Fernando Haddad é o nosso também
A perfeita manchete de um jornal italiano |
Por Mino Carta*
Pergunto aos meus indignados botões se conseguem imaginar em qual girone
do “Inferno” Dante colocaria os supremos juízes nativos e, no embalo,
muitos outros, merecedores das penas eternas. Respondem supor que o
máximo poeta teria de acrescentar um Canto à sua obra para instalá-los a
contento em subsolo exclusivo.
De fato, os ministros das cortes supremas
e superiores, os desembargadores gaúchos, os protagonistas da chamada
força-tarefa curitibana e o fanático inquisidor Sergio Moro reúnem em
suas pessoas uma quantidade incalculável de pecados infernais.
Desde a desfaçatez criminosa no
descumprimento dos seus deveres de magistrados até a asnice pomposa que
as togas ressaltam, desde o exibicionismo midiático até a invenção de
provas inexistentes, desde o ódio de classe a insuflá-los até a absoluta
falta do senso do ridículo.
O Judiciário é o guardião da Constituição
em países democráticos e civilizados. No Brasil ocorre o exato
contrário, como escreve Marcos Coimbra na sua magistral coluna desta
semana.
Alvo de Coimbra o ministro Luís Roberto Barroso, que comandou a impugnação da candidatura
de Lula à Presidência da República. Conforme conta o colunista, em
artigo publicado há três anos, Barroso sustentava que, no Brasil,
“juízes e tribunais se tornaram mais representativos dos anseios e
demandas sociais do que as instâncias políticas tradicionais”.
Aí está traçado o objetivo final do golpe
de 2016: impedir que o povo brasileiro entregue novamente a Presidência
ao ex-metalúrgico.
Ao retirar Lula da arena política,
pretendia-se também atingir fatalmente o PT, e com isso se percebe a
primazia conferida ao Judiciário na trama golpista. Cabia à alta corte
cumprir seu papel constitucional, proibir o impeachment de Dilma Rousseff e, portanto, evitar daí por diante todas as ignomínias cometidas pelo estado de exceção.
Por obra das togas politizadas, o Brasil
encarrega-se de oferecer ao mundo um espetáculo inédito, absolutamente
único, a comprovar a medievalidade mais tenebrosa do país da casa-grande e da senzala.
Mas teria hoje o ministro Barroso, do
alto da sua elegância afetada, razões para saborear a certeza do dever
cumprido? O golpe atingiu seu propósito original, mas do cativeiro Lula
já ungiu seu candidato, enquanto as perspectivas do PT são bem mais
promissoras do que as desejam Barroso e seus pares, parceiros de
façanhas antidemocráticas e das suas encenações ridículas.
Os recursos apresentados pelos advogados
do ex-presidente ao tribunal da ONU e ao STF são tecnicamente
necessários para que o mundo registre quanto se deu, como ficará claro
pela leitura da entrevista que se segue de Fernando Haddad.
CartaCapital, conforme a tradição
de publicações da Europa e dos EUA, e da própria a esta altura, apoiou
as duas candidaturas de Lula e de Dilma. Não há como imaginar que, por
enquanto, Lula saia da cela de 25 metros quadrados, banheiro incluso, e
volte à luz do sol, ou a ver as estrelas, como escreveu o já citado
Dante. A partir desta edição apoiamos Fernando Haddad, candidato de Lula
e nosso.
Sobra uma incógnita, a envolver a
disparidade entre as decisões do STF e a vontade popular. Até quando
será possível evitar o confronto de posturas tão discrepantes?
E que será capaz de gerar uma vitória de
Haddad: provocar perigosamente o destempero dos senhores do golpe ou
empolgar o povo até levá-lo à percepção de que sempre foi a vítima deste
enredo?
*Jornalista, Diretor da Revista Carta Capital (fonte desta postagem)
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