Primeiros elementos para uma avaliação do 1º turno das eleições municipais de 2016
“Humilhação nacional do PT em eleições municipais”. Essa é a avaliação de um porta-voz do mercado, o jornal inglês “Financial Times”, que acentua a oportunidade agora de “reformas fiscais cruciais”, mas, ao mesmo tempo, se preocupa porque a “fragmentação do voto torna a eleição presidencial ainda mais imprevisível”.
De fato, com uma redução de 10 milhões de votos (de 17,2 milhões para 6,8 milhões) e 60% de prefeituras em relação a 2012, o PT é o maior derrotado. Mas o maior vitorioso não é ninguém senão a soma da abstenção, do voto em branco e do voto nulo, que beira 30%, quase 40 milhões (dados do site R7). Nas 92 cidades com mais de 200 mil habitantes, é de um terço do eleitorado (32,5%, quando foi 27,2% em 2012), a ponto de em 10 capitais estaduais ficar em primeiro lugar!
Na verdade, a “vitória” da abstenção mais brancos e nulos retoma elementos de junho de 2013, aprofundando o perigoso fosso entre o povo e as instituições de representação. O que realça a necessidade da reforma política que só uma Constituinte Soberana pode fazer.
Não é certo dizer que o Brasil foi para a direita. Não, quando os bancários completam quatro semanas de uma dura greve nacional e quando a CUT, saindo de um dia de “esquenta”, segue na preparação de uma greve geral por Nenhum Direito a Menos, em discussão, por ora, com outras centrais sindicais para novembro.
Afinal, o PSDB cresceu, mas de 14 milhões para 17,6 milhões de votos (dados do site G1), com a legislação de encomenda para doação de candidatos-milionários. O DEM parceiro foi de 4,6 milhões para 4,9 milhões. Mas o PMDB, alçado à presidência, caiu de 17 milhões para 14,9 milhões. Todos eles juntos, o eixo do golpe, não cresceram muito; e o golpista Temer teve que ir votar escondido!
Também não houve a cantada ascensão do PSOL como “herdeiro” do PT, pois caiu de 2,4 milhões para 2,1 milhões, enquanto o PCdoB caiu de 1,9 milhão para 1,8 milhão.
A hora é muito grave!
O exame cuidadoso dos resultados das forças políticas, todavia, não permite subestimar a derrota eleitoral histórica do PT. O recuo não foi uma surpresa, depois do impeachment, na esteira da perseguição ao PT e a Lula. Mas cair de 644 prefeituras em 2012 para 256 em 2016 é a maior derrota da vida do PT, que não mudará nas importantes disputas de 2º turno em Recife, Juiz de Fora, Santo André e outras cidades.
Porque o recuo se encadeia com o crescimento regular da abstenção-nulo-branco nas últimas eleições, enquanto o PT caía nos grandes centros e no “cinturão vermelho” em São Paulo. Já no 2º turno de 2014, o PT perdeu aí – onde está a sua base histórica, antecipando o cenário atual, em que concentra (57,4%) prefeituras de cidades de menos de 10 mil habitantes, ou na cidade de São Paulo, onde tem o melhor resultado no bairro de Pinheiros, e não em regiões populares.
Sejamos claros: há a perseguição da Lava Jato, que vem do “mensalão”, há 10 anos, mas há também a frustração profunda da base social do PT, que vem de longe. Porque, apesar de certas conquistas, a desigualdade continua e as reformas populares de fundo, que não precisamos enumerar aqui, não foram feitas. Prevaleceu a adaptação às instituições herdadas. Sobrou “conciliação” com o inimigo.
O governo, como se sabe, depois do 2º turno de 2014, retribuiu com Levy, primeiro, e Barbosa, depois, com as medidas de ajuste fiscal. Como se não bastasse manter o traíra Temer vice-presidente, em nome da malfadada aliança nacional com o PMDB. Deu no que deu!
Agora é a hora da Reconstrução do PT
Apesar de tudo, as condições existem. A base social ainda não trocou de partido; a relação pode ser reatada. E, como o grande capital internacional não deixa outra saída senão a luta contra as medidas impopulares anunciadas, é nesta quadra à frente, e não às nossas costas, que se jogará o futuro do PT se, e somente, se ligar totalmente a esse movimento.
O que começa agora, já, orientando claramente para o 2º turno municipal: voto no PT e nos candidatos passíveis de apoio pela resolução do DN, isto é: Nenhum Voto em Golpista!
É o que defendemos com os companheiros do Diálogo e Ação Petista, e estaremos levando à discussão nos atos e debates do Diálogo Itinerante que começam agora.
Renúncia da direção
Nossas opiniões são conhecidas, sempre as apresentamos ao debate no PT. Mas agora trata-se de algo mais. Trata-se de tirar algumas conclusões com urgência.
Num partido de representação sério e responsável, com expressão institucional, em qualquer país civilizado uma derrota eleitoral como esta daria lugar à única medida compatível: a renúncia da direção. Não de pessoas, da direção.
É um sinal vital, para a base, da disposição de mudar; é uma satisfação mínima aos quadros e militantes que batalharam. E é também uma necessidade para evitar a precipitação e a insensatez.
Não se trata apenas de discutir quando será o Congresso “plenipotenciário” e se elegerá direção, com delegados eleitos em encontros de base, e não mais no falido PED, como defendemos, mas de criar as condições para uma direção com autoridade política e disposição para conduzir o processo congressual.
A Comissão Executiva Nacional deve entregar o quanto antes os cargos ao Diretório Nacional que a elegeu, para que uma Executiva Provisória – ou como se quiser chamar – com os melhores quadros por ele designados encaminhe o Congresso convocado, para constituir um novo Diretório Nacional e uma nova orientação.
É nossa responsabilidade coletiva para com as companheiras e companheiros que construíram esse partido, que vivem para o partido e não do partido!
Com todos os problemas, eles lutaram com o PT e contra o golpe e chegamos até aqui. Os dirigentes é que precisam, ainda mais, ter a coragem de oferecer-lhes a esperança de darmos, juntos, a volta por cima.
São Paulo, 4 de outubro de 2016
Markus Sokol, membro do DN-PT
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