Fim do embate em favor do filho Carlos enfraqueceu o poder político dos
generais e aumentou a dúvida sobre o papel dos militares dentro do
governo
Foto: Valter Campanato/Agência Brasil |
Jornal GGN* – O presidente Jair Bolsonaro impôs uma
vitória para o filho Carlos sobre os generais ao decidir seguir adiante
com a demissão do ex-ministro da Secretaria-Geral da Presidência,
Gustavo Bebianno. A análise é de Janio de Freitas, na coluna desta
quinta-feira (21), na Folha de S.Paulo.
Pode parecer o contrário, uma vez que Bebiano foi substituído por um
general, Floriano Peixoto, mas Janio destaca que o “batalhão de generais
da cúpula do governo” era quem defendia a permanência do ex-ministro.
Portanto, o fim do embate em favor do filho e vereador enfraqueceu o
poder político dos militares e aumentou a dúvida sobre o papel dessa
frente dentro do governo.
“Bolsonaro pôs-se acima da tutela dos generais, o que era imprevisto e
significa a diminuição deles. Já nos primeiros sinais contra a
permanência de Bebianno, o batalhão empenhou-se em defendê-lo. Indagado
sobre o problema, o vice e general Mourão mostrou-se confiante na
potência do grupo: “Vamos pacificar isso”. Para Bolsonaro, tratava-se de
desconsiderar a firme opinião do filho Carlos, o pitbull, ou seguir o
batalhão tutelar. Bolsonaro impôs aos generais uma vitória para o filho.
Negou-os como força que compartilhe o poder. Bebianno foi demitido”,
arremata Janio.
O
que fica em aberto na análise política são dois pontos: primeiro, o que
o presidente fará com a cota de poder conquistado e, segundo, o que os
militares farão sem o exercício pleno da tutela do poder.
“Tanto pode ser [para os militares] buscá-la no muque, como, bem à
brasileira, seguir “o capitão” nos desatinos —afinal, comprometido na
criação e no antigoverno de Bolsonaro o Exército já está”, avalia Janio.
A fidelidade dos militares para com Bolsonaro aparenta ser o caminho.
Logo após a queda de Bebianno, o vice-presidente e general, Hamilton
Mourão, acusou o ex-ministro de deslealdade.
“Diminuiu uns pontinhos no desprestígio, conseguindo achar que há um
mais desleal que o outro —o ministro que grava na moita “o capitão” ou o
pai que mente com o filho, diante do país, para efetivar uma demissão
de causa duvidosa”, ironiza o colunista se referindo ao fato de a queda
de Bebianno estar mais ligada ao encontro que estava marcado com o
vice-presidente de Relações Institucionais do Grupo Globo, Paulo Tonet,
do que em razão das verbas públicas manobradas pelo PSL e que pode fazer
o partido a responder pelo crime de candidaturas “laranjas”.
Se este último fato fosse responsável pela queda de Bebianno, o
ministro do Turismo, Marcelo Álvaro Antônio, responsável direto pela
gestão dos valores que, supostamente, foram lavadas em candidaturas
laranjas em Minas Gerais, também teria perdido o cargo.
Outro episódio que aumenta a teoria do enfraquecimento da linha
militar no governo foi a decisão na Câmara dos Deputados de derrubar o
decreto que alterou as regras da Lei de Acesso à Informação. Com esse
texto, o governo permitia que ocupantes de cargos comissionados da
gestão também teriam o poder de classificar dados do governo federal
como informações ultrassecretas e secretas.
A proposta foi assinada pelo vice-presidente Hamilton Mourão, quando
presidente interino. “O general Augusto Heleno é dado como o articulador
do decreto”, acrescenta Janio.
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