06 julho 2018

O empresariado ligou o foda-se


Pouco importa se as mãos de quem dirigirá o país estiverem sujas de sangue, se há apologia de Brilhante Ustra, ou se há pregação misógina, homofóbica ou de ódio aos pobres. Isso é bobagem. Estamos falando de negócios. E negócios são coisa séria! 

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Por Gilberto Maringoni*
 
 Os aplausos histéricos do empresariado a Jair Bolsonaro indicam algo muito grave, para além da simbiose do liberalismo com a extrema-direita ou com a perda de escrúpulos de uma classe que nunca renegou a escravidão.
 
O entusiasmo mostra que pode haver um movimento para se ter como "normal" ou "aceitável" para "pessoas de bem" o apoio a um notório defensor da tortura, do extermínio e do permanente estado de guerra como forma de convívio social.
 
Ou seja, a normalização de Bolsonaro busca tornar palatável ao jogo democrático a ideia de não haver nada demais em se pregar o fim da democracia.
 
A - digamos - burguesia brasileira aderiu de mala e cuia ao golpe de 1964 e deu apoio entusiasmado ao mais liberal dos cinco governos da ditadura, o de Castello Branco. Ninguém tentou salvar as aparências.
 
A contrariedade só começou a se manifestar a partir de 1974.
 
Embora a gestão de Ernesto Geisel (1974-79) tivesse na eliminação física da oposição sua ação política de última instância, o projeto econômico centrado no Estado é que indispôs frações crescentes da burguesia com o regime.
 
Censura, cassações, prisões, tortura, assassinatos, impedimento de eleições, nada disso preocupava a plutocracia da época. 
 
A pedra no sapato se deu quando a ditadura começou a se afastar do alinhamento automático a Washington e a mostrar que o mercadismo absoluto não era a senda a ser seguida.
 
Eugênio Gudin, o grande ideólogo do neoliberalismo brasileiro desde os anos 1930, ao receber o prêmio Homem de Visão, disse o seguinte em seu discurso, no final de 1974:
 
"O capitalismo brasileiro [era] mais controlado pelo Estado do que o de qualquer outro país, com exceção dos comunistas.
 
Setores industriais, como os de energia elétrica, siderurgia, petróleo, navegação, portos, estradas de ferro, telefones, petroquímica, álcalis e grande parte do minério de ferro, que nos Estados Unidos estão nas mãos das empresas privadas, foram no Brasil absorvidos pelo Estado. 
 
Bem assim, em grande parte, a rede bancária que controla o crédito para as empresas privadas".
 
Mais de quarenta anos depois, essa classe degradada e decadente tem os mesmos objetivos, além de buscar subsídios estatais e tentar vender suas lojinhas a algum grupo gringo.
 
Pouco importa se as mãos de quem dirigirá o país estiverem sujas de sangue, se há apologia de Brilhante Ustra, ou se há pregação misógina, homofóbica ou de ódio aos pobres. 
 
Isso é bobagem. Estamos falando de negócios.
 
E negócios são coisa séria!
 
*Jornalista -via Carta Maior

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