Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil |
Uns já o vêem no Supremo, uns lhe antecipam a faixa da Presidência. O futuro mais próximo, que tem a ver com as inquietações do nosso presente, não combina com generosidades e por isso é mais silenciado, embora não silencioso.
É significativo que mesmo a celebração do novo passo de Sergio Moro se sentisse compelida, em inúmeros casos, a listar impropriedades da sua conduta de juiz, como a gravação ilegal e divulgação de conversas de Lula, Dilma e outros; a liberação, a seis dias da eleição, de depoimento já antigo de Antonio Palocci contra Lula e o PT, e outras incorreções.
Muitos dos que as citam agora ao tempo de suas ocorrências as aceitaram e até as defenderam.
A gravidade que tiveram é, porém, reconhecida na rememoração a que poucos se negaram.
O passo a mais que Moro dá no seu projeto, como no projeto de que é parte, custa-lhe um bom pedaço do prestígio.
Quanto se fortalece por explicitar sua aliança com Bolsonaro, supondo-se que o saldo lhe seja favorável, tardará a sabermos.
Certo, desde logo, é o inverso: Moro fortalece Bolsonaro. Já o faz na provável maioria da chamada opinião pública, e vai mais fundo.
O problema é que fortalece o pior do esperável de Bolsonaro e seu governo: a combinação de autoritarismo e reacionarismo.
O autor de arbitrariedades hoje reconhecidas até por seus apoiadores terá, como ministro da Justiça, todos os poderes e habilidades da Polícia Federal sob seu controle.
Se, nas ocasiões em que teve direção ministerial criteriosa, a PF não se poupou do chocante, pode ser um instrumento perigosíssimo nas mãos de quem a utilize sem respeito aos limites éticos e legais.
Moro está bem conhecido em poucos dos seus lados e arestas pessoais. Do que sabe e do que pensa, não se tem ideia.
A terra para trabalhar, a necessidade do teto, a vida e o espaço dos indígenas, as milícias já aplaudidas por Bolsonaro, os refugiados, a fauna contrabandeada, enfim, são muitos os problemas sensíveis a cargo do Ministério da Justiça.
Só têm recebido referências sinistras da roda de recém-poderosos. E agora são objeto da depravação que é sua entrega à inexperiência, provável desconhecimento e descaso pelo respeito humano e pelos limites legais.
Em sua negação à passagem para a política, Moro dizia que um cargo político lançaria dúvida sobre “a integridade do trabalho” que fez até então. Integridade que tem o sentido de totalidade como o de retidão.
É o próprio Moro, portanto, na condição de maior autorizado a falar do seu trabalho, quem o põe em dúvida no todo e na retidão. Nesse ponto, não custa concordar com Moro.
Para concordância semelhante ou para confirmar decisões do (ex) juiz, será vergonhoso que, ao julgá-las em recursos, os magistrados tenham o olhar temeroso, oportunista e faccioso que levou à aceitação de muitas das sentenças e medidas inconvincentes de Sergio Moro.
Os altos tribunais estão em dívida com os direitos da democracia.
*Jornalista e membro do Conselho Editorial da Folha.
**Fonte: Viomundo
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