Por Alex Solnik*, para o Jornalistas pela Democracia
O rearmamento da população foi um elemento-chave da política nacional
alemã após a chegada ao poder dos nazistas, no início de 1933.
Mas esse não é o único ponto em comum entre o governo nazista e o
governo Bolsonaro, que imitou a sua política de rearmamento exatamente
86 anos depois.
A agenda mais importante do governo, a que o governo acalenta com
mais carinho, não é a reforma da previdência, nem reforma nenhuma; é a
destruição do PT ou o que eles chamam de "comunismo". Hitler também
lutava contra os bolcheviques.
O pilar de sustentação do nazismo era o antissemitismo; o deste
governo é o antipetismo. E isso afeta a todos os brasileiros, não só aos
petistas.
Afeta a democracia brasileira.
Hitler manteve seu poder sustentado pela maior máquina de propaganda
política até então organizada. Não havia WhatsApp, mas já havia fake
news em profusão. O nazismo usou e abusou de fake news o tempo todo para
justificar a guerra e impor o terror por treze anos.
Antes de invadir os países vizinhos, por exemplo, Goebbels espalhou
por todos os meios disponíveis à época a fake news de que os moradores
locais estavam maltratando alemães que moravam lá. Era necessário ir em
seu socorro. O miserável sem escrúpulos tratou de convencer os alemães
de que não era ato de ataque, mas de defesa. Malfeitores e vilões eram
os outros. Os alemães eram puros, não queriam fazer mal a ninguém.
Antes de adotar a Solução Final contra os judeus, antes de
deportá-los para campos de extermínio, Goebbels fez a cabeça dos
alemães. Mandou retratar os judeus, em todos os meios, inclusive em
caricaturas sob encomenda, como sub-humanos, pertencentes a uma
sub-raça, portadores de doenças contagiosas, irremediavelmente viciados
em sexo e dinheiro. Judeu fazia mal. Não podia viver ao lado de puros
alemães. Poderia contaminá-los.
Ainda assim, Goebbels jamais permitiu que fosse veiculado que estavam
sendo castigados ou para onde eram levados. Informava que saíam de
áreas onde moravam alemães para "outras áreas". Nos campos, forçavam as
vítimas a remeter cartões postais contando que estavam sendo bem
tratadas.
Governos autoritários precisam de dois elementos básicos: uma
poderosa máquina de propaganda e um grande vilão. Essa é a fórmula,
ontem, hoje e amanhã.
A criação do WhastApp, do twitter e do facebook dispensou Goebbels.
Não precisa mais de um gênio do mal. A família Bolsonaro dá conta do
recado. Os filhos de Bolsonaro são mais filhos de Goebbels. A fórmula é a
mesma de Hitler: denegrir ao limite os outros e exaltar a si próprios.
Enganar a população com falsos horizontes. E assim manter o poder
discricionário a qualquer custo alegando pretender "salvar o Brasil".
Os bolsonaristas já escolheram os seus "judeus". O que está em curso é
a preparação do terreno para fazer com os esquerdistas em geral – e em
especial com os petistas – o que os nazistas fizeram com os judeus:
convencer a população de que fazem mal ao Brasil. Nessa fase os petistas
são taxados de "ladrões", "criminosos", "vermelhos", "ateus",
"apátridas".
O segundo passo é o extermínio do partido, a destruição de seus líderes.
Na Alemanha, a ofensiva começou pelos judeus, depois atingiu todos os
alemães, que pagaram e pagam até hoje pelas atrocidades cometidas por
Hitler. Aqui está começando pelos petistas.
Nos anos 70, certos intelectuais diziam que os publicitários eram
"filhos de Goebbels". Mal sabiam eles que os verdadeiros filhos de
Goebbels iriam surgir muito mais tarde.
*Jornalista. Já atuou em publicações como Jornal da Tarde, Istoé,
Senhor, Careta, Interview e Manchete. Autor de treze livros, dentre os
quais "Porque não deu certo", "O Cofre do Adhemar", "A guerra do apagão"
e "O domador de sonhos"
- Via Brasil247
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