revolução democrática. Nunca esqueci de algo que o Raul (Pont) disse certa
vez: quando estivermos confusos sobre o que fazer, precisamos dar democracia às
pessoas. Fazendo isso, as chances de errar serão muito menores”.
* Por Marco Aurélio Weissheimer - Editor do RS Urgente
-via
http://rsurgente.wordpress.com/
(Grifos deste Blog)
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