Crítica & Autocrítica - nº 129
Por Júlio Garcia**
*Prezados(as) leitores(as),
lamentavelmente os tempos atuais não andam nada propícios somente “para
falar de flores”, como eu gostaria – e como, certamente, seria também
do gosto da maioria de vocês. Eu pretendia hoje falar de Poesia,
literatura ... mas existem outros temas mais urgentes e delicados – e do
real interesse da Cidadania, sobretudo dos ‘não alienados’ – temas
esses que merecem, na minha modesta avaliação, uma atenção maior.
*Bom...
uns gostam de escrever sobre amenidades, outros sobre religião,
filosofia, futebol, moda, auto ajuda ... Afinal, gosto é gosto - e cada
qual no seu quadrado. E aqui no jornal, felizmente, temos essa
‘diversidade’. E isso é bom, convenhamos! “Uns
tomam éter, outros cocaína/ Eu já tomei tristeza, hoje tomo alegria/
Tenho todos os motivos menos um de ser triste/ Mas o cálculo das
probabilidades é uma pilhéria...” cantou o Poeta Manuel Bandeira
em um dos seus poemas mais conhecidos (Não sei dançar, de 1925).
Infelizmente, a situação atual do brasileiro está mais para tristeza ...
do que para alegria... Alguém discorda?
*Pois
então, acho mais relevante (especialmente neste momento tão atribulado e
incerto da vida brasileira), falar de política ... dentre outras
amenidades (sic). Afinal, os espaços reservados para essa importante e
necessária discussão... são cada vez menores na mídia brasileira –
notadamente para quem não segue o senso comum lavajateiro impregnado nos
editoriais e matérias tendenciosas da imprensa [conservadora e parcial]
alinhada com o golpe (e seus satélites e ‘subs’ regionais) que tem
massacrado a democracia, os trabalhadores - e o país - nestes últimos
infelizes dois anos. Entendo, então, que não posso utilizar este
importante espaço que democraticamente me concede o Jornal A Folha ...
só para escrever amenidades (com o devido respeito aos que divergem).
*Na
coluna anterior, saudei o resultado do julgamento da senadora Gleisi
onde, finalmente, fez-se justiça - uma verdadeira “exceção à regra”
nestes tempos de arbítrio quase ‘geral e irrestrito’ que infelicitam o
país. Escrevi então que o resultado do julgamento da senadora petista
caia “Como um raio de sol que surge em meio a tempestade”. Com efeito, o
STF não teve outra alternativa – por absoluta inexistência de provas - a
não ser absolver a senadora Gleisi Hoffmann, acusada levianamente de
ter realizado supostas ‘irregularidades’ nas arrecadações relativas a
última campanha eleitoral.
*Coloquei
ainda minha expectativa de que o julgamento do recurso apresentado pela
defesa do Presidente Lula, que deveria ter sido realizado nesta última
terça-feira, dia 26, mas que a vergonhosa ‘tabelinha’ entre o ministro
Fachin (um ‘verme traidor’, como o classificou esta semana um advogado
do Paraná, seu ex-colega e ex-amigo) com o TRT-4 (Porto Alegre) impediu
que o mesmo ocorresse, jogando para o Plenário do Supremo ... que entra
em férias agora e só retorna em agosto, tudo minuciosamente articulado
para manter Lula preso (injusta e ilegalmente) e impedir sua candidatura
à Presidência da República, como quer a maioria da população
brasileira.
*O
tênue ‘Raio de Sol’ deu lugar novamente às trevas... e a Democracia, a
Constituição e o Estado Democrático de Direito continuam sendo atacados,
massacrados na verdade.
Só os golpistas, os coniventes, os alienados e/ou os hipócritas não percebem. Uma vergonha.
*Mas
nem tudo está perdido... Além da luta por #Lula Livre e pelo retorno da
democracia - nas ruas, no parlamento, nas redes -, que cresce dia a
dia, a 2ª Turma do STF, na contramão da maioria do STF - e impondo
severa derrota ao minúsculo Fachim -, decidiu – corretamente – fazer
prevalecer o Princípio da presunção de Inocência e libertou o
ex-ministro José Dirceu (outro que foi condenado sem provas e
injustamente preso pelo regime de Exceção.
*Segundo
palavras do jornalista Paulo Moreira Leite: “Liberdade de [Zé] Dirceu
derrota banalidade do mal e aponta caminho para Lula. Por trás da
presunção da inocência, encontra-se um raciocínio simples e lógico.
Enquanto não forem dissipadas todas as dúvidas sobre a culpa de uma
pessoa, ela não pode ser privada da própria liberdade, este valor da
existência que, nas sociedades contemporâneas, só não é mais essencial
do que o próprio direito à vida.
Os
ministros não disseram que Dirceu é inocente das acusações usadas para
montar uma condenação de 30 anos e nove meses. Apenas consideraram que
"é plausível" imaginar que as acusações podem vir a ser retiradas pelo
exame isento de recursos em tribunais superiores. Dirceu recuperou a
liberdade por essa razão.”
*As
mesmas colocações feitas pelo conceituado e lúcido jornalista sobre Zé
Dirceu valem para o ex-presidente Lula – sem tirar nem pôr.
...
**Advogado, Assessor Parlamentar, Midioativista. Foi um dos fundadores do PT e da CUT. - Publicado originalmente no Jornal A Folha (do qual é Colunista), em 29/06/2018.
Nenhum comentário:
Postar um comentário