Por Joaquim de Carvalho*
Na sexta-feira, publiquei um
artigo em que explique a natureza do acordo do PT com o PCdoB, que
garantiu à candidatura de Lula quase o dobro de tempo de TV, somados os
segundos do PCdoB, do PROS e do PCO, que integrarão formalmente a aliança.
O acordo também garantiu palanque para
Lula (ele próprio ou quem ele indicar) em mais de dez Estados, e impediu
que o tempo de TV do PSB fosse para algum adversário — neste momento,
pela decisão de Ciro Gomes de marchar sozinho, o PDT se tornou
adversário, não como as candidaturas da direita, como Alckmin e
Bolsonaro, mas adversário, na medida em que o alvo é o mesmo, a eleição
presidencial.
Claro que Ciro e o PT buscarão aliança
mais à frente, pelas inegáveis afinidades de propostas, mas hoje são
adversários — não inimigos.
Por isso, não faria sentido nenhum abrir
mão de um acordo com o PSB para deixá-lo somar forças com Ciro Gomes.
Seria suicídio político ou, por outras palavras, representaria abrir mão
do esforço para voltar a governar o Brasil, retomando o lugar de que Dilma foi tirada pela força da violência institucional, com aparência de legalidade.
No artigo, escrevi que a vaga de vice
estava reservada a Manuela D’Ávila, do PCdoB, e os leitores mais
apressados podem dizer que o lugar foi preenchido por Fernando Haddad —
portanto, errei.
Calma, Haddad só está esquentando o
lugar, que é de Manuela. Então, por que não colocar Manuela agora? Pela
simples razão de que, como vice provisório, falando em nome de Lula,
Haddad pleiteará participar de todas as atividades públicas de campanha,
inclusive sabatinas pelos órgãos de imprensa e debates.
Mas isso Manuela não poderia fazer? É a pergunta pertinente. Sim, poderia.
Mas Manuela é do PCdoB, e, por isso, mais
apropriado, é que alguém do PT fale em nome da chapa, e Haddad preenche
como ninguém este requisito — além de petista, foi ministro de Lula,
coordenou o programa de governo.
A voz de Haddad será a a voz de Lula. Com
esse propósito, é ele quem será registrado como vice. A pergunta óbvia
é: então, Haddad é o candidato a presidente? Por enquanto, não.
O candidato a presidente é Lula e a
aliança levará até a último momento a campanha para que Lula tenha o
direito de disputar a eleição.
Com isso, serão duas as campanhas: Lula
Livre e Lula presidente — no fundo, significam a mesma coisa. Ao
defender Lula Livre, a aliança denuncia o processo violento com que se
tirou o PT do Planalto e, em seguida, em uma ação que teve tramitação
com rapidez anormal e com uma ação judicial sem provas e demonstração de
culpa, se prendeu Lula.
As duas coisas — o impeachment de Dilma e
a prisão de Lula — representam a fotografia do golpe, e é preciso
mostrá-la ao eleitor, o que significa radicalizar a democracia:
demonstrar a torpeza em todos os seus detalhes e dar ao eleitor a
oportunidade de entender que, por conta disso, o alvo não é apenas
Dilma, Lula ou o PT. O alvo é a soberania da nação — afastá-los abriu
caminho para o saque. Não é à toa que o litro da gasolina custava R$
2,90 e hoje está em R$ 5,00.
Lula está tendo seus direitos políticos
roubados, num processo viciado, mas o roubo maior ocorre no bolso da
maioria dos brasileiros.
Se Lula, por conta desse processo, não
puder ser candidato, Haddad será, com Manuela vice. Se Lula puder ser
candidato, Haddad cede o lugar de vice para Manuela. Dois nomes serão
registrados na justiça eleitoral neste momento — Lula e Haddad —, mas
são três os nomes que, informalmente, estão na chapa — além dos dois,
Manuela. É uma chapa com três nomes.
Nunca aconteceu isso antes no Brasil, mas também não é sempre que o Brasil sofre um golpe.
Para combater a violência institucional,
há momentos em que o povo pega em armas. Na escola do PT, isso está
descartado. O que o partido aprendeu a fazer é disputar eleição.
Mostrou que, derrotado nas urnas, sabe
perder. Mas não abre mão do direito de tentar ganhar. E, ao ganhar, usar
o governo como meio de transformar efetivamente o país. No governo já
errou, e muito, mas a costura política concluída neste fim de semana
mostra que o PT e seus aliados mais próximos, como o PCdoB, não
desistiram de tentar.
*Via DCM
Nenhum comentário:
Postar um comentário