31 agosto 2019

Moro segue o ocaso dos generais




Contundente, oportuna, correta, corajosa, certeira, irretocável - mais -  esta postagem do bravo jornalista Fernando Brito (RJ),  Editor do excelente Blog Tijolaço, que compartilho abaixo com vocês. (O Editor) 

Por Fernando Brito*

Quando se iniciou o governo, 11 em cada dez analistas políticos previam que, por quantidade e postos, os militares teriam um papel reitor na gestão de Jair Bolsonaro.
Oito meses bastaram para ver que, de fato, se deu o contrário: Bolsonaro transformou os generais em solícitos ajudantes-de-ordens e espirrou para fora do governo o general Santos Cruz, o único que quis resistir aos ensandecidos métodos do ex-capitão.
Dois outros – o ministro da Defesa e o comandante do Exército, Edson Pujol – tentam manter as Forças Armadas o tanto quanto possível distantes das políticas (se é que se pode chamá-las assim) do governo, embora seja difícil dissociarem-se do crescente rechaço ao ex-capitão. O próprio Bolsonaro cuida de dificultá-lo, fazendo questão de manter uma intensa agenda de ida aos quartéis e escolas militares, mantendo a sua “ligação direta” com tropa e oficialidade.
Mas não foi a militar a única corporação que tem hoje lágrimas a verter por sua associação à aventura bolsonarista, decisiva para dar a vitória eleitoral ao desastroso atual chefe de Governo.
A casta judicial (e parajudicial) abandonou, ao longo dos anos, o seu distanciamento prudente da política e atirou-se no projeto semelhante à tentação que tantas vezes caracterizou os fardados, mas não aos togados: tutelar o governo da República.
Construiu, com mais modos e igual vezo autoritário, o seu próprio Bolsonaro: Sergio Moro e imaginou que ele seria, com plenos poderes, seu interventor na República.
Não é preciso descrever o desastre em que isso resultou.
O Ministério Público, antes seu ponta de lança, está desbaratado, não só pelas imundícies reveladas pelos diálogos do Telegram como pela sucessão de Raquel Dodge, na qual não se pode falar sequer em disputa dentro da corporação, mas em prostração diante do poder absoluto de escolha do Presidente.
Afinal, a sabujice ao poder é o único critério relevante para a escolha do Procurador Geral da República.
A Polícia Federal, seu espalhafatoso braço operacional, idem. Ainda tenta fingir que resiste, mas está claro que Moro, fraco, não consegue senão maquiar e reduzir a velocidade da fúria com que Jair Bolsonaro deseja ter o completo controle da instituição.
Não se veja, porém, nestes fatos uma inteligência estratégica de Jair Bolsonaro. É, antes, seu espírito temerário que se impõe sobre a fragilidade intelectual e de princípios de ambas as corporações que, como ocorre tanto com a elite brasileira, desligaram-se de suas naturezas de instituições de uma Nação e passaram a viver um minúsculo jogo de poder e de posições hierárquicas.
Ajudam, prisioneiros de sua cumplicidade, o que vem a ser o projeto bolsonarista: a dissolução do Brasil e sua completa recolonização.
Afinal, ele próprio declarou na capital, Washington:
—O Brasil não é um terreno aberto onde nós pretendemos construir coisas para o nosso povo. Nós temos é que desconstruir muita coisa. Desfazer muita coisa. Para depois nós começarmos a fazer. Que eu sirva para que, pelo menos, eu possa ser um ponto de inflexão, já estou muito feliz”
Tem razões para estar feliz.
*Via Tijolaço

30 agosto 2019

HAITI (Caetano & Gil)



Quando você for convidado pra subir no adro
Da fundação casa de Jorge Amado
Pra ver do alto a fila de soldados, quase todos pretos
Dando porrada na nuca de malandros pretos
De ladrões mulatos e outros quase brancos
Tratados como pretos
Só pra mostrar aos outros quase pretos
(E são quase todos pretos)
Como é que pretos, pobres e mulatos
E quase brancos quase pretos de tão pobres são tratados
E não importa se os olhos do mundo inteiro
Possam estar por um momento voltados para o largo
Onde os escravos eram castigados
E hoje um batuque, um batuque
Com a pureza de meninos uniformizados de escola secundária
Em dia de parada
E a grandeza épica de um povo em formação
Nos atrai, nos deslumbra e estimula
Não importa nada:
Nem o traço do sobrado
Nem a lente do fantástico,
Nem o disco de Paul Simon
Ninguém, ninguém é cidadão
Se você for ver a festa do pelô, e se você não for
Pense no Haiti, reze pelo...
O Haiti é aqui
O Haiti não é aqui
E na TV se você vir um deputado em pânico mal dissimulado
Diante de qualquer, mas qualquer mesmo, qualquer, qualquer
Plano de educação que pareça fácil
Que pareça fácil e rápido
E vá representar uma ameaça de democratização
Do ensino de primeiro grau
E se esse mesmo deputado defender a adoção da pena capital
E o venerável cardeal disser que vê tanto espírito no feto
E nenhum no marginal
E se, ao furar o sinal, o velho sinal vermelho habitual
Notar um homem mijando na esquina da rua sobre um saco
Brilhante de lixo do Leblon
E ao ouvir o silêncio sorridente de São Paulo
Diante da chacina
111 presos indefesos, mas presos são quase todos pretos
Ou quase pretos, ou quase brancos quase pretos de tão pobres
E pobres são como podres e todos sabem como se tratam os pretos
E quando você for dar uma volta no Caribe
E quando for trepar sem camisinha
E apresentar sua participação inteligente no bloqueio a Cuba
Pense no Haiti, reze pelo
O Haiti é aqui
O Haiti não é aqui

Pátria Queimada, Brasil




Bolsonaro tem um conceito sui generis de soberania.

Bate continência para a bandeira norte-americana, segue a Trump como um pequeno e submisso vira-lata, deseja entregar a Amazônia para a exploração de empresas mineradoras estrangeiras, vende a Petrobras e o pré-sal, aceita a venda da Embraer à Boeing, submete nossas Forças Armadas ao Comando Sul dos EUA, entrega a Base de Alcântara para os norte-americanos, mas se insurge contra as perigosas ONGs ambientalistas e os índios, que “não falam nosso idioma”.  
Bom, a maior parte dos nossos índios fala português. Talvez não fale inglês. Talvez seja esse seu pecado. Fossem nossos povos originários louros de olhos azuis que citassem Shakespeare, não haveria problema em que controlassem cerca de 14% do território. Se usassem o dólar, melhor ainda.
Fossem as ONGs ambientalistas igrejas evangélicas que ensinassem aos índios as delícias do capitalismo predatório, também não haveria quaisquer interferências em nossa soberania, sob sua ótica.
E, fosse o civilizado Macron o grosseiro Trump, o vira-lata estaria há muito com o rabo ente as pernas.
O problema principal de Bolsonaro é que ele é mais atrasado que o atraso brasileiro.
Setores atrasados do agronegócio, mesmo desejando mais terras e certa impunidade ambiental, sabem que não podem extrapolar certos limites, por medo de perder mercado para suas exportações. Querem continuar a faturar em dólares e euros.
Mas Bolsonaro ultrapassou todos os limites.

Já durante a campanha afirmou que não demarcaria um centímetro de terra para índios e quilombolas. Disse que a Amazônia só teria sua soberania assegurada através da exploração comercial. Disparou suas baterias contra a “indústria de multas” do Ibama.  
Junto com seu chanceler pré-iluminista, e emulando Trump, colocou em dúvida o aquecimento global, taxando-o de ideologia associada ao “marxismo cultural”. Ameaçou retirar o Brasil do Acordo de Paris.  
No governo, tentou acabar com o Ministério do Meio Ambiente. Não conseguiu, mas o enfraqueceu bastante. E fez muitas otras cositas más.   (...)
CLIQUE AQUI para continuar lendo a postagem do sociólogo Marcelo Zero, no Brasil247.

29 agosto 2019

Se derrubarmos mais 5% da Amazônia ela pode se tornar uma savana, avalia especialista

Para Ricardo Abramovay, a destruição da floresta não atende, sequer, o combate à pobreza

Abramovay também integra o Conselho Diretor do Imazon, instituto que monitora a Amazônia e estimula a conservação do território. / Reprodução

Para entender o que está acontecendo com a região mais rica em fauna e flora de todo o mundo, o Brasil de Fato entrevistou o professor do Departamento de Economia da FEA-USP, Ricardo Abramovay, que inicia a série “Floresta em Perigo”.
Serão três vídeos abordando os temas do desmatamento, da economia de dados agregados às produções no campo, da ciência no Brasil e os conflitos internacionais que o país têm se envolvido, por conta da floresta.
Para Abramovay, a conivência do governo federal com as queimadas e o desmatamento, estão na ponta de lança de um processo, que pode levar a floresta ao estado de savanização, quando suas características se alteram e seu aspecto se torna parecido ao cerrado brasileiro, levando ao desaparecimento de espécies da fauna e da flora locais. 
“Cada vez que ocorrem ações destrutivas dessa natureza, o governo passa a mão na cabeça e diz: 'esses são os heróis do crescimento do Brasil'. Com esses heróis, o Brasil vai cada vez mais para trás”. 
Abramovay, que também integra o Conselho Diretor do Imazon, instituto que monitora a Amazônia e estimula a conservação do território, lembra que a destruição da floresta não atende, sequer, a riqueza, a prosperidade e o combate à pobreza, mas sim “uma apropriação imediata, para produzir gado, que nem serve, na maior parte das vezes, para grãos, e cujos os rendimentos econômicos são extremamente baixos, mas os rendimentos patrimoniais podem ser altos”.
Confira o primeiro vídeo da série “Floresta em Perigo”:

Edição: Luiz Felipe Albuquerque

28 agosto 2019

Carta pública aos ex-colegas da Lava-Jato, por Eugênio Aragão


Declarem-se suspeitos em relação ao alvo de seu ódio. Ainda é tempo de porem a mão na consciência, mostrarem sincero remorso e arrependimento, porque aqui se faz e aqui se paga.


Carta pública aos ex-colegas da Lava-Jato

Por Eugênio Aragão*

Sim. Ex-colegas, porque, a despeito de a Constituição me conferir a vitaliciedade no cargo de membro do Ministério Público Federal, nada há, hoje, que me identifique com vocês, a não ser uma ilusão passada de que a instituição a que pertenci podia fazer uma diferença transformadora na precária democracia brasileira. Superada a ilusão diante das péssimas práticas de seus membros, nego-os como colegas.
Já há semanas venho sentindo náuseas ao ler suas mensagens, trocadas pelo aplicativo Telegram e agora reveladas pelo sítio The Intercept Brasil, num serviço de inestimável valor para nossa sociedade deformada pela polarização que vocês provocaram. Na verdade, já sabia que esse era o tom de suas maquinações, porque já os conheço bem, uns trogloditas que espasmam arrogância e megalomania pela rede interna da casa. Quando aí estava, tentei discutir com vocês, mostrar erros em que estavam incidindo no discurso pequeno e pretensioso que pululava pelos computadores de serviço. Fui rejeitado por isso, porque Narciso rejeita tudo que não é espelho. E me recusava a me espelhar em vocês, fedelhos incorrigíveis.
A mim vocês não convencem com seu pobre refrão de que “não reconhecem a autenticidade de mensagens obtidas por meio criminoso”. Por muito menos, vocês “reconheceram” diálogo da Presidenta legitimamente eleita Dilma Rousseff com o Ex-Presidente Lula, interceptado e divulgado de forma criminosa. Seu guru, hoje ministro da justiça de um desqualificado, ainda teve o desplante de dizer que era irrelevante a forma como fora obtido acesso ao diálogo, pois relevaria mais o seu conteúdo. Tomem! Isso serve que nem uma luva nas mãos ignóbeis de vocês. Quem faz coisa errada e não se emenda acaba por ser atropelado pelo próprio erro.
Subiu-lhes à cabeça. Perderam toda capacidade de discernir entre o certo e o errado, entre o público e o privado, tamanha a prepotência que os cega. Não têm qualquer autocrítica. Nem diante do desnudamento de sua vilania, são capazes de um gesto de satisfação, de um pedido de desculpas e do reconhecimento do erro. Covardes, escondem-se na formalidade que negaram àqueles que elegeram para seus inimigos.
Esquecem-se que o celular de serviço não se presta a garantir privacidade ao agente público que o usa. Celulares de serviço são instrumentos de trabalho, para comunicação no trabalho. Submete-se, seu uso, aos princípios da administração, entre eles o da publicidade, que demanda transparência nas ações dos agentes públicos. Conversas de cunho pessoal ali não devem ter lugar e, diante do risco de intrusão, também não devem por eles trafegar mensagens confidenciais. Se houver quebra de confidencialidade pela invasão do celular, a culpa pelo dano ao serviço é do agente público que agiu com pouco caso para com o interesse da administração e depositou sigilo funcional na rede ou na nuvem virtual. Pode por isso ser responsabilizado, seja na via da improbidade administrativa, seja na via disciplinar, seja no âmbito penal por dolo eventual na violação do sigilo funcional. Não há, portanto, que apontarem o dedo para os jornalistas que tornaram público o que público devesse ser.
De qualquer sorte, tenho as mensagens como autênticas, porque o estilo de vocês – ou a falta dele – é inconfundível. Mesmo um ficcionista genial não conseguiria inventar tamanha empáfia. Tem que ser membro do MPF concurseiro para chegar a tanto! Umas menininhas e uns menininhos “remplis de soi-mêmes”, filhinhas e filhinhos de papai que nunca souberam o que é sofrer restrições de ordem material e discriminação no dia a dia. Sempre tiveram sua bola levantada, a levar o ego junto. Pessimamente educados por seus pais que não lhes puxaram as orelhas, vocês são uns monstrengos incapazes de qualquer compaixão. A única forma de solidariedade que conhecem é a de uma horda de malfeitores entre si, um encobrindo um ao outro, condescendentes com os ilícitos que cada um pratica em suas maquinações que ousam chamar de “causa”. Matilhas de hienas também conhecem a solidariedade no reparto da carniça, mas, como vocês, não têm empatia.
Digo isso com o asco que sinto de vocês hoje. Sinto-me mal. Tenho vontade de vomitar. Ao ler as mensagens trocadas entre si em momentos dramáticos da vida pessoal do Ex-Presidente Lula, tenho a prova do que sempre suspeitei: de que tem um quê de psicopatas nessa turma de jovens procuradores, uma deformação de caráter decorrente, talvez, do inebriamento pelo sucesso. Quando passaram no concurso, acharam que levaram o bilhete da sorte, que lhes garantia poder, prestígio e dinheiro, sem qualquer contrapartida em responsabilidade.
Sim, dinheiro! Alguns de vocês venderam  sua atuação pública em palestras privadas, em troca de quarenta moedas de prata. Mas negaram ao Ex-Presidente Lula o direito de, já sem vínculo com a administração, fazer palestras empresariais. As palestras de vocês, a passarem o trator sobre a presunção de inocência, são sagradas. Mas as de Lula, que dão conta de sua visão de Estado como ator político que é, são profanas. E tudo fizeram na sorrelfa, enganando até o corregedor e o CNMP.
Agora, a cerejinha do bolo. Chamam Lula de “safado”, fazem troça de seu sofrimento, sugerem que a trágica morte de Dona Mariza foi queima de arquivo… chamam o luto de “mimimi” e negam o caráter humano àquele que tão odienta e doentiamente perseguem! Só me resta perguntar: onde vocês aprenderam a ser nazistas? Pois tenho certeza que o desprezo de vocês pelo padecimento alheio não é diferente daqueles que empurravam multidões para as câmaras de gás sem qualquer remorso, escorando-se no “dever para com o povo alemão”. Ao externarem tamanha crueldade para com o Ex-Presidente Lula, vocês também invocarão o dever para com o Brasil?
Declarem-se suspeitos em relação ao alvo de seu ódio. Ainda é tempo de porem a mão na consciência, mostrarem sincero remorso e arrependimento, porque aqui se faz e aqui se paga. A mão à palmatória pode redimi-los, desde que o façam com a humildade que até hoje não souberam cultivar e empreendam seu caminho a Canossa, para pedirem perdão a quem ofenderam. Do contrário, a história não lhes perdoará, por mais que os órgãos de controle, imbuídos de espírito de corpo, os queiram proteger. A hora da verdade chegou e, nela, Lula se revela como vítima da mais sórdida ação de perseguição política empreendida pelo judiciário contra um líder popular na história de nosso país. Mais cedo ou mais tarde ele estará solto e inocentado, já vocês…
Despeço-me aqui com uma dor pungente no coração. Sangro na alma sempre que constato a monstruosidade em que se transformou o Ministério Público Federal. E vocês são a toxina que acometeu o órgão. São tudo que não queríamos ser quando lutamos, na Constituinte, pelo fortalecimento institucional. Esse desvio de vocês é nosso fracasso. Temos que dormir com isso.
*Eugênio José Guilherme de Aragão é um jurista e advogado brasileiro, membro do Ministério Público Federal de 1987 até 2017 e Ministro da Justiça em 2016, no governo Dilma Rousseff. É professor titular de direito internacional da Universidade de Brasília, pela qual é graduado em direito.

"Errei", diz procuradora que tripudiou das mortes de familiares de Lula - Jerusa Viecili pede desculpas ao ex-presidente e confirma autenticidade de mensagens divulgadas




A procuradora federal Jerusa Viecili, uma das integrantes da Lava Jato de Curitiba / Foto: Divulgação

A procuradora Jerusa Viecili, uma das integrantes da Lava Jato que debochou e tripudiou da morte de familiares do ex-presidente Lula, usou sua conta no Twitter, na noite de terça-feira (27), para se desculpar.
“Errei. E minha consciência me leva a fazer o correto: pedir desculpas à pessoa diretamente afetada, o ex-presidente Lula”, escreveu ela às 21h09.
Mais cedo, nova reportagem da série de revelações conhecida como Vaza Jato tinha tornado públicas várias trocas de mensagens entre os procuradores de Curitiba por ocasião das mortes de Dona Marisa Letícia, Vavá e Arthur – respectivamente mulher, irmão e neto de Lula –, que ocorreram num intervalo de dois anos.
“Querem que eu fique pro enterro?”, escreveu ela quando da notícia de que Dona Marisa tivera morte cerebral em razão de AVC. Na sequência, disse: “Quem for fazer a próxima audiência do Lula, é bom que vá com uma dose extra de paciência para a sessão de vitimização”.
Dois anos depois, quando morreu Arthur, de 7 anos, vítima de infecção generalizada, ela voltou à carga nos grupos de Telegram: “Preparem para nova novela da ida ao velório”.
Ódio e desapreço
A divulgação das mensagens fez com que os advogados de Lula entrassem com novo pedido de habeas corpus no Supremo Tribunal Federal para que o ex-presidente seja solto.
Segundo o advogado Cristiano Zanin, as mensagens mostram que a atuação dos procuradores “sempre foi norteada por ódio e desapreço pessoal pelo paciente e pelos seus familiares”, o que torna os investigadores “absolutamente incapazes de cumprir com seus deveres de imparcialidade, impessoalidade e isenção”.
Mensagens verdadeiras
O pedido de desculpas de Jerusa levou à conclusão de que ela acabou confirmando a autenticidade dos diálogos que vêm sendo revelados há quase três meses por vários veículos de comunicação – autenticidade sempre negada nas notas oficiais da força-tarefa.
Com a repercussão, a procuradora voltou ao Twitter às 22h21 para afirmar que “a existência de mensagens verdadeiras não afasta o fato de que as mensagens são fruto de crime e têm sido descontextualizadas ou deturpadas para fazer falsas acusações”.
Ela afirmou também que os procuradores nunca negaram que há mensagens verdadeiras. “Contudo, não é possível saber exatamente o quanto está correto, porque é impossível recordar de detalhes de 1 milhão de mensagens em 5 anos intensos”.
Indignação e repulsa
Em sua página oficial na internet, o ex-presidente Lula divulgou mensagem em que diz que foi tomado por indignação e repulsa ao ter conhecimento dos diálogos. “Confesso que foi um dos mais tristes momentos que passei nessa prisão”, escreveu.
Leia a íntegra:
“Foi com extrema indignação, com repulsa mesmo, que tomei conhecimento dos diálogos em que procuradores da Lava Jato referem-se de forma debochada e até desumana às perdas de entes queridos que sofri nos anos recentes: minha esposa Marisa, meu irmão Vavá e meu netinho Arthur.
Confesso que foi um dos mais tristes momentos que passei nessa prisão em que me colocaram injustamente. Foi como se tivesse vivido outra vez aqueles momentos de dor, só que misturados a um sentimento de vergonha pelo comportamento baixo a que algumas pessoas podem chegar.
Há muito tempo venho dizendo que fui condenado por causa do governo que fiz e não por ter cometido um crime sequer. Tenho claro que Moro, Deltan e os procuradores agiram com objetivo político, pois me condenaram sem culpa e sem prova, sabendo que eu era inocente.
Mas não imaginava que o ódio que nutriam contra mim, contra o meu partido e meus companheiros, chegasse a esse ponto: tratar seres humanos com tanto desprezo, como se não tivessem direito, no mínimo, ao respeito na hora da morte. Será que eles se consideram tão superiores que podem se colocar acima da humanidade, como se colocam acima da lei?
Peço a Deus que ilumine essa gente, que poupe suas almas de tanto ódio, rancor e soberba. Quanto aos crimes que cometeram contra minha família e contra o povo brasileiro, tenho fé que, deles, um dia a Justiça cuidará.
Luiz Inácio Lula da Silva”
Edição: João Paulo Soares

27 agosto 2019

Procuradores [da Lava jato] debocharam da morte de Marisa, Vavá e Arthur

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Dona Marisa e o presidente Lula, em 2015 (Créditos: Roberto Stuckert/Divulgação)
UOL/Intercept: para lavajateiros, pedido de Lula para comparecer a enterro foi "mimimi"
Reportagem de Igor Mello, Gabriel Sabóia e Silvia Ribeiro do UOL e Paula Bianchi do Intercept Brasil, publicada hoje (27/VIII), apresenta mais uma rodada de revelações da Vaza Jato do Glenn Greenwald.
Segundo os diálogos, obtidos de forma pelo Intercept, os procuradores da força-tarefa de Curitiba ironizaram o luto do presidente Lula após as mortes recentes de três familiares - sua esposa Maria Letícia, o irmão Vavá e o neto Arthur, de apenas sete anos.
Sobre a morte de D. Marisa:
"Estão eliminando as testemunhas", disse o procurador Januário Paludo.

"Quem for fazer a próxima audiência do Lula, é bom que vá com uma dose extra de paciência para a sessão de vitimização", afirmou a procuradora Laura Tessler.

"Querem que eu fique pro enterro?", ironizou outra procuradora, Jerusa Burmann Viecili. 

•Após Lula, em entrevista à Fel-lha, culpar os excessos da Lava Jato pela morte de sua esposa - "D. Marisa morreu por conta do que fizeram com ela e com os filhos" - a procuradora Tessler debochou: "Só falta dizer que a Lava Jato implantou 10 anos atrás um aneurisma na cabeça da mulher... Milhares de pessoas morrem de AVC no mundo... Isso faz parte do mundo real e pronto."

"Bobagem total, ninguém mais dá ouvidos a esse cara", concluiu o procurador Deltan Dallagnol, o Dallanhinho.

A respeito da morte de Vavá:
•Os procuradores temiam que militantes impedissem o retorno de Lula à prisão, caso ele saísse para acompanhar o enterro de Vavá.

"Ele vai pedir para ir ao enterro. Se for, será um tumulto imenso", disse o Dallanhinho.

•O procurador Athayde Ribeiro Costa foi pragmático: "Acho que tem que autorizar a saída. Ou, como disse um de nós, leva o morto lá na PF".

"O safado só queria passear", decreta Paludo.

•Tessler encerra a discussão: "O foco tá em Brumadinho. Logo passa... Muito mimimi".

Sobre o enterro do neto Arthur:
"Preparem para nova novela da ida ao velório", disse Viecilli.

•Athayde Costa reclama: "Putz... No meio do Carnaval".

•Sobre as reações de Lula sobre a morte do neto, Roberon Pozzobon ironiza: é tudo uma "estratégia para se 'humanizar', como se isso fosse possível no caso dele"...

Por contraste, dimensão civilizatória dos governos do PT fica cada vez mais forte


"O erro do PT foi respeitar a população mais pobre com a habitual imensidão de amor que faz pulsar o coração de Lula. Foi salvar vidas combatendo a fome dos homens e o fogo das florestas. Foi dar ao país o que ele jamais teve, a soberania de uma potência investida de profunda autoestima - mas com graça e delicadeza", diz o linguista Gustavo Conde

Por Gustavo Conde*

Como diz o meu amigo Wilson Ramos Filho, o Xixo, o excesso de poder a procuradores e juízes - atribuído pela Constituição de 88 - acabou com o país.

O PT governou tão bem que a oposição no plano nacional foi terceirizada para o Ministério Público e para o Poder Judiciário.

Alguém já teve a curiosidade de se perguntar por que a oposição morreu durante os governos Lula e Dilma, tornando-se essa abominação tucano-fascista que levou Bolsonaro ao poder, já nos idos de 2015?

É porque fazer oposição a um governo que governa para o povo e se comunica diretamente com o povo é difícil.

Poupem-me os intelectuais de cativeiro que ruminam dia sim dia não que o PT não "soube se comunicar" e/ou "não soube politizar a população".

Se o PT não soubesse se comunicar teria ganho 4 eleições seguidas e sido segundo colocado em TODAS as outras eleições majoritárias pós-ditadura?

Poupem-me.

Os intelectuais brasileiros não subservientes estão, de uma maneira ou de outra, associados ao PT, com raras exceções.

Nós - todos nós - ainda estamos em pleno trauma fóbico de ver o PT como origem de tudo, como explicação final de nossa interrupção enquanto sociedade, tal o grau de ataques vulgares que o partido recebeu desde sua fundação.

A exceção do povo nordestino - que em função do sofrimento pessoal sabe valorizar a democracia - o conjunto da sociedade brasileira não soube retribuir o amor que recebeu do Partido dos Trabalhadores durante quase 40 anos.

O PT é uma extensão da generosidade estrutural de Lula. Não há partido no mundo que tenha essa característica: representar o espírito radicalmente democrático de um líder fundador que sabe perder, sabe vencer e sabe o valor conceitual da alternância de poder como poucos.

O PT é Lula e Lula é o PT.

Que nós tenhamos uma cifra de soberania intelectual para entender isso.

E dizer que o PT é Lula não é ser personalista como os jornalistas de cativeiro (o zoológico é grande) costumam postular dentro das suas caixinhas semânticas de curto alcance.

Dizer que Lula é o PT é justamente o contrário. É entender a dimensão afetiva a e humana deste partido que jamais considerou a hipótese de "brincar" com a democracia.

Lula perdeu três eleições e soube legitimar o vencedor sem interferir de maneira disruptiva no processo democrático. É a maior lição de democracia da história do país.

Lula recusou um terceiro mandato que lhe era oferecido quase todos os dias por congressistas que não tinham clareza sobre o significado de democracia e alternância de poder.

Lula também deu essa aula.

Esses intelectuais de cativeiro que dizem que o "PT não soube se comunicar com a sociedade" queriam, na verdade, que o PT se comunicasse com a elite, com o sistema.

Eu lembro de um ex-ministro de Dilma dizendo, depois do golpe, que ela "não teve jogo de cintura". Jogo de cintura para quê, cara pálida?

Falar depois é fácil. É tão fácil que chega a ser degradante.

Há muita gente inconformada, do alto de seus sofás, formulando a hipótese de que essa aberração fascista que se apoderou da nossa falecida democracia "é culpa do PT". Que se o PT soubesse "conduzir" uma negociação com o Congresso nada disso estaria acontecendo.

Alguns dizem ainda que a polarização do país também é "culpa do PT".
Precisa comentar? Alguém já viu um grupo de políticos milicianos mais boçal, radical e ideológico do que este que nos envergonha diariamente diante do mundo?

Este horror é e sempre será um horror a ser exorcizado de nossas vidas. Bolsonaro é toda a vilania da Terra acumulada em um único ser (anti) humano.

O PT, por sua vez, continua representando o ponto fora da curva no sistema político brasileiro, sistema este apartado da sociedade real por definição.

O sistema político brasileiro é um clube que não aceita a democracia como sócia.

O PT humanizou esse clube. Arrombou a porta e ensinou um pouco de democracia para cada um desses sócios deitados em berço esplêndido.

Alguns aprenderam, outros (a maioria) não.

É por isso que o PT continua forte, latejando no imaginário brasileiro como o elemento ainda não codificado por nossa brutalidade cognitiva.

É por isso que o PT não trunca processos com violência, nem mesmo processos de golpe e de fraude.

Esse traço até dói um pouco, haja vista o estado de calamidade em que mergulhou o país pós PT.

Mas é o "raciocínio Lula": eu não troco minha dignidade por minha liberdade da mesma maneira que eu não troco a minha dignidade pelo poder.

É a monumentalidade de caráter insuportável para a nossa elite acomodada na mediocridade do seu passado violento.

Essa elite não tem estrutura psíquica para suportar a delicadeza de um gesto político dotado de caráter e generosidade.

Sempre foi assim.

O erro do PT foi ser verdadeiro demais. Foi não mentir. Foi administrar crises com transparência. Foi lutar contra o sistema mesmo fazendo parte do sistema (a autocrítica do sistema). Foi respeitar as instituições. Foi respeitar a liberdade de expressão. Foi governar o país pensando no país (e não na própria perpetuação no poder).

Foi respeitar a população mais pobre com a habitual imensidão de amor que faz pulsar o coração de Lula. Foi salvar vidas combatendo a fome dos homens e o fogo das florestas. Foi dar ao país o que ele jamais teve, a soberania de uma potência investida de profunda autoestima - mas com graça e delicadeza.

O "trauma PT" ainda nos assombra. Ele é sintoma da profunda transformação que este partido conferiu à estrutura subjetiva de todo nós, cidadãos e sujeitos da história. Assimilar isso não é fácil - e negar isso leva à histeria.

A rigor, viver a sociedade brasileira sob o PT nos cegou com relação ao próprio PT - ainda que o tenhamos reconduzido por décadas ao protagonismo político.

A ironia é que essa devastação leva cada vez mais gente a procurar entender o que realmente aconteceu ao país durante nosso apogeu democrático, entre os anos de 2003 e 2016.

A história pode ser desacelerada, mas não pode ser aniquilada. O balanço deste período está em curso e é muito mais poderoso do que as linhas acima podem dar a entender.

Ministério Público, imprensa, STF, Forças Armadas, intelectuais, todos têm um encontro marcado com a autocrítica e com a conta histórica da destruição assistida.

Nossa reconciliação com a civilização passa pela reconciliação com o partido que mais soube respeitar a democracia e a soberania brasileira, sem medo de debater e sem medo de ser feliz.

*Gustavo Conde é mestre em linguística pela Unicamp, editor e colunista do Brasil 247 (fonte desta postagem).