Pouco importa se as mãos de quem dirigirá o país estiverem sujas de sangue, se há apologia de Brilhante Ustra, ou se há pregação misógina, homofóbica ou de ódio aos pobres. Isso é bobagem. Estamos falando de negócios. E negócios são coisa séria!
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Por Gilberto Maringoni*
Os
aplausos histéricos do empresariado a Jair Bolsonaro indicam algo muito
grave, para além da simbiose do liberalismo com a extrema-direita ou
com a perda de escrúpulos de uma classe que nunca renegou a escravidão.
O
entusiasmo mostra que pode haver um movimento para se ter como "normal"
ou "aceitável" para "pessoas de bem" o apoio a um notório defensor da
tortura, do extermínio e do permanente estado de guerra como forma de
convívio social.
Ou
seja, a normalização de Bolsonaro busca tornar palatável ao jogo
democrático a ideia de não haver nada demais em se pregar o fim da
democracia.
A
- digamos - burguesia brasileira aderiu de mala e cuia ao golpe de 1964
e deu apoio entusiasmado ao mais liberal dos cinco governos da
ditadura, o de Castello Branco. Ninguém tentou salvar as aparências.
A contrariedade só começou a se manifestar a partir de 1974.
Embora
a gestão de Ernesto Geisel (1974-79) tivesse na eliminação física da
oposição sua ação política de última instância, o projeto econômico
centrado no Estado é que indispôs frações crescentes da burguesia com o
regime.
Censura, cassações, prisões, tortura, assassinatos, impedimento de eleições, nada disso preocupava a plutocracia da época.
A
pedra no sapato se deu quando a ditadura começou a se afastar do
alinhamento automático a Washington e a mostrar que o mercadismo
absoluto não era a senda a ser seguida.
Eugênio
Gudin, o grande ideólogo do neoliberalismo brasileiro desde os anos
1930, ao receber o prêmio Homem de Visão, disse o seguinte em seu
discurso, no final de 1974:
"O capitalismo brasileiro [era] mais controlado pelo Estado do que o de qualquer outro país, com exceção dos comunistas.
Setores
industriais, como os de energia elétrica, siderurgia, petróleo,
navegação, portos, estradas de ferro, telefones, petroquímica, álcalis e
grande parte do minério de ferro, que nos Estados Unidos estão nas mãos
das empresas privadas, foram no Brasil absorvidos pelo Estado.
Bem assim, em grande parte, a rede bancária que controla o crédito para as empresas privadas".
Mais
de quarenta anos depois, essa classe degradada e decadente tem os
mesmos objetivos, além de buscar subsídios estatais e tentar vender suas
lojinhas a algum grupo gringo.
Pouco
importa se as mãos de quem dirigirá o país estiverem sujas de sangue,
se há apologia de Brilhante Ustra, ou se há pregação misógina,
homofóbica ou de ódio aos pobres.
Isso é bobagem. Estamos falando de negócios.
E negócios são coisa séria!
*Jornalista -via Carta Maior
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