Por Denise Assis*
Há exatos 50 anos tiros tombaram o estudante Edson Luiz, no Centro do Rio. Os disparos que o derrubaram fizeram eco por toda a sociedade brasileira, levando às ruas milhares de pessoas portando faixas e cartazes com os dizeres: “Mataram um estudante. Podia ser seu filho”.
Hoje, tanto tempo depois, as balas do mesmo “sistema” que calou Edson Luiz silenciaram Marielle Franco. É hora de dizer: “Calaram uma vereadora. Podia ser sua filha”; “Calaram uma mulher. Podia ser sua mãe.”; “Calaram uma negra”. Podia ser sua professora”; “Calaram uma ativista. Podia ser sua advogada.” Calaram um ser humano. Podia ser seu vizinho”. Calaram Marielle e ela podia ser o que quisesse. E ela quis muito. E quis, principalmente, ocupar o lugar de voz de uma comunidade oprimida. Marielle falava com e por sua gente, num local onde a violência é o motor de “negócios”, abusos, sentimentos e ressentimentos. Uma máquina em que Polícia e bandidos fazem parte de um moto perpétuo de sangue, tiros, choros e dor.
Sua morte foi visivelmente um doloroso “deboche” à medida marqueteira da intervenção federal adotada por Michel, para empanar um momento em que, livre das investigações através dos leilões de emendas que implementou no Congresso, voltava ao aperto de suspeições em torno do processo de benefícios a empresas que atuam no Porto de Santos. Ele próprio, sim, Michel, declarou: “fui para o tudo ou nada”.
O tudo, é o jogo irresponsável com a vida dos que habitam as franjas de uma sociedade que empurra para as periferias os que têm menos, e podem pouco. O nada, é a saída para casa, para uma vida de conforto e abundância, a bordo de tudo o que recheia as suas contas bancárias. Aquelas, que num momento de fanfarronice típica dos acuados, Michel disse que exibiria à mídia. Não exibiu. O que mostrou foi a face cruel de um país jogado num nível irrespirável de mais violência e que agora chora um cadáver/síntese de tudo o que o seu governo despreza: uma mulher, negra, favelada, que fez o favor de furar o cerco.
*Via O Cafezinho
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