A volta de Jair Bolsonaro à campanha eleitoral não podia ser mais trágica, mais até do que foi patética.
Serve-se da piedade que seu estado de saúde desperta para fazer as
mais sórdidas acusações e , pior, para sugerir que deva ser dado um
golpe de estado caso não vença as eleições.
Gostaria de poder dizer que é um delírio, mas sua vida pregressa
desautoriza imaginar que possa ser apenas um desequilíbrio provocado por
seu estado físico precário.
Diz, em resumo, que Lula não fugiu da sentença judicial que o levou à
prisão porque já tinha “armado” um plano para voltar ao poder com a
cumplicidade ,nada menos, que a da mesma Justiça que o prendeu e que o
impediu de ser candidato.
A tese de Bolsonaro, mais do que disparatada, é a de um sujeito vil e
covarde que, são, teve todas as chances de dizer isso e deixa para
fazê-lo agora, que está protegido da resposta que merece por um leito de
hospital.
Esqueçam a tese da impressão do voto, pois Bolsonaro serve-se de uma mentira deslavada – Lula sancionou a lei que o instituía, em 2009
e Dilma Rousseff fez o mesmo em 2015 e ambas as vezes foi o Supremo
quem a derrubou – apenas para cobrir de “honestidade” a sordidez do que
diz.
A atitude é apenas a de um canalha, que procura atirar sua
dificuldade em ser a opção majoritária do povo brasileiro à conta de uma
possível fraude e, ainda pior, uma fraude absurdamente atribuída a um
suposto controle do Judiciário por quem é por ele perseguido, preso e
amordaçado.
É, entretanto, pior ainda, porque transforma todos os que lhe negam,
por convicção democrática, o voto e convida previamente ao
não-reconhecimento dos resultados eleitorais – convocando para isso,
expressamente, os comandantes das Forças Armadas.
Bolsonaro sai, hoje, da posição de “golpista do Temer” para a de “golpista de si mesmo”.
Pior: só chegou a isso porque um bando de sujeitos togados, por seu
ódio político, deixou que as eleições descambassem para esta insanidade.
Jair Bolsonaro, ainda bem, parece estar livre de uma infecção
intestinal que lhe poderia ser fatal. Mas ele próprio continua sendo a
supuração de um Brasil infeccionado pelo ódio insano do golpismo.
Muito mais perigoso, muito mais fatal.
Há, porém, um lado bom nesta história. Algo informa o capitão que a
sua situação está longe de ser tão positiva quanto indicam as pesquisas e
o impede de fazer um discurso de “paz” que lhe pudesse ampliar a
aceitação na disputa final.
A opção preferencial pelo ódio é sinal de alerta de suas dificuldades.
*Por Fernando Brito, jornalista, Editor do Tijolaço
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