Por Fernando Brito*
A manifestação da desembargadora Marilia Castro Neves, dizendo que a vereadora Marielle Franco estava “engajada com bandidos”, que ” eleita pelo Comando Vermelho” e que tem “certeza de que seu comportamento” foi “determinante para seu trágico fim” não é apenas um sinal dos tempos de ódio, que merece ser repudiado por qualquer pessoa que tenha um mínimo de respeito à vida humana e, também, aos mortos.
Ela deve ser chamada a explicar com base em que faz essas afirmações e, se não tem informações para fazê-las senão o que leu “no texto de uma amiga”, responder cível e criminalmente por isso. Além, é claro, do processo administrativo que deve sofrer no Conselho Nacional de Justiça.
Sequer cabe discutir o que ela diz: ou explica porque o disse ou terá de se admitir ter sido uma leviana. E mesmo a segunda hipótese basta para sofrer sanções, porque não é possível que alguém que emite opinião pública sobre assunto tão delicado com tamanha irresponsabilidade seja capaz de julgar pessoas.
O mais grave é que a relativa inação do Judiciário, até agora, mostra que a desembargadora não é apenas uma pústula na Justiça. É apenas a ponta de um iceberg que aqui se apontou: a cumplicidade de parte da magistratura com a manutenção dos esquemas subterrâneos que envolvem a falta de segurança pública, dos quais, muito provavelmente, partiu a ordem de matar Marielle.
Não se está falando aqui de cumplicidade material – embora haja sobre isso, casos conhecidos – mas de cumplicidade moral com a cultura do extermínio legitimado. A dona Marilia não é uma mocinha tresloucada, em favor de quem se possa invocar a ingenuidade de repetir bobagens. Foi a desembargadora depois de quase 20 anos exercendo a função de promotora de Justiça. Imagina-se, pelo teor de ódio irresponsável que exala, com que critérios.
No Facebook, como era de se esperar, ela manifesta seu “apoio incondicional” (incondicional, para quem tem a lei como condição, já mostra muita coisa) a Sérgio Moro e diz que “honra” a sua toga. Estranha Justiça onde honrar a toga é vilipendiar por um “ouvi falar” a memória de uma mulher assassinada.
*Fernando Brito é jornalista. É Editor do Tijolaço, fonte desta postagem.
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