Por Rodrigo Vianna*
Muita gente se pergunta: onde foram parar os patos
amarelos do golpe de 2016? Outros tendem a ver os caminhoneiros que
param o Brasil como parte do movimento patolino. Estariam arrependidos
do que ajudaram a fazer com o país?
Sobre o tema, tenho dito o seguinte (com base em pesquisas, dados, e também com base em o que ouço nas ruas):
– engana-se quem acha que os patos estão “envergonhados”, ou que
farão um movimento de sensatez, de volta ao “centro”, ajudando a
reconstruir o que Temer/PSDB transformaram em terra arrasada;
– a tendência deles é achar que o diagnóstico da época da derrubada
de Dilma estava certo (“país socialista, estado ladrão, o que vale é a
meritocracia, privatiza tudo, porrada e bomba em esquerdista, fora PT,
morte aos sindicatos, isso aqui não é a Venezuela”) e que Temer/PSDB
foram e são incapazes de fazer o que precisaria ter sido feito;
– essa massa de patos na burguesia (Flávio Rocha/Amoedo e outros são
sintomas da doença), na classe média (“quero meu Brasil de volta”) e na
baixa classe média (taxistas, caminhoneiros, autônomos de todo tipo –
com as exceções de sempre) está à espera de um grito ou toque de corneta
que os reúna em torno de um novo movimento;
– acho que a greve de caminhoneiros começou por uma questão
econômica mas, assim como o passe livre de 2013, pode ser capturada pela
turma que quer dar um reboot no golpe (talvez tirando Temer e
instalando uma junta provisória com Maia, e aparência de legalidade –
garantida e chancelada por Justiça/militares). Parte desse projeto
incluiria aprovar PEC que adie eleições pra 2020. Assim, a
centro-direita ganharia tempo pra fazer a economia andar e pra gestar um
nome palatável nas urnas.
Como disse o Renato Rovai outro dia: se fizerem isso, eles vão tirar a máscara. Golpe ficará mais escancarado.
Não quer dizer que vão conseguir. Há muita divisão do lado de lá. E
há gente já mergulhada em projetos eleitorais (Alckmin e Meirelles)…
A parte mais organizada da elite golpista (bancos/Globo) sacou que ia
dar merda e tentou fazer esse movimento de ajuste no ano passado. Mas
Temer inesperadamente soube resistir.
E agora “eles” (=elite que poderia oferecer um novo “projeto” à massa disforme de patos) estão numa situação muito difícil.
Há um setor que gostaria de manter militares fora disso (não é à toa
que os crimes da ditadura voltaram à pauta, a partir de cima, e com
grande alarde por parte de O Globo). Mas como a elite se mostra incapaz
de formular um plano mais “moderado”, a massa dos patos pode embarcar
num projeto mais maluco – sob apelo de uma intervenção militar.
A elite financeira sabe que seria difícil sustentar isso (um governo
da “ordem”, tutelado por militares e Judiciário) por muito tempo, frente
ao mundo. Mas a bagunça do lado de lá é tanta que já há gente no
mercado topando embarcar numa saída linha dura.
No meio de tudo isso, há o governo morto, apodrecido. Maia já havia
enterrado a privatização da Eletrobras (ultima cenoura que Temer podia
oferecer para se mostrar útil ao mercado). Agora, Temer/Parente foram
para o desespero porque o governo está se desfazendo e toparam remendar a
política de preços do diesel. A concessão veio tarde. Mas pode ser
suficiente para o objetivo medíocre de Temer: ele precisa ganhar tempo
até a Copa. Depois, vem um mês de “pra frente, Brasil”. E na sequência,
eleição (quem sabe…)
Se eu fosse apostar, diria que Temer ainda se segura.
E, de certa forma, pra “nós”, acho melhor que ele fique lá – caindo pelas tabelas.
Se “eles” conseguirem reorganizar o bloco golpista (Temer/MDB são hoje entrave pra isso), a situação pode piorar pro nosso lado.
No voto, eles não vão conseguir. E o timing não ajuda a criar uma situação anômala pra suspender eleição.
Mas isso está na mesa. Há gente pensando e trabalhando com essa
hipótese. A greve caminhoneira surge como aliada (talvez inesperada)
dessa tática amalucada de refundar o golpe em outras bases.
*Jornalista - Editor do Blog Escrevinhador
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