Por Wilson Ramos Filho*
Vamos falar sério?
Se o Bolsonaro cair, se o Mourão cair, se todo o Congresso renunciar (incluam outros “se”, o desejo ainda é livre) o problema continuará o mesmo:
- Os juízes seguirão judicando e destruindo a democracia;
- O MP continuará o mesmo;
- Os médicos, os advogados, os motoristas de táxi não mudarão sua forma de ver o mundo;
- Os empresários permanecerão medíocres;
- Os padres e os pastores pregarão o que sempre pregaram;
- Os meios de comunicação, monopolizados;
- As classes médias ficarão ainda mais reacionárias;
- Quem acreditou em kit-gay, mamadeira fálica, terra-plana, acreditará em qualquer outra mentira;
- Os barnabés insistirão na defesa da meritocracia e dos privilégios conquistados “por concurso”;
- A esquerda se engalfinhará em inesgotáveis disputas exigindo autocríticas alheias … etc … etc.
A lista de abominações não tem fim. Pensemos sobre isso.
O Brasil já não é o mesmo. Vivemos em um país bolsonaro. Sim, de nome próprio, substantivo, bolsonaro agora é adjetivo.
O resultado eleitoral demonstrou que a maioria da população
brasileira é bolsonara, tornou-se bolsonara. Certo, nem todos os 57
milhões que votaram nesta horrenda “maneira de existir” são pessoas
bolsonaras, mas a maioria delas, pelo menos em parte, são muito
parecidas com o Coiso e os três coisinhos, com Damares, com Moro, com
Bebiano, com Queiroz, com os mais de 50 milicos que comandam o país, com
cada um dos medíocres que ocupam os principais cargos no Executivo. A
maioria dos eleitores do Coiso não rejeita a ideologia que ele encarna.
São milhões de Bolsonaros, alguns até mais bolsonaros que o próprio
Coiso ou seu vice.
Temos hoje no Brasil um povo bolsonaro. Isso passa, sempre passa. O
adjetivo não é eterno. Mas demora um pouco. Controlemos nossa ansiedade.
O que teve início nas “heroicas jornadas de junho de 2013” está longe
do fim.
Para que haja condições subjetivas para a transformação dessa
horrorosa sociedade que nos oprime e entristece, são ainda necessárias
algumas condições objetivas e que estas sejam percebidas como
insuportáveis. Os bolsonaros, para nosso otimismo, parecem ter pressa.
Pior seria se viessem com moderação. Afortunadamente moderação bolsonara
é um oxímoro que, ignorantes, eles desconhecem.
Os generais e coronéis no governo são tão mediocremente bolsonaros
quanto o vice, quanto Damares, Moro ou Araujo, tão bolsonaros quanto os
milhões que votaram na proposta que hoje adjetiva o Brasil.
*Wilson Ramos Filho (Xixo), doutor, professor universitário (UFPR/UFRJ)
**Via Jornal GGN
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