Por Fernando Brito, no Tijolaço*
A nota do compositor João Bosco, cuja inesquecível música “O Bêbado e
a Equilibrista” , imortalizada por Elis Regina logo após o assassinato
do jornalista Vladimir Herzog, no Doi-Codi paulista, sobre o uso de seu
verso – “a esperança equilibrista” para batizar a investida policial
sobre professores da Universidade Federal de Minas Gerais, seu estado:
Recebi com indignação a notícia de
que a Polícia Federal conduziu coercitivamente o reitor da Universidade
Federal de Minas Gerais, Jaime Ramirez, entre outros professores dessa
universidade. A ação faz parte da investigação da construção do Memorial
da Anistia. Como vem se tornando regra no Brasil, além da coerção
desnecessária (ao que consta, não houve pedido prévio, cuja
desobediência justificasse a medida), consta ainda que os acusados e
seus advogados foram impedidos de ter acesso ao próprio processo, e
alguns deles nem sequer sabiam se eram levados como testemunha ou
suspeitos. O conjunto dessas medidas fere os princípios elementares do
devido processo legal. É uma violência à cidadania.
Isso seria motivo suficiente para
minha indignação. Mas a operação da PF me toca de modo mais direto, pois
foi batizada de “Esperança equilibrista”, em alusão à canção que Aldir
Blanc e eu fizemos em honra a todos os que lutaram contra a ditadura
brasileira. Essa canção foi e permanece sendo, na memória coletiva do
país, um hino à liberdade e à luta pela retomada do processo
democrático. Não autorizo, politicamente, o uso dessa canção por quem
trai seu desejo fundamental.
Resta ainda um ponto. Há indícios que
me levam a ver nessas medidas violentas um ato de ataque à universidade
pública. Isso, num momento em que a Universidade Estadual do Rio de
Janeiro, estado onde moro, definha por conta de crimes cometidos por
gestores públicos, e o ensino superior gratuito sofre ataques de grandes
instituições (alinhadas a uma visão mais plutocrata do que
democrática). Fica aqui portanto também a minha defesa veemente da
universidade pública, espaço fundamental para a promoção de igualdades
na sociedade brasileira. É essa a esperança equilibrista que tem que
continuar.
*Jornalista, Editor do Tijolaço
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