O recado de Paul Singer
Paul Singer (24 de março de 1932, 16 de abril de 2018) é e sempre será lembrado por sua história, suas ideias e suas lutas.
Por Antonio Lassance, na Carta Maior*
Nascido em Viena, na Áustria, Paul Singer emigrou com a família para o
Brasil em 1938, fugindo da perseguição nazista aos judeus.
No Brasil, trabalhou como operário e participou ativamente da histórica greve dos 300 mil, em 1953.
Formou-se em economia e doutorou-se em sociologia, sob a orientação de Florestan Fernandes.
Em
1968, foi cassado pelo Ato Institucional nº. 5, o famigerado AI-5, o
que significou sua expulsão da Universidade de São Paulo, onde
lecionava.
Em 1980, foi um dos fundadores do PT, junto a uma
leva de intelectuais que são parte fundamental do pensamento social
brasileiro, como Florestan Fernandes, Sérgio Buarque de Holanda, Paulo
Freire, Antonio Candido, Marilena Chauí, Mário Pedrosa, Lélia Abramo,
Hélio Pellegrino, entre muitos outros.
Singer é um dos clássicos
do pensamento econômico brasileiro que repensou o trabalho, o
desenvolvimento urbano e a solidariedade enquanto utopias que estão ao
nosso alcance.
Uma de suas mais insistentes batalhas, além da
economia solidária e a renda mínima, foi sobre a importância de o Brasil
deixar de ser um país onde rico não paga imposto. Até paga, mas é
ressarcido por generosas e inúmeras benesses. Quem de fato financia o
Estado e inclusive paga as contas perdulárias dos mais ricos são
principalmente os mais pobres e a classe média.
Vale a pena
relembrar um artigo recente que Paul Singer escreveu. Que fique como um
epitáfio ao Brasil mais justo e solidário pelo qual Singer lutou durante
toda a sua vida.
Paul Singer: Como fazer o Brasil voltar a se desenvolver?
07/01/2016
Fonte: http://www.pt.org.br/paul-singer-como-fazer-o-brasil-voltar-a-se-desenvolver/
Como
fazer para que a proposta do PT de elevar o imposto de renda incidente
sobre as pessoas de maior ganho possa se efetivar, de modo que as
maiores vítimas da recessão que assola a economia, os trabalhadores,
sejam poupados de novos sacrifícios? Como fazer para que o Brasil saia
da imobilidade macroeconômica que é a causa do atual crescimento nulo?
Responder
a essas perguntas é vital para o bem-estar dos brasileiros,
particularmente os que estão sendo atingidos pelo desemprego decorrente
da queda da demanda efetiva por bens e serviços, consequência, por sua
vez, da forte redução do gasto público, na tentativa, até o momento
fracassada, de equilibrar o referido gasto com o arrecadado pelo governo
federal.
Para que a recessão possa ser revertida, é
indispensável que a demanda efetiva da população e dos órgãos públicos
que oferecem cuidados essenciais como educação e saúde, transporte
público, limpeza, segurança, água e energia elétrica etc, recebam
recursos para expandir a oferta destes serviços.
Para que estes
objetivos possam ser atingidos, é necessário que o poder público e os
concessionários privados destes e de outros serviços possam dispor dos
recursos necessários para elevar a sua produção. Isso é o que torna
importante que a proposta do PT seja aprovada e as receitas dela
decorrentes sejam aplicadas para que necessidades prementes (inclusive
de empregos) possam ser novamente satisfeitas.
Em suma, para que a
recessão seja revertida é preciso gerar os recursos necessários que
financiem os investimentos. Parece óbvio, contudo, que a proposta do PT
carece do necessário apoio da maioria do Parlamento. Para superar este
óbice, se fazem urgentes acordos políticos e sociais, a serem negociados
entre os partidos políticos e as classes sociais.
Tanto partidos
tanto quanto classes têm hoje o mesmo interesse na recuperação da
economia e, portanto, que estas negociações sejam iniciadas o quanto
antes. É fundamental para que tenham êxito, ou seja, que suas conclusões
sejam aceitas, que todos os interesses estejam adequadamente
representados. O governo federal terá de liderar o processo,
organizando-o de tal modo que as partes se sintam adequadamente
representadas.
Nessas condições, as negociações têm chance de
alcançar êxito. A liderança do governo federal é indispensável porque
tem um mandato conferido por eleições lídimas, mas também porque,
supondo que se alcance um acordo de quais são as medidas a serem
adotadas, tem os conhecimentos que a tarefa de levar o Brasil de volta
ao desenvolvimento requerem.
Em suma, negociações são essenciais e
tem de ser conduzidas em condições plenamente democráticas, em que
todas as partes possam ter confiança que seus interesses essenciais
serão considerados no mesmo pé que os interesses dos demais. Obviamente,
o governo federal terá de conquistar a confiança no desenrolar das
negociações e exercer a liderança que constitucionalmente e
politicamente lhe cabe.
Paul Singer
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