29 outubro 2018

Não há barbárie que dure para sempre


Por Valter Pomar*
O TSE acaba de informar que o candidato da extrema-direita ganhou as eleições presidenciais de 2018, com 10 milhões de votos de vantagem.
Nossa resposta é: resistiremos.
O Brasil tem mais de 200 milhões de habitantes e mais de 140 milhões de eleitores.
O neofascista e ultraliberal não tem o apoio da maioria do povo brasileiro.
A votação em Haddad é um dos muitos indicadores de que, contra o neofascismo e o ultraliberalismo, haverá muita resistência.
Não devemos ter ilusões: a extrema-direita já demonstrou estar disposta a implementar, mesmo que a ferro e fogo, seu programa ultraliberal e antidemocrático.
E um dos principais obstáculos para isso é e continuará sendo o conjunto das organizações da esquerda brasileira, com destaque para o PT, a CUT, o MST, a UNE e a Frente Brasil Popular.
Foram estas forças que vertebraram a luta contra o golpe e contra a extrema-direita.
No curto prazo, caberá a estas organizações:
a/contribuir na resistência democrática e popular contra o neofascismo e o ultraliberalismo, mobilizando imediatamente contra o que tentará fazer Temer, no apagar das luzes de seu governo golpista;
b/reforçar as medidas em defesa dos direitos humanos, da vida e da integridade de seus militantes, atividades e sedes, impedindo que a violência combinada de grupos para-militares e a cumplicidade ativa ou passiva de setores do aparato judicial e de segurança destruam, intimidem e/ou desorganizem o funcionamento da esquerda brasileira;
c/formular uma estratégia e um modelo organizativo adequados ao novo momento histórico, articulando partidos e movimentos, bancadas parlamentares e governos liderados pelo PT e aliados, em uma frente democrática e popular em defesa das liberdades democráticas e dos direitos econômicos e sociais do povo;
d/retomar com toda energia a campanha Lula Livre.
No médio e longo prazos, o êxito da resistência, a derrota do neofascismo ultraliberal, a reconquista do governo federal, a luta por transformações democrático populares e socialistas, dependerão de que percebamos que não estamos em 1968, nem em 1987 ou 1995.
A estratégia adotada pela maior parte da esquerda brasileira, nos momentos citados, não é adequada para o momento que teve início na noite de 28 de outubro.
Um dos maiores desafios do PT será ajudar a construir e implementar uma linha política estratégica e uma conduta cotidiana à altura desta nova situação histórica.
As vitórias da extrema-direita nos estados de SP, RJ e MG, bem como a força da centro-esquerda e do PT no Nordeste precisam ser objeto de análise detida.
Nossa linha política deve dar grande destaque à questão regional, que sobressai a cada eleição.
Nossa linha também deverá combinar, de maneira adequada, a luta em defesa das liberdades democráticas, com a defesa dos interesses econômicos e sociais das classes trabalhadoras, evitando tanto o economicismo quanto a defesa “em abstrato” da “democracia”.
E nossa linha inclui continuar defendendo e construindo o Partido dos Trabalhadores.
O Partido dos Trabalhadores foi construído em 1980, na luta contra a ditadura e a “transição conservadora”.
Em 1989 quase ganhamos à presidência da República. Nos anos 1990 estivemos na linha de frente da oposição ao neoliberalismo.
De 2002 a 2016 governamos o Brasil. Desde então, lutamos contra o golpe e lideramos o enfrentamento contra o neofascismo.
Essa trajetória nos converte, automaticamente, em inimigo principal do governo que tomará posse em janeiro de 2019.
Terão continuidade a perseguição midiática, o arbítrio judicial e as violências paramilitares.
Tentarão invibializar nosso funcionamento, dividir nossas fileiras e, inclusive, cassar nossa legenda.
Só derrotaremos estas e outras agressões — a começar pela prisão política de Lula — se mantivermos uma linha política correta, o que inclui reconstruir os nossos vínculos com setores da classe trabalhadora que se distanciaram de nós.
Faz parte da defesa do PT o balanço de nossa campanha eleitoral.
Balanço dos acertos (entre os quais destacamos a defesa até o limite da candidatura de Lula), dos erros políticos (entre os quais destacamos o tempo gasto e as concessões feitas no sentido de atrair setores de “centro”, quando mais importante teria sido priorizar a desconstrução de Bolsonaro e a conquista do voto popular) e organizativos (onde se destaca o atraso com que se enfrentou o tema da comunicação nas chamadas redes sociais).
Ao fazer o balanço da campanha presidencial, articulado ao balanço das campanhas para governador, senado e proporcionais, devemos ser os primeiros a apontar nossos erros.
Entre eles, o de não termos conseguido impedir, nem reverter, a conquista de parcelas das classes trabalhadoras pelo discurso neofascista e ultraliberal.
Ao reconhecer erros, não nos furtaremos a desmascarar aqueles que criticam e pedem autocrítica do PT apenas para esconder a contribuição que deram, por ação ou omissão, para o crescimento político e eleitoral da extrema-direita. Inclusive, em alguns casos, não tomando posição explícita na reta final do segundo turno.
A covardia destes contrasta com a valentia de milhares de “famosos” e milhões de “anônimos” que dedicaram tempo, suor e saliva para impedir a catástrofe.
A militância do PT ocupou seu lugar na primeira fila no combate contra o neofascismo ultraliberal.
O PT deve estar aberto para acolher a militância que despertou para a luta desde o golpe, bem como aquela que hoje está abrigada em outros espaços, como o MST e organizações próximas.
No caso do PCdoB, o PT deve abrir um diálogo que permita a este partido contornar os problemas criados pela cláusula de barreira.
Diálogo similar deve ser feito no terreno sindical e das frentes Brasil Popular e Povo Sem Medo, na perspectiva de unificar ao máximo que for possível as forças da esquerda.
O candidato neofascista e ultraliberal ganhou na apuração dos votos, com o apoio da fraude, do arbítrio, da mentira, do abuso de poder econômico e da manipulação midiática.
O período que se inaugura será de imensos desafios e dificuldades. Sem subestimar as dificuldades do governo da extrema-direita, tampouco devemos minimizar o tempo e o esforço que serão necessários para derrotá-lo.
Mas a vitória é possível, se ao lado de uma linha política correta, formos capazes de nos manter como expressão do povo consciente e que luta, da classe trabalhadora, dos movimentos populares e sindical, da cidadania democrática e da militância de esquerda. E se formos capazes de continuar construindo o Partido dos Trabalhadores.
*Valter Pomar (foto) é membro da Direção Nacional do PT. Via Viomundo - Edição deste Blog

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